A adolescente que inspirou protestos em defesa do ambiente, o líder indígena símbolo da proteção da Amazônia, o premiê que costurou um acordo de paz entre Etiópia e Eritreia e a primeira-ministra que se nega a falar o nome do atirador que matou 51 pessoas em seu país são alguns dos cotados a receber o Nobel da Paz deste ano.
O vencedor do prêmio mais respeitado do mundo, que reconhece uma iniciativa de promoção da paz, será anunciado nesta sexta-feira (11), em Oslo.
Ao lado da sueca Greta Thunberg, do etíope Abiy Ahmed e da neozelandesa Jacinda Ardern, quem também está em alta nas bolsas de apostas é o líder indígena brasileiro Raoni Metuktire. Ele esteve na cúpula do G7, em agosto, para debater a preservação da Amazônia com líderes mundiais, o que gerou críticas de Jair Bolsonaro.
Durante o discurso na Assembleia Geral da ONU, o presidente brasileiro disse que Raoni é usado "como peça de manobra por governos estrangeiros na sua guerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia".
Primeiro brasileiro a ganhar Nobel?
Se o líder indígena ganhar, ele pode ou não ser o primeiro brasileiro agraciado — depende do ponto de vista. Em 1960, Peter Brian Medawar, nascido em Petrópolis (RJ), levou o Nobel de Medicina.
À época da honraria, no entanto, ele não tinha mais cidadania brasileira, pois teve um problema com o serviço militar obrigatório. Medawar recebeu o Nobel, então, pela Inglaterra, terra de sua mãe, graças ao desenvolvimento de soro capaz de reduzir drasticamente as chances de rejeição em transplantes de órgãos.
Prêmio Nobel da Paz
Para escolher o vencedor entre os 301 finalistas deste ano, os cinco jurados do comitê norueguês se encontraram regularmente entre fevereiro e setembro na sede do Nobel da Paz, na capital da Noruega.
Dos concorrentes, 223 são indivíduos e 78 são organizações. Estão bem cotados o Repórteres Sem Fronteiras, que luta pela liberdade de imprensa e proteção de jornalistas, e o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur).
Trata-se, porém, apenas de apostas, já que não há uma lista pública para consulta. Pelas regras, os nominados só podem ser divulgados 50 anos após o anúncio do vencedor.
História do Nobel
O Nobel foi concedido pela primeira vez em 1901. Inicialmente, eram cinco categorias: paz, literatura, química, física e medicina. Uma sexta — economia — foi adicionada décadas mais tarde, em 1969.
Até a metade do século 20, os vencedores da categoria paz eram "políticos ativos que procuravam promover a paz internacional, a estabilidade e a justiça por meio da diplomacia e de acordos internacionais", explica a premiação.
Desde o fim da Segunda Guerra, o prêmio passou a reconhecer esforços nas áreas de desarmamento, democracia e direitos humanos. Na virada para o século 21, o foco mudou para iniciativas que tentem limitar mudanças climáticas causadas pelo homem.
Alfred Nobel
Entregue apenas a indicados vivos, o prêmio nasceu para cumprir o testamento do químico e inventor Alfred Nobel. O curioso é que, em vida, o sueco ficou conhecido por ter inventado um artefato utilizado em guerras: a dinamite.
Seu pai era dono de uma fábrica de explosivos em São Petersburgo, na Rússia, e foi lá que um jovem Nobel, com pouco mais de 15 anos, descobriu e se interessou pela nitroglicerina, elemento essencial do explosivo.
A descoberta não tinha o objetivo de ser usada em campos de batalha. A ideia inicial de Nobel era que o artefato lhe ajudasse em seu trabalho: como engenheiro, construía pontes e prédios em Estocolmo, e a dinamite poderia implodir pedras para tal fim.
Ele patenteou a invenção nos Estados Unidos em 1867, quando tinha 34 anos. Nas décadas seguintes, fez disso um negócio lucrativo, e no final da vida era dono de 355 patentes, boa parte delas relativas a novas descobertas feitas a partir da dinamite.
Pouco antes de morrer de hemorragia cerebral, aos 63, deixou em seu testamento que 94% de seus ativos deveriam ser destinados à criação de um fundo para premiar iniciativas que ajudassem a humanidade.
O ganhador do Prêmio Nobel leva para casa US$ 930 mil (R$ 3,79 milhões) mais uma medalha de ouro. A cerimônia de entrega é todo dia 10 de dezembro, em Oslo — a data marca o aniversário de morte do criador.
Ganhadores do Nobel da Paz
2018 - Denis Mukwege e Nadia Murad"Denunciaram uso da violência sexual como arma de guerra
2017 - Campanha Internacional para Abolir Armas Nucleares (Ican)"Alertava para o risco de armas nucleares
2016 - Juan Manuel Santos"Negociou o acordo de paz com as Farc
2015 - Diálogo Nacional da Tunísia"Contribuiu para construção de uma sociedade plural no país
2014 - Malala Yousafzai e Kailash Satyarthi" Defesa dos direitos das crianças e à educação
2013 - Organização para a Proibição de Armas Químicas "Defendeu a proibição de armas químicas