O Rio Grande do Sul já registra o fenômeno da chuva preta em decorrência da fumaça que encobre o Estado, proveniente das queimadas nas regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil, na Bolívia, no Paraguai e na Argentina. Cidades do Sul e da Campanha, como Arroio Grande, São Lourenço do Sul, Pelotas, São José do Norte, Canguçu, Bagé e Rio Grande, observaram a ocorrência dessa precipitação.
A chuva preta é um fenômeno de precipitação com presença de partículas de fuligem. A fumaça vem da Região Norte por meio de um canal de vento. Ela passa pela Bolívia, Paraguai e Argentina, e a condição meteorológica atual faz com que chegue ao Estado, explica Henrique Repinaldo, meteorologista do Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas da Universidade Federal de Pelotas (CPPMet/UFPel).
— Vem da Amazônia e geralmente traz umidade para a Região Sul, mas neste momento está trazendo fumaça — aponta.
A nuvem necessita de partículas de poeira, de umidade e de vapor d’água para se formar. A fuligem é uma partícula que pode participar do processo de formação da condensação do vapor d’água na nuvem. Assim, a condensação já ocorre com essa poluição. A gotícula cresce, forma a gota de chuva e precipita, contendo partículas de fuligem.
— No momento que se forma a nebulosidade, o vapor d’água que se forma dentro da nuvem acaba se formando ao redor dessas partículas de fuligem. A nuvem acaba se formando toda contaminada por essas partículas de fuligem. E, se ocorre chuva, a partícula é trazida até a superfície — resume.
Além disso, a chuva entra em contato com essas partículas em suspensão na atmosfera, o que, consequentemente, favorece essa condição – principalmente quando a gota cai, pois interage com a fuligem, capturando ainda mais, segundo Guilherme Borges, meteorologista da Climatempo. Assim, as gotas chegam ao solo escurecidas. Por outro lado, a chuva remove a sujeira presente na atmosfera e, consequentemente, favorece a limpeza do céu.
Repinaldo afirma que a fumaça está em níveis mais altos da atmosfera, acima de 2 mil metros de altura, e não próxima à superfície. Ela é mais perceptível quando não há nebulosidade.
O meteorologista ressalta, porém, que a gota não cai preta, e que o fenômeno da água escurecida acaba sendo percebido quando ela é capturada em maior quantidade, como em baldes ou piscinas. Por isso, algumas pessoas já observaram o fenômeno, enquanto outras ainda não.
— Deve ter registros de água acumulando em baldes, se não, não vai notar muito. O carro fica um pouco sujo, mas nada fora do normal. Não é uma tintura preta, não vai perceber caindo chuva escurecida — frisa o meteorologista do CPPMet.
Pode ter chuva preta em todo o RS
É difícil precisar em quais regiões o fenômeno ocorrerá, mas poderá ser registrado em todo o Estado, conforme os meteorologistas.
A previsão para o Estado indica que a chuva iniciará nesta quarta-feira (11). Até sexta-feira (13), pode haver registros de chuva preta. No sábado (14), ainda pode haver precipitação próximo à divisa com Santa Catarina. No domingo (15), não há previsão de chuva.
A fumaça segue chegando até o padrão de circulação do vento mudar, o que é esperado para sábado, gerando limpeza momentânea até domingo. Entre domingo e segunda (16), haverá alívio, quando a frente fria começa a se deslocar, levando a chuva e limpando a atmosfera.
A fuligem, entretanto, deve retornar na próxima semana, na terça-feira (17), segundo a Climatempo.