Preocupados com um problema de escala global, pesquisadores da Universidade do Rio Grande (Furg) criaram o projeto Lixo Marinho. Com pesquisa aliada a ações educativas, o grupo aposta em diferentes frentes para combater a poluição nas águas e areias do Litoral Sul. Em três anos de trabalho, o que o grupo viu foi alarmante: a quantidade de resíduos na praia aumenta cada vez mais. O material encontrado vem de diferentes países, descartados por embarcações, mas também de pessoas que não recolhem o próprio lixo quando frequentam as áreas de lazer.
Durante a pandemia, a pesquisa de campo foi paralisada. Mas há previsão de retorno das atividades do projeto Lixo Marinho para os próximos meses. Para Maíra Proietti, oceanóloga e idealizadora do projeto, o que mais a impactou ao longo de três anos de apuração foi a quantidade de lixo existente na orla. Mesmo tirando quase 30 mil itens da praia, toda vez que o grupo voltava, havia mais.
— No trabalho que desenvolvemos no Cassino, fizemos avaliação de pontos próximos e distantes da área urbana. Encontramos mais lixo na parte urbana, principalmente no verão. Foi surpreendente ver que o uso do balneário é a principal fonte de descarte de lixo. As pessoas estão ficando acostumadas com o lixo na praia, está virando parte da paisagem. Isso é extremamente problemático. Quando começamos, tínhamos um pouco de esperança de diminuir o lixo em outros momentos do ano, mas isso não ocorreu. Nos pontos mais afastados, sempre havia algo relacionado à origem marítima, como os derivados da pesca e os resíduos descartados no mar em outras regiões do planeta — comenta Maíra.
Em julho do ano passado, os pesquisadores da Furg apresentaram à Secretaria de Meio Ambiente de Rio Grande o relatório do estudo. A ideia era iniciar um processo de busca de soluções para o problema. Entre as primeiras propostas, estavam a instalação de placas educativas, mais lixeiras e bituqueiras nos cerca de 10 quilômetros de orla urbanizada e um trabalho de educação ambiental com a população. No verão de 2022, motivada pela estudo e em parceria com uma empresa privada, a prefeitura fez a instalação de 200 lixeiras. O secretário ressalta que nos próximos meses a secretaria deverá se reunir novamente com os pesquisadores para uma avaliação e a discussão de novas ações.
— Tentamos minimizar, mas sabemos que é um problema maior. É necessário um pacto global, com reversão de tendência de padrão de consumo, de tipos de embalagens, de conseguir cumprir com o ciclo correto de descarte. De todo modo, temos de fazer nossa parte localmente — afirma Pedro Fruet, titular da pasta.
Assim como o secretário, Maíra não vê a solução para o problema do lixo, principalmente plástico, se não houver uma grande mudança na sociedade. Por isso, considera o desafio ainda maior:
— Precisamos de uma mudança sistêmica, desde a produção até a forma como consumimos. Tem que vir das empresas, dos tomadores de decisão. Precisamos de acordos globais, ações locais, individuais e coletivas. A forma como a nossa sociedade consome não é nada sustentável.