O prêmio Nobel de Literatura foi entregue nesta quinta-feira (10) à polonesa Olga Tokarczuk, pela edição de 2018, assim como ao austríaco Peter Handke, um escritor de renome mundial e polêmico, ganhador desta distinção em 2019.
Décima quinta mulher a receber o Nobel de Literatura desde a criação do prêmio em 1901, Tokarczuk foi premiada por "sua imaginação narrativa que, com uma paixão enciclopédica, simboliza a passagem de fronteiras como forma de vida", afirmou em Estocolmo, na Suécia, o secretário da Academia Sueca, Mats Malm.
"Herdeiro de Goethe" para os acadêmicos suecos, Peter Handke é premiado por uma obra "repleta de ingenuidade linguística que explora a periferia e a singularidade da experiência humana".
Este ano o Nobel de Literatura consagrou dois nomes, um para 2018 e outro para 2019, depois que a Academia Sueca adiou o anúncio no ano passado após um escândalo de agressão sexual.
Autora de uma dezena de livros, Olga Tokarczuk, 57 anos, é considerada na Polônia a escritora mais talentosa de sua geração.
Variada e traduzida para mais de 25 idiomas, sua obra vai de um conto filosófico até um romance policial de tom ecológico, passando por um livro histórico de 900 páginas, Os Livros de Jacó (2014). Seu único livro publicado no Brasil foi Os Vagantes.
— Estou surpresa e feliz, e é importante para mim receber o prêmio no momento em que a Academia sueca inicia uma nova era — declarou a escritora à agência sueca TT.
Identificada politicamente com a esquerda, ecologista e vegetariana, a escritora, que geralmente usa dreadlocks, não hesita em criticar a política do atual governo nacionalista conservador do Partido Direito e Justiça (PiS).
Prolífico e polêmico
Olga também parabenizou Peter Handke pelo prêmio de 2019.
— Estou contente que Peter Handke, que eu aprecio particularmente, tenha recebido o prêmio ao mesmo tempo que eu. É formidável que a Academia sueca aprecie a literatura da Europa Central — declarou por telefone ao jornal polonês "Gazeta Wyborcza".
Igualmente engajado, Handke, de 76 anos, publicou mais de 80 livros e é um dos autores de língua alemã mais lidos e traduzidos do mundo.
Publicou sua primeira obra em 1966, As Vespas, antes de se tornar famoso com o livro O medo do goleiro diante do pênalti, em 1970.
— O Nobel de Literatura? Deveria acabar. É uma falsa canonização que não representa nada para os leitores — afirmou Handke há alguns anos.
No entanto, segundo a Academia que telefonou para ele nesta quinta, o escritor afirmou estar muito feliz e assegurou que iria buscar o prêmio — 9 milhões de coroas suecas ( o equivalente a cerca de R$ 3,7 milhões), uma medalha e um diploma — em 10 de dezembro, em Estocolmo.
Handke também é um intelectual que luta contra as convenções, ao preço de enormes polêmicas, principalmente por causa de suas posições pró-sérvias. Em 2006, causou alvoroço ao participar do funeral do ex-presidente iugoslavo Slobodan Milosevic, acusado de crimes contra a Humanidade e genocídio.
Instituição fechada
Nos últimos dois anos, a Academia sueca, que sempre se absteve de trazer a política para seus muros, tem trabalhado, principalmente, para se reconstruir. O Nobel de Literatura foi concedido este ano a dois autores, correspondentes a 2019 e 2018, depois que a atribuição do prêmio no ano passado foi adiada devido a um escândalo sexual.
O escândalo revelou os segredos que ocorriam no interior de uma instituição afetada por intrigas e corrupção. A academia precisou lidar com as relevações de agressões sexuais do francês Jean-Claude Arnault, influente personalidade da cena cultural sueca e que recebia generosos subsídios da Academia. Ele foi condenado a dois anos e meio de prisão por estupro.
Além disso, a concessão do prêmio a Bob Dylan em 2016 provocou raiva e sarcasmo no mundo das letras. Privada do quórum de membros efetivos para nomear um vencedor após uma cascata de demissões, a Academia teve de adiar por um ano a edição de 2018. Foi a sexta vez desde 1901. O último episódio similar havia sido em 1949.