Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o oceanógrafo e professor Gerson Fernandino coordena o projeto Antropoquinas, que investiga a formação de rochas sedimentares recentes com a presença de material antropogênico ao longo do litoral gaúcho. O estudo é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapergs) e tem o objetivo de identificar itens de lixo, como tampinhas de garrafa, que formam estruturas com características de rochas sedimentares.
Ou seja, na superfície desses objetos começa a grudar areia (sedimento) por meio de um processo chamado cimentação (o carbonato de cálcio que está na água do mar gruda grão com grão e o lixo fica no meio).
— Tem a característica de rocha sedimentar, que foi formada com registro da ação do ser humano em meio ao processo. Antes, havia só os grãos minerais, as carapaças de organismos e a matéria orgânica. Agora, tem também o plástico. Também vemos as antropoquinas, o que já é um sinal de formação de novos materiais geológicos, como as rochas com itens antropogênicos preservados — explica Fernandino.
Antropoquinas foi a forma como esses novos itens foram batizados pela equipe, em um trabalho publicado em 2020. O nome agora está ganhando espaço na literatura científica internacional. Os pesquisadores da UFRGS estão monitorando as praias de Imbé e Tramandaí, no Litoral Norte, do Balneário Mostardense, no Litoral Médio, e do Cassino e do Hermenegildo, no Litoral Sul, para registrar a ocorrência de macro, meso e microlixo nas praias e sua relação com aspectos geológicos.
No Litoral Norte, principalmente, o oceanógrafo destaca resultados preliminares de um sinal significativo de itens de pesca deixados na areia.
— Nas praias mais frequentadas, não vemos tantos itens vindos do Exterior, mas eles ocorrem também. Os padrões do Norte mudam com relação ao Litoral Sul no sentido das fontes. Nos locais mais turísticos, resíduos como canudos, tampinhas e copos aparecem com maior força. Em locais de atividades de pesca, surgem os itens de pesca. Em locais com saneamento básico deficiente, o que é muito comum em cidades costeiras, observa-se itens como hastes de cotonete jogadas na descarga — relata o pesquisador.
São esses resíduos que, aos poucos, vão inclusive participando da formação de rochas e, assim, tendo também impacto na geologia das regiões litorâneas.