A Polícia Civil indiciou quatro pessoas que teriam participado do sequestro e confinamento de um empresário de 60 anos de São Leopoldo. Eles são suspeitos de praticar os crimes de extorsão mediante sequestro, tortura, porte ilegal de armas, receptação dolosa de veículo automotor e adulteração de sinal identificador de veículo. O documento foi remetido ao Poder Judiciário em 3 de setembro.
Uma mulher e dois homens indiciados estão presos preventivamente. O dono do imóvel onde o cativeiro funcionava segue foragido. Segundo a polícia, nenhum suspeito quis se manifestar em depoimento.
Além dos indiciamentos, uma nova fase da investigação teve início na última semana. A polícia busca descobrir se há outros envolvidos e o motivo pelo qual o empresário foi escolhido como alvo da ação criminosa.
O crime
Por volta das 12h42min do dia 19 de agosto, um empresário de 60 anos teve o carro parado por três pessoas na cidade de São Leopoldo, no Vale do Sinos. Duas delas, que estavam armadas com um fuzil e uma pistola, retiraram o homem de dentro do carro e o forçaram a entrar em um automóvel Chevrolet Cobalt.
Os criminosos usavam uniformes falsos da Polícia Civil e tinham giroflex (sirene) acoplada no carro. Na sequência, os bandidos anunciaram o sequestro e pediram resgate de R$ 22 milhões.
Logo depois, o grupo também teria contatado a família da vítima, a partir de um aparelho celular, para realizar extorsões. Assim que o contato foi realizado, os familiares procuraram a polícia para comunicar o ocorrido. A partir disso, os trabalhos policiais tiveram início.
O homem foi levado pelos suspeitos para uma casa em Taquari, a cerca de 96 quilômetros da Capital. Durante cinco dias, o empresário teria sido submetido a cárcere e tortura.
Ele relata ter ficado no porão da residência, com os pés acorrentados, as mãos atadas por lacres, os olhos e a boca tapados por uma fita. Tampões foram usados para que ele não pudesse escutar ruídos externos e uma caixa de som teria sido utilizada para desorientá-lo.
Por volta das 15h30min do dia 23 de agosto, após o avanço da investigação, uma operação da Polícia Civil localizou o cativeiro e efetuou o resgate. A vítima se encontrava em condições de higiene precárias quando foi libertada. O empresário também apresentava escoriações nos punhos e uma fratura na costela, consequências da violência a qual foi submetido.
Conforme a polícia, os suspeitos não conseguiram obter ganhos financeiros com a ação.
As prisões
As investigações levaram à identificação de possíveis veículos envolvidos no caso e localidades suspeitas. No dia 22, Thais Francine Puziski Ferreira, 20 anos, foi localizada enquanto dirigia um dos veículos que estariam envolvidos no crime. Ela foi presa em flagrante por extorsão mediante sequestro e teve a detenção homologada e convertida em preventiva.
No dia seguinte (23 de agosto), a polícia localizou na BR-116 um automóvel Kia Cerato, que também estaria envolvido no crime. O condutor tentou fugir dos agentes, mas foi abordado na rodovia. No interior do carro estavam Eder Barbosa Ferreira Júnior e Vanderlei Luciano Machado, que foram presos em flagrante.
Segundo a polícia, Machado usava nome falso. Ele estava foragido desde julho após romper a tornozeleira eletrônica e seria conhecido por ter ligação com a facção paulista PCC (Primeiro Comando da Capital). Com a dupla, foram apreendidas drogas e duas armas. Um quarto participante ainda é procurado.
Contraponto
A advogada Juliana de Paula, que representa Vanderlei Luciano Machado e Maicon Becker (proprietário da casa), enviou uma nota para a reportagem. Confira abaixo na íntegra.
Enquanto Advogada de Maicon e Vanderlei, saliento que embora estejam indiciados, não houve a formalização da denúncia oficial pelo Ministério Público. Assim que houver o devido oferecimento da denúncia, a defesa se manifestará de forma técnica e detalhada, reiterando o compromisso com a transparência e o respeito ao devido processo legal.
Reforço que, até o momento, os fatos estão sob apuração, eis que ainda há diligências sigilosas em andamento pelos órgãos de investigação. Reforço que qualquer julgamento prematuro deve ser evitado, em respeito à presunção de inocência.
Juliana de Paula, Advogada Criminalista.
A reportagem também contatou a advogada Taynah Paz, que defende Thais Francine Puziski Ferreira e Eder Barbosa Ferreira Júnior. A defesa enviou uma nota. Confira:
A Defesa de Éder Barbosa Ferreira Junior e Thais Francine Puziski Ferreira, vem se manifestar através da presente nota, esclarecendo que embora tenha ocorrido o indiciamento por parte da Autoridade Policial, ainda não houve oferecimento da denúncia pelo Ministério Público, sendo que neste momento não há que se falar em autoria delitiva, tendo em vista que sequer iniciou a fase de instrução criminal, onde serão apurados os fatos. Importante ressaltar que em favor dos investigados figura o Princípio da Presunção da Inocência, o que a Defesa irá sustentar ao longo desta ação penal, para demonstrar a inocência de Eder e Thais, garantindo a eles a voz dos seus direitos legais e jurídicos.
Porto Alegre, 11 de setembro de 2024.
Taynah da Rosa Paz
Advogada OAB/RS 118.141