A cada nova safra, surge debate sobre a qualidade do trigo plantado no Estado. De acordo com a Emater, praticamente todas as lavouras são cultivadas com a variedade tipo pão, adequada à necessidade da demanda.
O Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria e de Massas Alimentícias e Biscoitos do Estado (Sindipan-RS) contesta a afirmação.
- Só 10% a 15 % da safra gaúcha é utilizada na panificação - diz o presidente do Sindipan, Arildo Bennech Oliveira.
O impasse é explicado pelo pesquisador Eduardo Caierão, da Embrapa Trigo, de Passo Fundo. Caierão explica que as cultivares usadas no Estado são de boa qualidade, mas o clima e a armazenagem fazem o desempenho cair após a colheita:
- Temos com frequência geadas tardias de primavera e chuva na colheita. Nem sempre se confirma na lavoura a qualidade plantada. Isso ocorre pela interação com as condições climáticas e por problemas na armazenagem.
Para mudar esse quadro, Caierão dá algumas dicas aos produtores.
- Na semeadura, é preciso trabalhar com mais de uma cultivar. Se não for possível, é interessante plantar em épocas diferentes, para não apostar tudo em uma única fase.
Na opinião de José Antoniazzi, presidente do Sindicato da Indústria do Trigo do Rio Grande do Sul, o Estado evoluiu muito nos últimos cinco anos em qualidade de produção:
- Nesse período, quase dobrou a moagem de trigo gaúcho.
Preço do pão ainda deve seguir em alta
Com as boas cotações da atual safra, a redução no preço do pão não deve ocorrer ao menos até a Argentina voltar a vender o produto para o Exterior, afirma Arildo Bennech Oliveira, presidente do Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria e de Massas Alimentícias e Biscoitos do Estado (Sindipan). Ao menos metade do trigo consumido no país é importado. E o cenário é agravado pela quebra da safra no Paraná.
Dados do Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas (Iepe-UFRGS) mostram que o preço do quilo do pão francês subiu em média 10% nos últimos 12 meses.
- A safra é ruim no Paraná não apenas em volume mas também em qualidade. Temos de trazer produto até dos Estados Unidos e do Canadá, e isso tem custo maior. Apenas neste ano já importamos mais de 3 milhões de toneladas - reforça Oliveira.
O empresário credita a alta dos preços a uma falta de política do governo federal para o trigo:
- Precisamos de mais investimento to púbico para estimular a cultura, como preço mínimo. A Argentina, por exemplo, já chegou a produzir 16 milhões de toneladas.
De acordo com a consultoria Safras & Mercados, o governo argentino estima que a safra do cereal nesta temporada será de 8,8 milhões de toneladas. Desse total, apenas cerca de 2 milhões serão destinados para as exportações.
- O saco de pré-mistura para pão francês nos custa atualmente na faixa entre R$ 46 e R$ 50. Em épocas normais, custo é de R$ 25.