A forte incidência de raios que caiu sobre Porto Alegre na terça-feira (17) fez com que o Aeroporto Internacional Salgado Filho suspendesse operações por pelo menos três vezes ao longo do dia. Em nota, a Fraport, empresa que administra o aeroporto, disse que a interrupção dos serviços ocorreu por medidas de segurança.
Embora o Regulamento Brasileiro de Aviação Civil nº 153, da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), estabeleça que "o operador de aeródromo deve assegurar a interrupção das atividades de abastecimento ou transferência de combustível de aeronave durante a incidência de raios ou tempestades elétricas nas imediações do aeródromo", os trabalhadores aeroportuários que fazem outros serviços em pista, como sinalização para pousos e decolagens, por exemplo, também costumam paralisar atividades quando há alta incidência de raios.
Por meio da assessoria de imprensa, a Anac informou que a norma 153 se aplica somente às ações de abastecimento. Mas há uma resolução do Ministério do Trabalho e Emprego que proíbe atividades gerais de solo "durante tempestades de raio que estejam ocorrendo em distância igual ou inferior a 3 km do sítio aeroportuário". Por essa razão, se houver algum incidente devido a esse tipo de operação, a empresa administradora do aeroporto pode ser penalizada.
— A estrutura metálica do avião serve como escudo para quem está dentro da aeronave, mas, no pátio de um aeroporto, uma pessoa que esteja exposta pode receber uma descarga elétrica, pois os raios procuram por saliências, e não há um capacete ou roupa que possa proteger esse operador. Então, o mais seguro é interromper as operações — explica o piloto Lucas Bertelli Fogaça, coordenador do curso de Ciências Aeronáuticas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Em geral, o ápice dessas tempestades dura de 30 a 40 minutos, segundo o piloto. Mas como o fluxo aeroportuário é intenso, esse tempo é suficiente para causar transtornos. Na terça-feira, pelo menos 42 voos foram afetados na Capital.
No pátio de um aeroporto, uma pessoa que esteja exposta pode receber uma descarga elétrica, pois os raios procuram por saliências, e não há um capacete ou roupa que possa proteger esse operador. Então, o mais seguro é interromper as operações.
LUCAS BERTELLI FOGAÇA
Coordenador do curso de Ciências Aeronáuticas da PUCRS
Fogaça explica que, embora existam diretrizes gerais compartilhadas globalmente, as condições de voo e operação aeroviária durante eventos meteorológicos são regulamentadas de acordo com as características de cada região.
— No Oriente Médio, por exemplo, tempestades de areia exigem cuidados especiais, diferentemente do Brasil, que, pelas características tropicais, tem mais frequência de descargas elétricas — observa o professor da PUCRS.
Como é fora do Brasil
O Guia de Gerenciamento de Riscos de Segurança para Aeroportos, editado pela Federal Aviation Administration (FAA), órgão regulador dos Estados Unidos, recomenda expressamente que "operadores de aeródromos cancelem ou adiem as atividades de pista, quando o sistema de detecção/previsão de raios indicar a probabilidade de ocorrência deste fenômeno num raio de 2 milhas (3,2 km) do aeródromo".
Nos EUA, ficam dois dos cinco aeroportos mais movimentados do mundo: o Aeroporto Internacional de Atlanta é o maior, com circulação de mais de 100 milhões de passageiros ao ano; e o Aeroporto Internacional de Los Angeles é o quarto mais movimentado do mundo, com movimentação de mais de 80 milhões de passageiros. Considerando apenas aqueles cujo destino final é a cidade de Los Angeles, este passa a ser o terminal mais movimentado. Em março deste ano, um voo da Delta Air Lines que partia de Los Angeles para Seattle foi atingido por um raio e precisou retornar ao aeroporto. A companhia relatou à imprensa americana que, somente naquele mês, três jatos que saíam de Los Angeles foram atingidos por raios. A Califórnia sofreu com tempestades extremas no início deste ano.
Em Londres, onde fica o aeroporto mais movimentado da Europa, o Heathrow, com 75 milhões de passageiros ao ano, uma tempestade também causou transtornos a mais de 10 mil passageiros em julho deste ano. Foram centenas de cancelamentos e atrasos prolongados, forçando muitos viajantes a dormirem nos portões de embarque e corredores, não só em Heathrow, mas também nos aeroportos de Gatwick, Stansted e Luton. Situação parecida já havia ocorrido em maio de 2018, quando mais de 20 mil raios foram registrados em uma só noite no Reino Unido, segundo o departamento de meteorologia britânico.