Há três anos, um enigma encobre a família de Luciana Faleiro Heinze. Na época com 47 anos, a advogada criminalista desapareceu em 30 de setembro de 2021, enquanto visitava a mãe no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre. O último rastro de Luciana foi a visualização de uma mensagem no WhatsApp, às 12h27min daquele dia. Desde então, não houve mais sinais do seu paradeiro. Com a investigação policial ainda em andamento, a família continua lidando com a angústia de não saber o que aconteceu.
— A esperança é a última que morre. Queremos encontrá-la, acima de tudo, bem. Mas se ela foi morta, que seja solucionado. Essa coisa de desaparecimento é a pior coisa que tem. É um vazio que dói muito — conta Roberta Heinze, 43 anos, uma entre os oito irmãos de Luciana.
A ausência de Luciana impactou a saúde mental e física dos familiares. O pai da advogada, que se mudou para o nordeste do país, adoeceu após o sumiço da filha. Hoje ele não recebe informações sobre o caso para não agravar a sua condição de saúde. A mãe, que vivia no apartamento onde Luciana foi vista pela última vez, deixou a residência e foi para uma casa de repouso.
— Eu nem sei como explicar o que realmente a gente sente. É uma saudade, uma indignação, uma esperança, uma tristeza. É um misto de sentimentos — diz Roberta.
Investigação
A Polícia Civil já ouviu 28 pessoas, analisou filmagens de câmeras de segurança e refez os passos de Luciana em Florianópolis (SC), onde a gaúcha residia. Também já foram feitos pedidos judiciais e de quebra de sigilo à Justiça. De acordo com o delegado Thiago Lacerda, da Delegacia de Investigação de Pessoas Desaparecidas (Dpid), três novas testemunhas serão ouvidas na próxima semana. O objetivo é verificar se os novos personagens sabem de algum elemento que ajude a localizar a advogada ou esclarecer se houve homicídio.
Duas principais linhas de investigação permanecem abertas: uma considera o caso como desaparecimento, enquanto outra tenta desvendar se Luciana foi assassinada. Em dezembro de 2022, uma denúncia sugeriu que a advogada teria sido morta, mas foram feitas buscas a um possível cadáver, que não foi encontrado. A hipótese de sumiço voluntário é descartada pela família.
— A gente comenta que ela não desapareceu por vontade própria. Ela é uma pessoa que não ia conseguir ficar sem se comunicar com ninguém, e nunca mais tivemos notícias dela. Ela simplesmente sumiu — relata Roberta, que também não acredita que pessoas de Santa Catarina estejam envolvidas no crime.
Luciana, considerada pela irmã uma profissional dedicada, atuava na defesa de acusados em casos criminais. Embora ela não comentasse sobre os processos em que trabalhava, a família acredita que o desaparecimento possa ter relação com a atuação profissional. Antes de sumir, Luciana teria perdido prazos de um cliente que estava sendo atendido por um delito criminal.
— Ela amava o trabalho. Era a vida dela. Ela estava sempre na porta de delegacia e de presídio. Ela adorava defender as pessoas que eram acusadas injustamente e até quem era realmente responsável. Ela dizia que todos têm o direito de defesa — afirma a irmã.
Havia cerca de duas semanas que a advogada estava no Rio Grande do Sul. Ela teria vindo para reencontrar amigos e familiares, além de resolver questões profissionais. Embora vivesse fora do RS, Luciana mantinha processos criminais tramitando em Porto Alegre. Quando saiu da casa da mãe naquela manhã, disse que pretendia ir ao fórum. Câmeras de segurança captaram o momento em que ela deixa o prédio.
Familiares registraram o desaparecimento só dois dias depois. Segundo a irmã, Luciana costumava sair com frequência com amigos e, após o término de um relacionamento, vinha passando períodos na casa de diferentes pessoas. Durante os cerca de 15 dias que ficou em Porto Alegre, a advogada estava hospedada na casa da mãe. Apesar disso, ela "não parava em casa", o que dificultou a identificação do desaparecimento.
Conforme a investigação, a advogada fazia uso de cocaína e álcool, o que gerava problemas de convivência com amigos e parentes. Roberta, no entanto, relata que nunca presenciou Luciana alterada por possível uso de substâncias e que já havia questionado a irmã sobre a utilização de entorpecentes. A advogada teria negado o uso das drogas e relações com o tráfico.
A desaparecida
Nascida em Venâncio Aires, no Vale do Rio Pardo, Luciana foi descrita como ativa e alegre. No dia do desaparecimento, havia feito uma corrida logo pela manhã. Na última conversa que teve com Roberta, estava empolgada por viver em Santa Catarina.
— Ela estava animada por morar perto do mar. Disse que era o que sempre quis — afirma.
Além do trabalho, Luciana adorava ler, passear com amigos e visitar parques. Apaixonada por animais, havia adotado, quatro anos antes, uma cachorra chamada Zora, que agora está sob os cuidados de Roberta.
Luciana foi inspetora da Polícia Civil, mas pediu exoneração para viver na Europa. Ela residiu em Zurique, na Suíça, com seu então companheiro por cerca de 10 anos. Durante esse tempo, costumava fazer pequenas viagens para conhecer cidades vizinhas. Após a separação, voltou para o Brasil e passou a atuar como advogada criminalista.
Desde o início de 2021, vivia em Florianópolis, mas mantinha processos em Porto Alegre. Luciana teve um novo relacionamento e, após o término, passou um período alternando a moradia entre a casa de amigos e parentes. O ex-companheiro também já foi ouvido pelos policiais.
Como colaborar
Informações que ajudam na elucidação dos casos podem ser repassadas pelo WhatsApp (51) 98416-7109 ou pelo Disque Denúncia, no 181.