Em seu discurso na manhã desta terça-feira (24) na abertura da 74ª Assembleia Geral das Nações Unidas, o presidente Jair Bolsonaro voltou a defender a soberania do Brasil sobre a Amazônia e criticou a mídia internacional e alguns governantes pelas críticas ao avanço das queimadas neste ano.
— Nesta época do ano, o clima seco e os ventos favorecem queimadas espontâneas e criminosas (...). Problemas qualquer país os tem. Contudo, os ataques sensacionalistas que sofremos por grande parte da mídia internacional devido aos focos de incêndio na Amazônia despertaram nosso sentimento patriótico — afirmou.
Até esta segunda-feira (23), haviam sido registrados 21.761 focos de queimadas no bioma Amazônia pelo sistema de monitoramento de focos ativos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), conforme reportagem do Portal G1.
Bolsonaro afirmou que é uma falácia dizer que a Amazônia é patrimônio da humanidade, e um equívoco, "como atestam os cientistas, afirmar que a nossa floresta é o pulmão do mundo". Conforme Bolsonaro, "valendo-se dessas falácias, um ou outro país, em vez de ajudar, embarcou nas mentiras da mídia e se portou de forma desrespeitosa, com espírito colonialista".
O presidente reclamou da proposta de sanções econômicas feita por um chefe de Estado — sem mencionar especificamente o presidente da França, Emmanuel Macron, ou o líder do Conselho Europeu, Donald Tusk, que levantaram a possibilidade de travar o acordo de livre comércio entre União Europeia e Mercosul em razão da postura do governo brasileiro diante das queimadas.
— Agradeço àqueles que não aceitaram levar adiante essa absurda proposta. Em especial, ao Presidente Donald Trump (Estados Unidos) — afirmou.
Questão indígena
Bolsonaro dedicou o trecho do discurso sobre a Amazônia à indígena Ysani Kalapalo, que no último sábado (21) postou um vídeo de dois minutos e meio em defesa do governo na questão da Amazônia, atribuindo as queimadas ao clima quente e criticando "exageros da mídia". O vídeo foi publicado na conta do Ministério das Relações Exteriores do Brasil do YouTube, com legendas em inglês.
Ysani, moradora de aldeia no Parque Indígena do Xingu, é pró-Bolsonaro e defende o discurso do governo de que há notícias falsas sobre a abrangência do desmatamento e queimada na Amazônia.
O presidente brasileiro rechaçou a hipótese de aumentar para 20% a área já demarcada como terra indígena no país, "como alguns chefes de Estado gostariam que acontecesse", afirmando que hoje 14% da área é dedicada a este fim. Ele afirmou ainda que o índio não quer ser latifundiário pobre em cima de terra rica, e há tentativas de instrumentalizar a questão ambiental ou a política indigenista em prol de interesses políticos e econômicos externos disfarçados de boas intenções.
— Os que nos atacam não estão preocupados com o ser humano índio, mas sim com as riquezas minerais e a biodiversidade existentes nessas áreas — criticou.
Bolsonaro falou que alguns índios são usados como peça de manobra por governos estrangeiros para avançar seus interesses na Amazônia. Mencionou o Cacique Raoni, dizendo que "a visão de um líder indígena não representa a de todos os índios brasileiros". Liderança indígena brasileira de ampla expressão internacional, o cacique Raoni Metuktire tem denunciado a postura do governo brasileiro e afirmado que as declarações de Bolsonaro sobre meio ambiente motivam o desmatamento e os incêndios na Amazônia.