Imagens do socorro a uma tartaruga-verde resgatada na Praia do Trapiche, em Penha, no litoral catarinense, pelo Projeto de Monitoramento das Praias da Bacia de Santos, mostram o momento em que a veterinária retira um pedaço de plástico que obstruía as vísceras do animal. O resgate ocorreu na semana passada e a tartaruga, que foi recolhida em estado grave, continua recebendo cuidados na Unidade de Estabilização de Animais Marinhos do projeto.
O quadro em que o animal foi encontrado denuncia a interferência humana nos oceanos: baixo peso, alguns ossos expostos, ferimentos e sinais de afogamento.
— A tartaruga come o lixo e isso tende a obstruir o sistema gastrointestinal, o animal fica fraco. Ela tenta se alimentar, mas não consegue. Vai emagrecendo, e fica nesse estado — diz o professor André Barreto, da Univali, coordenador do projeto e doutor em Oceanografia Biológica.
O Projeto de Monitoramento das Praias da Bacia de Santos, que é uma contrapartida da Petrobras para exploração de petróleo e gás, acompanha os resgates de animais, vivos ou mortos, que aparecem entre o litoral de São Paulo e Santa Catarina. Em caso de morte, é feita autópsia para compreender melhor qual o impacto humano sobre a vida marinha.
Em 30 meses de projeto, os técnicos registraram o encontro de 14,8 mil tartarugas. Apenas 1,5 mil estavam vivas quando chegaram às praias.
As tartarugas-verdes estão entre as maiores vítimas da ação humana porque são animais de hábitos costeiros, que se alimentam de algas, e confundem facilmente o plástico com a refeição. Das tartarugas-verdes recolhidas pelo projeto, 16% tiveram a morte comprovadamente relacionada ao homem, causada por lixo ou pesca. Mas pelo menos 50% das autópsias revelam lixo entre as vísceras das tartarugas.
Além do lixo que fica na areia — o que aumenta muito durante a temporada de verão — as tartarugas também são impactadas pela má gestão dos resíduos sólidos.
— A maior parte das cidades não tem aterro. Se não tem tratamento adequado, a chuva leva para o rio, e do rio para o mar. Isso demora muito pra desmanchar, e animais maiores vão ingerir — alerta Barreto.
O especialista alerta que o problema pode ser ainda maior do que os pesquisadores conseguem mensurar:
— Esse é o problema que estamos vendo. Mas quantos animais morrem embaixo da água e não conseguimos sequer saber? — questiona.