Com a água baixando nos municípios atingidos pela catástrofe climática que atingiu o Rio Grande do Sul, é momento de mapear alternativas para que eventos como esse não se repitam. O especialista em recursos hídricos e planejamento ambiental Carlos Bulhões salienta que é necessário um planejamento conjunto entre os municípios para criar um plano de prevenção às enchentes que englobe toda a área pluvial do Estado.
Reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Bulhões alerta que mesmo que Porto Alegre e os municípios da Região Metropolitana criem muros, diques e mantenham casas de bombas, ainda há riscos se os sistemas não estiverem associados e receberem a manutenção adequada. As ações são caracterizadas como microdrenagem, e a falha no sistema de um município pode impactar na cidade vizinha.
— Não é um receituário de bolo, é um conjunto de coisas. Por exemplo, se Porto Alegre fizer tudo que tem que fazer, desde diques, muros, comportas, casas de bombas, etc, ainda assim está em risco, pois Porto Alegre, assim como Canoas, assim como São Leopoldo, assim como Esteio, que foi citado, eles (municípios) administram bem o que está dentro do seu território, é chamado microdrenagem. No caso de Porto Alegre, é o arroio Feijó, o Lami, o Dilúvio — disse em entrevista ao Gaúcha+ desta sexta-feira (31).
Um dos problemas apontados por Bulhões está nos diques instalados em Porto Alegre e na Região Metropolitana, que carecem de manutenção. O especialista aponta que há vegetação nas paredes dos diques, o que pode contribuir na falha do sistema de proteção.
— Vários diques estão carentes de manutenção, como, por exemplo, a excessiva vegetação nos muros. Eles não podem ter, em nenhum local do planeta isso é permitido. As raízes vão lá embaixo atrás de água e podem destruir o núcleo destas barragens — explicou.
Ainda com relação aos diques, Bulhões alerta para as construções de moradias próximas destas áreas, que deveriam ser proibidas para garantir a segurança das pessoas, muitas vezes em situação de vulnerabilidade socioambiental, e manutenção dos arroios. Ele explica que algumas casas são construídas com suas estruturas apoiadas nos muros, o que deteriora a proteção e dificulta o acesso para a manutenção.
Para Bulhões, além da manutenção e investimentos em um sistema de prevenção que esteja interligado em todas as regiões dos leitos dos rios, é preciso preservar o ambiente. Com o aumento do desmatamento, além de potencializar eventos climáticos extremos, também se diminui as áreas de absorção da água dos rios e da chuva.