O Rio Grande do Sul voltou a registrar "chuva preta" nesta quinta-feira (12). O fenômeno foi percebido em municípios como Alegrete, na fronteira com o Uruguai, e São Luiz Gonzaga, nas Missões.
O fenômeno ocorre quando nuvens de chuva encontram a fuligem das queimadas. Os poluentes dos incêndios florestais no Brasil e em países vizinhos, como a Bolívia, provocam a alteração na cor da água.
— A gente não vai ver uma gota preta caindo do céu. O que acontece é que essa gota vem com partículas de fuligem e, ao se acumular em um balde ou uma piscina, essa fuligem acaba decantando, e é possível ver aquela mancha mais escurecida — explica Henrique Repinaldo, meteorologista do Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
A água da "chuva preta" não é própria para consumo. Especialistas vinculados ao governo do Estado e a universidades estão realizando coletas para análise técnica das propriedades presentes (saiba mais abaixo).
— Essa contaminação, a gente chama de contaminação, porque é um poluente, não é natural aqui do nosso solo. Esse poluente é produto de queima de biomassa, são fuligens. Ninguém quer lavar roupa com esse tipo de água, ninguém quer tomar esse tipo de água. É uma água suja — descreve Repinaldo.
Odor de fuligem
Em Pelotas, no Sul, onde o fenômeno foi registrado na segunda-feira (9), há relatos de que a "chuva escura" veio acompanhada de um forte odor de fuligem.
— As pessoas relataram um cheiro como se tivesse um incêndio apagado. É um cheiro a fuligem, realmente. Então, ela produz um odor quando está em grandes concentrações — afirma.
Em Santa Rosa, no Noroeste, o repórter Everson Dornelles, da RBS TV, fez um experimento. O jornalista captou a água da chuva com um recipiente. Em seguida, ele utilizou um filtro de café para reter as impurezas. O resultado foi um acúmulo de partículas no papel (veja o vídeo acima a água no recipiente).
Coleta de água
A Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) informou que a Fundação Estadual de Protação Ambiental (Fepam) irá realizar a coleta de água da chuva para enviar para análise técnica. Segundo a assessoria de comunicação, a pasta está aguardando volumes maiores de precipitação para dar início ao processo.
O Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) afirmou que já está realizando a coleta, e os primeiros resultados deverão ser divulgados ao final do dia.
Especialistas explicaram que a condição se dá pela interação dos raios solares com a fumaça originada nas queimadas florestais que chegou ao Estado.
A entrada de uma frente fria no RS, a partir de sábado (14), deve dispersar a corrente de fumaça. Com isso, será possível ver o céu claro e na coloração azul novamente, esclarece Repinaldo.
— A partir do sábado, com a entrada de uma frente fria mais potente, digamos assim, sobre o Estado, esse fluxo deve mudar. Desde a fronteira com o Uruguai, se espalhando pelas demais regiões, deve entrar uma frente fria e a gente vai ter um final de semana já com menos nebulosidade, vamos ver o céu azul em muitas regiões, porque isso deve dispersar essa fumaça — explica.