A incidência de raios sobre Porto Alegre afetou, nesta terça-feira (17), a operação do Aeroporto Internacional Salgado Filho. O serviço foi suspenso pelo menos três vezes: entre a 1h30min e às 3h15min, entre as 15h59min às 17h46min e, depois, entre as 18h03min e às 19h36min.
Segundo a Fraport, que administra o aeroporto, por medida de segurança a circulação de pessoas pela pista de pouso e decolagem foi suspensa. Ao todo, 42 voos foram afetados, 20 chegadas, três partidas em que os passageiros já estavam embarcados e 17 partidas. Dois voos foram cancelados em função da condição climática adversa em Porto Alegre.
Passageiros que chegavam a Porto Alegre ficaram retidos dentro das aeronaves e de espaços internos do aeroporto — sem poder deixar o terminal. A delegação do Athletico Paranaense, que disputa a final da Copa do Brasil contra o Inter nesta quarta (18), por exemplo, chegou a ficar quase três horas "presa" em um avião. Depois de pousar no Salgado Filho, às 17h02min, o time e demais passageiros só foram liberados para deixar a aeronave por volta das 20h.
A reportagem de GaúchaZH circulou pelo aeroporto durante duas horas e 30 minutos. Neste período, pelo menos uma pessoa foi autorizada a deixar o local, pois estava passando mal.
Falta de informações e estrutura
Na área de desembarque, as reclamações se multiplicavam. Além da falta de informações sobre o que gerava o problema no local, as familiares e amigos de passageiros também questionavam a falta de estrutura.
Com o filho de dois meses nos braços, Ana Tércia Rovani veio de Gravataí, na Região Metropolitana, para buscar o marido que chegava de Teresina (PI). Ela conta os funcionários do aeroporto não passaram informações sobre o que estava acontecendo. Mas sua revolta não se concentrou apenas nos atrasos para liberação:
— Eu sentei ali (aponta para um guichê que não está sendo usado) para amamentar, e uma funcionária da Fraport me disse para levantar, porque não pode sentar (ali). Eu justifiquei que estava amamentando e ela disse que só pode sentar no chão. É uma falta de respeito absurda. Não há estrutura nenhuma para aguardar aqui — disse Ana, que estava no local há mais de duas horas.
— Tem gente de 70 anos sentada no chão esperando. Por que não trazem aquelas cadeiras móveis? É falta de respeito, de consideração. Nós estamos pagando por esse serviço. É desrespeitoso não ser avisado sobre o que está acontecendo, e não ter a mínima estrutura para essa espera — diz Elisa Maniaudet, que esperava pelo marido há pelo menos uma hora.
Após três horas e meia de espera — contando o tempo dentro do avião e, depois, na área interna — Liana Schmith falou com a reportagem ao sair do portão de desembarque.
— A gente entende que são coisas que acontecem, que é difícil prever. Mas por que não nos explicam o que está acontecendo? A gente é leigo, mas não explicar é subestimar nossa capacidade. Pelo menos isso deviam fazer — contestou. — Lá dentro, tem criança, tem gente de idade esperando, sem saber de nada. Tem pessoas com passagem de ônibus comprada, que já perderam a viagem e não sabem que horas vão conseguir sair daqui, nem por que estão presas. É falta de consideração — desabafou.
Em nota, a Fraport disse que uma norma do Ministério do Trabalho e Emprego "proíbe que as atividades gerais de solo sejam executadas durante tempestades de raio que estejam ocorrendo em distância igual ou inferior a 3 kms do sítio aeroportuário", por isso as atividades foram afetadas.
Confira a íntegra da nota da Fraport
Prezados Passageiros e Público em Geral,
As recentes paralisações das operações de solo do Aeroporto de Porto Alegre, ocorridas nos dias 16 e 17 de setembro, se deram em decorrência do estrito cumprimento ao Termo de Interdição nº. 352896/19082016, lavrado pelo Ministério do Trabalho e Emprego – MTE - no ano de 2016, que proíbe que as atividades gerais de solo sejam executadas durante tempestades de raio que estejam ocorrendo em distância igual ou inferior a 3 kms do sítio aeroportuário.
Tal medida proibitiva foi expedida em face da INFRAERO e uma companhia aérea, contudo, por força do contrato de concessão, foi transferida para a FRAPORT. Esta medida é específica e exclusiva para o Porto Alegre Airport, o que faz com que sejamos o único aeródromo do país obrigado a suspender a integralidade das operações de solo em situações meteorológicas adversas.
A FRAPORT se vê obrigada a obedecer o que restou estabelecido no Termo de Interdição supracitado, contudo destaca que já está avaliando medidas possíveis para contornar a situação. A FRAPORT, permanentemente, solicita que as empresas auxiliares de transporte aéreo e as companhias aéreas façam uso dos equipamentos necessários e adequados.
A FRAPORT reforça aqui o seu compromisso e os investimentos feitos sempre buscando a melhoria da infraestrutura aeroportuária, merecendo ser destacado que o Aeroporto atende todas as normas de segurança operacional.
Cientes da compreensão de todos.
Cordialmente, Fraport Brasil
Confira a íntegra da nota da Seção de Saúde e Segurança da Srtb/RS (Segur/RS)
A Seção de Segurança e Saúde da Superintendência Regional do Trabalho no RS, em face de notícias veiculadas na imprensa e notas públicas emitidas quanto à paralisação de atividades no Aeroporto Internacional Salgado Filho, vem a público esclarecer o quanto segue:
1. A SRTb/RS impôs, em agosto de 2016, interdição sobre o Aeroporto Salgado Filho proibindo a execução de atividades a céu aberto durante ocorrência de tempestades de raios. Tratou-se de medida adotada em resposta a acidente fatal ocorrido após um mecânico buscar abrigo embaixo de aeronave durante tempestade de raios e ser por ela atropelado e morto sob manobras, fato este amplamente noticiado à época;
2. A execução de atividades a céu aberto em aeroportos durante tempestades de raios é proibida por normas nacionais e internacionais de segurança aeroportuária e por manuais de aeronaves, sendo a paralisação de atividades externas por incidência de raios uma rotina comum nos maiores aeroportos do mundo;
3. O Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, em ação anulatória julgada improcedente em 1ª e 2ª instâncias, também confirmou a legitimidade e pertinência da interdição imposta;
4. Em setembro de 2016, trabalho em condições climáticas adversas nas dependências do Aeroporto Internacional Salgado Filho resultou na hospitalização de cinco trabalhadores aeroportuários atingidos por um raio durante manutenção de aeronaves executada a céu aberto. Fortuitamente todos sofreram ferimentos leves, sem sequelas permanentes;
5. Além do risco de atingimento de pessoas por raios, há grave perigo de incêndio e explosão de aeronaves e caminhões-tanque durante operações de reabastecimento executadas sob tempestades elétricas, com potencial de causar acidente ampliado com possível resultado de até centenas de mortes, dentre passageiros, tripulantes aéreos e equipes de apoio em solo;
6. A SEGUR/SRTb-RS reitera a importância da medida cautelar de interdição para evitar a ocorrência de novos acidentes graves no Aeroporto Salgado Filho e espera que a concessionária FRAPORT siga estritamente, como é seu dever legal, as normas de segurança e saúde aplicáveis e as orientações ministradas oportunamente pela Inspeção do Trabalho, a fim de minimizar riscos de acidentes e evitar transtornos aos passageiros.