Um cientista chinês diz ter criado os primeiros bebês editados geneticamente do mundo, feito inovador, mas que gerou uma enxurrada de críticas e provocou abertura “imediata” de investigação pela Comissão Nacional de Saúde da China, segundo a agência oficial Xinhua.
O professor universitário He Jiankui disse em vídeo no YouTube que as gêmeas, nascidas há algumas semanas, tiveram DNA alterado para impedir que contraiam HIV.
O professor, que estudou em Stanford, nos EUA, e trabalha em um laboratório na cidade de Shenzhen, no sul da China, disse que o DNA dos bebês foi modificado usando CRISPR, uma técnica que permite aos cientistas remover e substituir uma fita com precisão. O desenvolvimento foi divulgado no domingo (25) em um artigo publicado pela revista MIT Technology Review.
O cientista disse que os bebês, conhecidos como “Lulu” e “Nana” (nomes fictícios), nasceram através da fertilização in vitro regular, mas usando óvulo especialmente modificado antes de ser inserido no útero:
— Logo após injetar o esperma do marido no óvulo, um embriologista injetou uma proteína CRISPR/Cas9 encarregada de modificar um gene para proteger as meninas de uma futura infecção pelo HIV.
A ética da edição genética
O vídeo de Jiankui provocou um debate acalorado na comunidade científica. Alguns especialistas lançam dúvidas sobre o avanço, e outros acreditam que seja uma forma moderna de eugenia.
É um grande golpe para a reputação global e o desenvolvimento da pesquisa biomédica na China. É extremamente injusto para a grande maioria dos acadêmicos chineses que são diligentes em pesquisa científica e inovação.
CIENTISTAS CHINESES
em cimunicado
A edição genética é uma correção potencial de doenças hereditárias, mas é extremamente controversa porque as mudanças seriam passadas para as gerações futuras. Só é permitida nos Estados Unidos em pesquisas de laboratório.
A pesquisa foi fortemente criticada por cientistas e instituições chinesas. A universidade onde Jiankui trabalha disse que ele estava em licença não remunerada desde fevereiro e que sua pesquisa é uma “grave violação da ética e das normas acadêmicas”.
“Este trabalho de pesquisa foi realizado pelo professor He Jiankui fora da escola”, disse a Universidade de Ciência e Tecnologia do Sul em comunicado divulgado nesta segunda.
Uma declaração conjunta de um grupo de cem cientistas na China criticou os resultados e pediu uma melhor legislação sobre a fertilização in vitro. “É um grande golpe para a reputação global e o desenvolvimento da pesquisa biomédica na China”, disse o comunicado postado na plataforma de mídia social Weibo, que ainda afirma: “É extremamente injusto para a grande maioria dos acadêmicos chineses que são diligentes em pesquisa científica e inovação”.
O relatório de edição genética de embriões humanos para a resistência ao HIV é prematuro, perigoso e irresponsável.
JOYCE HARPER
Professora de genética e embriologia humana na University College London
Outros cientistas em todo o mundo foram críticos. Alguns disseram que um vídeo do YouTube era uma maneira inadequada de anunciar descobertas científicas, e outros alertaram que a exposição de embriões e crianças saudáveis à edição genética era irresponsável.
— O relatório de edição genética de embriões humanos para a resistência ao HIV é prematuro, perigoso e irresponsável – disse Joyce Harper, professora de genética e embriologia humana na University College London.
He Jiankui deve participar de uma conferência mundial em Hong Kong na quarta (28) e na quinta-feira (29). Ele não respondeu a um pedido de entrevista da AFP. Também não houve retorno de consultas aos organizadores da conferência de Hong Kong, e não está claro se eles estavam cientes do trabalho de Jiankui.
Em vídeo no site da conferência, o biólogo e presidente da cúpula internacional David Baltimore afirma: “Nunca fizemos nada que mudará os genes da raça humana, e nunca fizemos nada que terá efeitos que persistirão através das gerações”.