Os raios que riscaram o céu de Porto Alegre nesta terça-feira (17) fizeram com que as operações de solo do Aeroporto Internacional Salgado Filho fossem canceladas por diversas horas. O que chamou a atenção, porém, foi que o motivo não era uma possibilidade de acidente aéreo. Ocorre que, em casos de alta incidência de "descargas elétricas atmosféricas", no jargão técnico, o risco é maior para funcionários que trabalham na pista, bem como para passageiros, ao deixarem as aeronaves, do que para os aviões durante o voo.
Conforme o site da Agência Nacional de Avião Civil (Anac), os efeitos dos raios em uma aeronave em voo são diferentes dos os efeitos sobre alvos no solo em grande parte devido à falta de aterramento, o que impede a corrente de causar todo o potencial de dano.
Como a fuselagem das aeronaves é feita de metal, a incidência de um raio produz o efeito chamado de "Gaiola de Faraday", que é a distribuição elétrica potencial uniformemente sobre a superfície do metal. Em razão disso, os efeitos danosos das descargas para os componentes internos se tornam mais reduzidos.
Geralmente, o raio atinge o nariz do avião e a descarga percorre toda a extensão até voltar à atmosfera pela cauda. A temperatura da fuselagem aumenta, mas não há efeitos internos.
Ainda de acordo com a Anac, os principais riscos quando uma aeronave é atingida por raios são " ignição do vapor de combustível dos motores, falhas e danos em equipamentos eletro/eletrônicos, incluindo sistemas de comunicação, navegação, elétrico, controle e atuadores, dano mecânico, entre outros". Porém, as aeronaves possuem equipamentos nas pontas das asas que ajudam a eliminar as cargas estáticas acumuladas ao longo de um voo, minimizando os efeitos dos raios nos aviões.
A ocorrência do fenômeno não é rara. Estima-se que, nos Estados Unidos, cada aeronave comercial seja atingida por um raio ao menos uma vez ao ano. A última queda registrada por esse motivo, todavia, foi em 1963. Fenômenos em torno do raio, como as cortantes de vento, são potencialmente mais perigosos para o voo.
Em solo, a situação muda e o risco com a ocorrência de raios aumenta consideravelmente para as chamadas "equipes de rampa". Sobretudo porque os funcionários trabalham em áreas planas e abertas, ficando mais expostos ao fenômeno. Nesse caso, conforme relatório 131 do ACRP (em português, Programa de Pesquisa Cooperativa Aeroportuária), de 2015, todas as "atividades de rampa", incluindo desembarques, devem ser suspensas se houver detecção ou previsão de raios a uma distância de duas milhas (3,2 quilômetros) do aeroporto.
Em nota justificando a paralisação das atividades de solo em Porto Alegre, a empresa Fraport cita ainda o Termo de Interdição nº. 352896/19082016, lavrado pelo Ministério do Trabalho e Emprego em 2016, que cita a proibição das atividades nesse mesmo raio de três quilômetros em torno do aeroporto.
Em 22 de julho 2017, um operador do aeroporto da Flórida, nos Estados Unidos, ficou ferido ao ser atingido por um raio que atravessou a fuselagem de um avião na pista.