Na sua terceira safra de soja em Bagé, no Sul, a primeira com estiagem, o produtor Thiago Prevedello constata na prática o peso da tecnologia. Em 750 hectares, dos quais 86 irrigados, o rendimento médio é de 4.200 quilos por hectare (70 sacas) na área com pivô central e 1.200 quilos por hectare (20 sacas) nas áreas sem a tecnologia – três vezes inferior.
– A irrigação tem custo significativo na lavoura. Mas em um ano como esse, com pouca chuva, metade do investimento será recuperada – calcula Prevedello.
Da germinação das plantas em novembro até o ponto de pré-colheita, no começo de março, foram apenas 180 milímetros de chuva, contra 400 milímetros no mesmo período do ano passado. Na próxima safra, o produtor pretende ampliar a irrigação para mais 140 hectares – chegando a quase 30% da área de soja.
– No ano em que comecei a plantar já incluí os projetos de irrigação como forma de estabilizar a produção a médio prazo – conta.
Como técnica de manejo, Prevedello também faz a escarificação do solo (para frouxar a terra em lavouras compactadas) e a correção da terra com gesso e calcário. Um dos desafios é aumentar a quantidade de palhada na lavoura – a totalidade arrendada.
– No sistema de arrendamento, não temos o domínio do inverno, o que acaba prejudicando a produção de palhada – diz Prevedello.
A diversificação do sistema, com manejos integrados entre as produções de inverno e verão, é fundamental para a recuperação do solo, enfatiza Julio Franchini, pesquisador da Embrapa Soja:
– Quando se tem uma boa estrutura de solo, é possível mitigar impactos da estiagem.
Rotação de culturas como aliada para produzir mais
A ordem na propriedade da família Gehring, em Victor Graeff, no norte do Estado, é nunca deixar o solo em pousio e rotacionar culturas – com produções simultâneas no inverno e no verão. Nos 350 hectares cultivados com soja, a rotação com milho é feita em cerca de 30% da área. Entram no sistema também o feijão, o trigo, a aveia e a ervilhaca.
– O cultivo do trigo e da aveia no inverno, por exemplo, faz uma cobertura muito importante no solo, evitando a perda de umidade – exemplifica Carlos Gehring.
Outra técnica adotada é a correção de acidez do solo, ajudando a raiz a atingir até um metro de profundidade – um diferencial em anos de escassez de chuva. Mesmo com um curto período de estiagem na região, cerca de 20 dias em fevereiro, no período de enchimento dos grãos, o produtor está colhendo rendimento médio de 4.200 quilos por hectare (70 sacas).
– É um pouco abaixo do ano passado, mas mesmo assim uma safra muito boa – avalia o agricultor, que administra a propriedade ao lado do pai Abílio Romaldo Gehring e do irmão Rogério Gehring.
Os bons resultados vêm também da agricultura de precisão, aplicada em quase 100% da área. O próximo passo da propriedade familiar, já com projeto em andamento, é implantar a irrigação em parte da lavoura.
– É preciso ter garantia dos investimentos, com alta produtividade – finaliza Gehring.
Como reduzir perdas na estiagem – Norte
- Seguir o zoneamento agrícola de risco climático, que permite a cada município identificar a melhor época de plantio das culturas.
- Utilizar sementes fiscalizadas (legalizadas), com boa germinação e vigor, realizando tratamento com inseticida e fungicidas recomendados para a cultura.
- Escalonar a época de semeadura e usar cultivares de ciclos diferentes. Utilizar densidade de plantas indicada para a cultura.
- Fazer análise de solo e realizar a devida correção e adubação, se necessário.
- Descompactar o solo e fazer terraços, se necessário.
- Estabelecer plantio direto e adotar o sistema de retenção de água na lavoura, com estratégias como plantio em nível e construção de terraços.
- Adotar sistema de colheita e plantio para cobertura permanente do solo e produção de palha.
Como reduzir perdas na estiagem no Sul do RS
- Respeitar o zoneamento agrícola de risco climático, semeando nos períodos indicados por município.
- Usar sementes com alto vigor e sanidade para a germinação rápida e uniforme das plantas.
- Corrigir acidez e fertilidade do solo.
- Escalonar a semeadura e escolher cultivares de crescimento indeterminado, preferencialmente de ciclos médios a tardios.
- Rotacionar culturas no inverno e no verão.
- Em solos compactados, realizar a escarificação/subsolagem no outono, com o mínimo de revolvimento do solo.
- Adotar sistema de plantio direto em conjunto com as técnicas de plantio em nível e terraceamento.
- Armazenar água em grande volume para irrigação da lavoura.
Fontes: Alencar Rugeri, Edison Luis Batista Dornelles e Guilherme Zorzi, agrônomos e assistentes técnicos da Emater