A obra de ampliação da faixa de areia na Praia dos Ingleses, em Florianópolis, que teve início no dia 29 de janeiro, tem dividido opiniões. O tipo de alargamento, que durará, em média, 45 dias, já é conhecido dos moradores de Santa Catarina, uma vez que já foi realizada em outras praias, como Canasvieiras, também na capital catarinense, e em Balneário Camboriú. Especialistas debateram o assunto no programa Gaúcha Mais, da Rádio Gaúcha, nesta sexta-feira (3).
Foram ouvidos o prefeito de Florianópolis, Topázio Neto; o diretor da Secretaria de Planejamento de Balneário Camboriú, Toni Frainer; o professor do Instituto de Oceanografia da Universidade Federal de Rio Grande (Furg) João Luiz Nicolodi; o professor do Departamento de Botânica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Paulo Horta; e o doutor em Geologia Marinha e oceanógrafo do Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA) Volney Junior Bitencourt.
Antes de tudo, o prefeito de Florianópolis contou que os turistas e moradores da região têm percebido que a faixa de areia da Praia dos Ingleses está diminuindo. Ele garantiu, porém, que a obra está sendo feita com segurança e que não é necessário tirar os Ingleses da rota das férias, uma vez que os banhistas ainda poderão aproveitar outros trechos da praia durante a obra.
— Em alguns lugares, o mar chega a bater nos muros das casas. Em função disso e com a experiência que temos do engordamento da Praia de Canasvieiras, também em Florianópolis, estamos, neste momento, iniciando a ampliação da faixa de areia da Praia dos Ingleses em até 45 metros. Esse engordamento será feito por 3km de extensão, com preferência para o lado sul da praia, o lado onde ficam os costões e a igreja — acrescentou.
A obra de alargamento da faixa de areia da praia de Balneário Camboriú, feita em 2021, ampliou a orla de 25 para 70 metros. O diretor da Secretaria de Planejamento da cidade, Toni Frainer, afirmou que, após a finalização, a praia está mais democrática, uma vez que agora há espaço para crianças brincarem e para a prática de esportes, o que antes não era possível.
— Além disso, é importante ressaltar que a empresa faz o monitoramento, entregou agora o relatório após um ano. E identificamos que a praia está entrando em equilíbrio. Em uma pequena faixa dos 5,8km alargados, na barra sul, houve um pouco de erosão e de escapa. Chamamos de escapa, o pessoal chama de degrau. E, com as próprias máquinas da prefeitura, fizemos a acomodação da areia e já fizemos o projeto para recuperar esse pequeno espaço. Então, dos 5,8km que foram alargados, somente duzentos metros estão tendo erosão e estamos monitorando — relatou.
Para o professor da Furg João Luiz Nicolodi, esse é um dos pontos negativos da medida. Ele chamou atenção para o fato de que, apesar de o alargamento da faixa ser considerado uma obra branda, sem elementos que transformem permanentemente a linha de costa, é uma obra que necessita de manutenção, como o caso de Balneário Camboriú.
— A partir do momento que você faz uma obra dessas, você precisa de manutenção. Você não está trabalhando na causa da erosão costeira, não está diminuindo a energia de ondas incidente na praia. Então, isso necessita manutenção. Você faz o engordamento de praia, vai ter uma vida útil, de dois, ou quatro, ou seis anos, depende de cada praia. E é necessário, se quiser manter o perfil, uma manutenção. Isso tem o custo bastante elevado, mas evidentemente tem que ser considerado durante a execução do projeto — defendeu.
Já o professor da UFSC Paulo Horta, identificou outros impactos negativos da intervenção que, segundo ele, devem ser levados em consideração na hora de tomar essa decisão. Entre eles, estão aqueles relacionados os lugares que doam e recebem sedimentos. O professor explica que, em muitos casos, esses locais têm a fauna e a flora comprometidas por essas obras.
— Acho que precisamos reconhecer que esses lugares têm um histórico, um passivo depositado ali, uma memória que representa um histórico de poluição orgânica, poluição inorgânica e um conjunto de animais e plantas que ali foram depositando os seus óvulos, propágulos, cistos de resistência e assim por diante. Ao revolver esse material, todo esse histórico está sendo colocado na superfície, com possível poluição das áreas adjacentes por diferentes contaminantes e disponibilização de cistos de algas, especialmente, que podem produzir florações nocivas especialmente para maricultura e para pesca — ponderou.
Volney, o oceanógrafo do IMA, ressaltou que a praia vai precisar de alguns anos para a estabilização desse novo perfil praial. Mas pontuou que, por outro lado, é uma intervenção bastante conhecida e utilizada no mundo inteiro.
— Especialmente em países desenvolvidos, como Austrália e os Estados Unidos, uma vez que se trata de uma intervenção que busca imitar o ambiente natural da praia, diferentemente da construção de estruturas rígidas de engenharia. Já se tratando da fauna, vários estudos mostram alta capacidade de regeneração da mesma no ambiente praial e marinho raso. Por fim, o IMA fiscaliza rigorosamente esse tipo de intervenção, de forma a mitigar os principais impactos da alimentação artificial — concluiu.