Uma agente penitenciária de 29 anos, investigada pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) por suspeita de tráfico de drogas e ingresso de materiais ilícitos na Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba (PEFG), já havia sido condenada por tráfico antes da sua nomeação. A servidora foi alvo de operação do 2° Núcleo Regional do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), com apoio da Corregedoria-Geral da Susepe, na quinta-feira (5).
A agente foi aprovada em concurso em setembro de 2021. Um mês antes, em agosto, ela havia sido condenada em primeira instância pelo crime. Na época, o juiz definiu que ela cumprisse pena de cinco anos em regime semiaberto.
Segundo a promotora de Justiça que coordena a investigação, Maristela Schneider, a defesa da agente recorreu da decisão na época e a aprovação no concurso ocorreu enquanto o recurso estava em análise.
A reportagem de Zero Hora solicitou informações à Susepe acerca do motivo pelo qual a nomeação da agente não foi indeferida, dado o histórico criminal na análise de vida pregressa. A entidade ainda não se manifestou. A servidora deve ser afastada do cargo nos próximos dias.
Conforme a promotora, a investigação atual apontou que a agente auxiliava na entrada de itens na penitenciária, como maconha, celulares, tablets e relógios eletrônicos. Em troca, ela recebia pagamentos de diversas formas a partir de duas detentas.
— As presas pagavam, por exemplo, conserto de veículo, tatuagens e outros itens que a investigada consumia. Eles eram pagos diretamente pelas detentas ou por familiares dessas presas. Eram emitidos também boletos de pagamento de uma escola de idiomas do qual a investigada é sócia, mas o dinheiro era revertido para ela — explica Maristela.
A escola de idiomas está localizada no município de Palmitos, no oeste de SC. Segundo a promotora, a outra sócia da escola é a companheira da investigada e gerencia o local.
Detalhes da investigação
Mandados de busca foram cumpridos na quinta-feira em Canoas, na Região Metropolitana, onde reside a investigada, na Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba, na sede da escola em Palmitos (SC), além de locais de Porto Alegre e Frederico Westphalen, no norte do Estado, em residências de suspeitos de envolvimento no esquema.
Na ação, foram apreendidos um celular e uma pequena quantidade de maconha e drogas sintéticas na casa da investigada. Outros celulares foram apreendidos nas casas de familiares das presas que são suspeitos de articular, organizar e efetuar os pagamentos. O material apreendido está sendo analisado.
O processo iniciou há cerca de três semanas, quando denúncias motivaram uma revista geral na penitenciária de Guaíba. Na ocasião, a Corregedoria-Geral da Susepe apreendeu telefones e drogas. A partir da análise desses itens, foram quebrados sigilos para apurar a participação da agente no esquema. Os resultados motivaram a operação deflagrada na quinta.
O Gaeco apura ainda ações da investigada que apontam sinais de gastos acima da sua faixa salarial. Por exemplo, em uma viagem de cruzeiro no início do ano com outra pessoa e a compra de passagem áerea e ingresso para um festival de música no Rio de Janeiro, além de estar procurando um veículo para comprar. A investigação aponta, neste momento, para crimes de tráfico de drogas, corrupção ativa, prevaricação, favorecimento real e associação para o tráfico.
Além das denúncias sobre a penitenciária, o Ministério Público também recebeu informações da Polícia Civil de Santa Catarina. Conforme a promotora, uma arma pessoal da agente foi localizada em uma cena de crime após ter sido utilizada para a execução de um integrante de facção catarinense em Chapecó. A arma não tinha registro de furto ou roubo.