Depois de passar por Holanda e Itália, nos últimos seis anos, a 3ª Conferência Internacional Agricultura e Alimentação em uma Sociedade Urbanizada (AgUrb) terá como sede o Brasil – reconhecido mundialmente como um dos maiores produtores de alimentos. Com participação de 170 especialistas, vindos de 36 países, o evento que ocorrerá em Porto Alegre de 17 a 21 de setembro discutirá duas problemáticas globais: mudanças climáticas e transição nutricional.
A primeira refere-se à emissão de gases de efeito estufa pela agropecuária e a segunda sobre novas concepções de dietas sustentáveis – estimuladas pela mudança de comportamento das pessoas.
– No século passado, o motor da revolução foi a produção, a tecnologia. Agora, as mudanças virão principalmente do consumo – destaca Sérgio Schneider, coordenador-geral do 3º AgUrb, promovido pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
O movimento abrirá mais espaço para diferentes negócios. O professor cita novos modelos de supermercados, food trucks, orgânicos e cerveja artesanal – estimulados por mudança de costumes dos jovens, que buscam distanciar-se dos alimentos industrializados e se aproximar de legumes, frutas e verduras frescas.
Isso não quer dizer que o modelo convencional do agronegócio brasileiro, referência mundial em produção de grãos e carnes, deixará de existir, pondera Schneider:
– O Brasil é um país tropical com uma riqueza e diversidade incríveis. As diferentes formas de produção se complementam.
Além de pesquisadores, o AgUrb reunirá representantes de governos, de instituições internacionais e de empresas. Até agora, o evento soma 800 inscrições.
Entre os conferencistas, estão Guido Santini, conselheiro-técnico do Programa Alimentos para as Cidades da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO); Alison Blay-Palmer, presidente em Sistemas de Alimentos Sustentáveis no Centro Internacional para Governança do Canadá; e Terry Marsden, do Instituto de Locais Sustentáveis da Universidade de Cardiff do Reino Unido.
Para conectar campo e cidade
Para a troca de experiência entre os participantes do 3º AgUrb e a produção local de alimentos, a programação da conferência inclui oito opções de roteiros em um raio de cem quilômetros de Porto Alegre. As propriedades escolhidas contemplam diferentes atores – agricultores familiares, pescadores artesanais, quilombolas e indígenas. As saídas a campo, em propriedades agroecológicas, de turismo rural e assentamentos da reforma agrária, serão no dia 20 de setembro – feriado no Estado.
– Os participantes terão a oportunidade de conhecer de perto os sistemas de produção e o consumo de alimentos seguros – explica Lino de Moura, diretor-técnico da Emater.
Entre os roteiros escolhidos está o Caminhos Rurais de Porto Alegre. No passeio, lugares como a Granja Santantonio, no Lami, no extremo-sul da Capital.
A propriedade é focada na produção de hortaliças orgânicas – vendidas na feira da Redenção e em restaurantes vegetarianos de Porto Alegre.
– Colho bem cedinho e entrego em seguida nos restaurantes, onde as hortaliças são consumidas no mesmo dia, o mais frescas possível – conta o produtor Vasco Moro Machado, que trabalha ao lado da mulher Caren Nunes Soares, responsável pelos processados, como bolo de cenoura.
A propriedade recebe cerca de três mil crianças por ano, a maioria de escolas particulares da Capital. Lá, elas conhecem como os alimentos são produzidos, ganham mudinhas para cuidar em casa, dão uma volta na carreta do trator e experimentam alimentos frescos, como bolos e sucos naturais.
– Já ouvi de crianças que viajaram o mundo todo de que foi o melhor dia da vida delas. Esse intercâmbio urbano e rural é incrível – conta Machado.
3ª AgUrb
De 17 a 21 de setembro, na reitoria da UFRGS.
O evento já recebeu 800 inscrições.
São 80 atividades entre palestras, simpósios, workshops e visitas a campo.
Inscrições a partir de R$ 200.
Programação completa em bit.ly/3AgUrb