No mundo moderno e globalizado do agronegócio e do cooperativismo também é preciso ser mais eficiente e competitivo. Diluir custos e ampliar as margens como forma de remunerar melhor a atividade, seja ela comércio, produto ou serviço, de qualquer que seja a natureza do negócio. Até aqui, nada de novo. A receita é simples e continua sendo a mesma desde o início da humanidade. O desafio está em como fazer, como seguir a regra, colocar a teoria em prática.
A tecnologia tem sido uma aliada fundamental, seja na operação ou gestão do negócio, do agronegócio ou então das cooperativas. Idem para as técnicas e modelos de governança e compliance, empreendedorismo e inovação, que trazem contribuição importante do ponto de vista de inteligência. Mas como conectar tudo isso, implantar uma solução 360º, criar um ecossistema com sinergia, de pessoas e processos, capaz de propor, elaborar e executar, de forma rápida, prática e objetiva?
Mais uma vez, é hora de aprender. E, neste caso, nesta análise, com as cooperativas, em especial as agropecuárias. Seguindo premissas básicas e de conceitos na composição do sistema, as cooperativas Brasil afora têm experimentado, e gostado, cada vez mais, dos projetos de intercooperação. Negócios nos quais duas ou mais cooperativas singulares se unem em prol de um interesse comum, na linha “juntas somos mais” ou "juntas somos mais fortes”. Os principais e maiores cases estão na agroindústria, embora haja experiências em outros ramos do cooperativismo.
Foi-se o tempo, por exemplo, em que cada cooperativa de uma região produtora de leite ou trigo tinha sua própria e exclusiva indústria de processamento. A união para construir uma única unidade de beneficiamento, com capacidade para receber e processar a produção dos cooperados de todas cooperativas, digamos sócias no investimento, customiza recursos, humanos e financeiros, na implantação e operação. Ao mesmo tempo em que maximiza resultados e margens, além de diluir riscos e tornar o negócio mais eficiente e competitivo de ponta a ponta - da produção ao mercado, passando pela indústria e distribuição.
Um dos principais polos de intercooperação do Brasil está na região dos Campos Gerais do Paraná. Há parcerias no processamento de carnes, lácteos, grãos e cereais. Com as sedes administrativas em um raio de 100 quilômetros, as cooperativas Frísia, Castrolanda e Capal beneficiam, juntas, as produções de leite, trigo e suínos de 4.500 cooperados.
Seguindo o exemplo das cooperativas centrais, que recebem, processam e comercializam a produção de várias singulares, os holandeses dos Campos Gerais reinventam, ou resgatam, com maestria, o cooperativismo da intercooperação. As três cooperativas somam 4,8 mil funcionários e um faturamento de R$ 6,5 bilhões em 2017. Neste modelo, não há necessidade de se criar uma central. Apenas uma gestão executiva da agroindústria, preservando assim a identidade das singulares e sua relação com o quadro social.
Duas premissas ou questionamentos básicos levaram essas cooperativas a decidir pela intercooperação. Primeiro porque é preciso transformar e adicionar valor à produção primária. Segundo, porque enfim entenderam que não vale a pena construir uma indústria sozinho, para operar muitas vezes à meia carga, se é possível viabilizar o negócio com escala, diluir custo e risco, na união com outras cooperativas. Além de industrializar a produção dos cooperados, essas unidades industriais processam e embalam a produção para outras marcas. Uma prestação de serviço que afere uma nova receita para as cooperativas, a partir do investimento industrial.
Surge um novo cooperativismo, das cooperativas da nova geração. Porque já não basta produzir. É preciso industrializar. É preciso cooperar. É o momento e o mundo da intercooperação. De pequenos produtores que fazem um grande negócio. Com um potencial multiplicador quase que imensurável, a considerar as mais de 6.500 cooperativas registradas no sistema OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras) no país, de 13 ramos, com 371 mil funcionários e 13,2 milhões de cooperados. Somente as cooperativas do agronegócio faturaram juntas R$ 200 bilhões, em 2017.
Giovani Ferreira é coordenador da Pós-Graduação em Inovação e Gestão Estratégica no Agronegócio da Universidade Positivo (UP)