Na madrugada do último sábado (6), a ressaca do mar do Litoral Norte derrubou, aproximadamente, 30 metros da mureta da plataforma de Atlântida, em Xangri-Lá. Parte do guarda-corpo tombou, e outros segmentos chegaram a ser empurrados por dois metros. Agora, a Associação dos Usuários da Plataforma de Atlântida (Asuplama) luta para mobilizar a comunidade gaúcha e angariar os R$ 80 mil necessários para reconstruir a parte danificada da estrutura, que chega a receber 25 mil visitantes por ano.
O plano inicial era consertar as avarias o mais cedo possível, porém, nesta segunda-feira, a Marinha esteve no local e interditou a área. A entidade deu prazo de oito dias úteis para que a Asuplama apresente um laudo técnico que comprove a segurança da plataforma e um projeto de recuperação do lugar que é ponto de lazer e pesca. A Patrulha Ambiental da Brigada Militar (Patran) também esteve no local e fez as mesmas exigências da Marinha.
A expectativa da Asuplama é de que essas exigências sejam atendidas até quinta-feira (11). Um engenheiro deve ir até a área para analisar a plataforma e emitir o laudo que aponta a real situação do ponto turístico. O grande problema enfrentado pela associação é a questão financeira: a entidade quer alterar o tipo de material usado no guarda-corpos para que a estrutura não fique tão frágil a futuras ressacas do mar gaúcho, mas isso implica um investimento de R$ 80 mil.
Construída em janeiro deste ano a pedido do Corpo de Bombeiros, a fim de aumentar a segurança para os visitantes, a mureta foi feita com concreto e tijolo vazado. José Rabadan, presidente da Asuplama, explica que a corporação deu um prazo de 30 dias para a associação fechar as laterais da plataforma, que tem 270 metros. Em função do prazo e da falta de verba, na época, foram utilizados tijolos.
— O problema é que este tipo de material impede a passagem de água. Queríamos ter feito um fechamento tubular de toda a extensão da plataforma, mas isso levaria 10 meses e não tínhamos dinheiro — observa.
Opções para levantar a verba necessária
Para conseguir a verba necessária para os reparos de agora, o grupo planeja algumas ações. Uma das estratégias é apostar no voluntariado de pessoas que se disponibilizem a fazer um vídeo para mostrar a situação da plataforma e, com isso, sensibilizar a população a doar dinheiro para a reforma. Outra alternativa seria criar uma vaquinha online e vender título remido (aquele em que o sócio, ao pagar uma única cota, fica desobrigado de fazer qualquer outra contribuição) no valor de R$ 5 mil. A execução destas ações seria desenhada em uma reunião que ocorre nesta terça-feira (9), explica o presidente da Asuplama:
— A gente não vai abandonar a plataforma. Contamos com ajuda de parceiros. Até mesmo o engenheiro que fará os laudos tem relação de amizade conosco que se sobrepõe ao lado comercial — diz ele.
Rabadan afirma que a prefeitura de Xangri-Lá não oferece nenhum tipo de apoio financeiro para a manutenção da plataforma. O secretário de Turismo da cidade, Eduardo Jardim, reconhece que a edificação é o principal atrativo do município, mas diz que o repasse de verbas não é de responsabilidade pública.
— A plataforma é particular, não temos como dar este aporte. Somos parceiros na panfletagem e campanha para tentar angariar mais sócios, mas verba pública não podemos colocar — afirma Jardim.
Associação está em déficit
As medidas para arrecadar a verba são necessárias pois a Asuplama está com as contas no vermelho. Atualmente, a associação conta com 200 sócios pagantes que arcam com uma mensalidade de R$ 100, mas os investimentos em manutenção da plataforma e o pagamento de salário mais impostos dos sete funcionários da entidade já ultrapassam o valor arrecadado, diz Rabadan.
— Precisamos arrecadar cerca de R$ 10 mil a mais por mês. Para se ter uma ideia, 20 anos atrás, tínhamos, aproximadamente, 1,5 mil sócios pagantes. Hoje, temos 200. A situação está muito difícil. Tivemos que fazer três chamadas extras no início do ano para fazermos o guarda-corpos, e isso motivou as pessoas a desistirem da associação. Precisaremos da ajuda da comunidade — afirma o presidente da Asuplama.
Ele ressalta ainda que o mês de julho é o pior para o caixa da instituição e que as contas começam a se equilibrar a partir de setembro, quando o litoral torna-se mais atrativo para a pesca:
— O que nos salva é o restaurante (chamado de Nordestão) e a renda oriunda das visitas no verão, caso contrário, não conseguiríamos fechar as contas.
Quase 50 anos de resistência
Construída em 1970, a plataforma é construída em formato de "L", e o braço norte é o trecho frontal da estrutura. Ele fica todo dentro da água, a uma altura aproximada de cinco metros em relação ao nível do mar. A edificação faz parte de um grupo seleto das seis plataformas de pesca existentes no Brasil.
A queda de parte da mureta neste final de semana não foi o único baque sofrido pela construção. Em maio de 1997, uma ressaca no mar derrubou o braço sul da plataforma de pesca. Em outubro de 2016, uma outra forte ressaca atingiu, desta vez, o braço norte da edificação. Nesta ocasião, as muretas de proteção foram derrubadas e a ligação com a parte principal da plataforma foi prejudicada.