Há um ano e dois meses, Samuel Eberth de Melo, 41 anos, viajou de Minas Gerais para o Rio Grande do Sul e desapareceu. O corpo do empresário mineiro foi encontrado dias depois em Santo Antônio da Patrulha, no Litoral Norte. O então sócio dele, Diego Gabriel da Silva, 29, e o genro Wellington Luiz Rodrigues da Silva, 23, são acusados de terem arquitetado e executado o crime. Os dois seguem presos e devem ser interrogados pela Justiça no final da próxima semana.
O empresário, que vivia em Belo Horizonte, mantinha espécie de sociedade com Diego no ramo de revenda de automóveis. Para a acusação, o crime teria sido arquitetado porque a vítima passou a desconfiar do sócio. Em razão disso, o mineiro viajou até o Rio Grande do Sul para tratar pessoalmente do assunto. No início de junho do ano passado, ele chegou a Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, e se hospedou em um hotel.
No dia seguinte, Samuel parou de responder a familiares. O último contato foi feito por uma mensagem de áudio enviada à namorada, na qual disse que não estava achando os carros que tinha enviado e estava desconfiado. Ao longo de nove dias esteve sumido, até o corpo ser localizado. O então sócio e o genro acabaram presos de forma preventiva.
Os dois respondem por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, por ser um crime cometido para assegurar a impunidade de outros delitos e uso de recurso que dificultou a defesa da vítima) e ocultação de cadáver — já que o corpo foi escondido. Diego ainda é acusado de posse e porte ilegal de arma de fogo de uso permitido. O criminalista Jean Severo, responsável pela defesa dos réus, afirma que eles negam terem cometido o crime.
A primeira audiência do caso foi realizada ainda em abril, quando começaram a ser ouvidas testemunhas. Uma nova sessão está agendada para 16 de agosto, às 14h, quando devem ser ouvidas as últimas testemunhas e possivelmente interrogados os réus. Ao final desta etapa, chamada de instrução, caberá à Justiça definir se os dois devem ir a júri pelo assassinato do empresário.
R$ 5 milhões
Segundo a investigação do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Samuel e Diego se conheceram durante a negociação de veículos, tornaram-se amigos e parceiros comerciais. O réu teria conquistado a confiança do mineiro, que passou a enviar veículos ao RS para que fossem vendidos. A estimativa é de que Samuel tenha repassado, em uma última leva, pelo menos 44 veículos, com valor estimado em R$ 5 milhões.
Conforme a acusação, o crime aconteceu em 2 de junho do ano passado, quando a dupla teria matado o empresário a tiros. Naquela tarde, Diego teria levado o empresário mineiro a bordo de um veículo até a zona rural de Santo Antônio da Patrulha. Para isso, teria usado a desculpa de que eles buscariam um automóvel na propriedade. No local, teria acionado o genro para que lhe auxiliasse no crime.
Naquele mesmo dia, o sócio teria comprado duas pás, uma enxada, dois pares de luva e três metros de lona preta. Para a polícia, esses itens foram usados com o intuito de ocultar o corpo da vítima. A nota da compra, no valor de R$ 234,20, foi apreendida pela polícia. Na propriedade, o sogro e o genro teriam atirado contra a vítima, que foi atingida no tórax, no abdômen e na nuca. Depois disso, Samuel teve o corpo enrolado numa lona e enterrado na área rural na Estrada Bom Retiro.
O que diz a defesa
O advogado Jean Severo é responsável por representar os réus no processo. Segundo o criminalista, a defesa ainda está na fase de estudar o caso.
— Eles se dizem inocentes e a defesa vai demonstrar isso no processo — afirma.
Cronologia
2023
- 2 de junho – Empresário mineiro desaparece após viajar para Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. A última vez em que foi visto com vida foi num posto de combustíveis em Taquara.
- 6 de junho – É preso o primeiro suspeito de envolvimento no sumiço do empresário. Investigações seguem tentando localizar a vítima.
- 10 de junho – É preso um segundo suspeito de participação no desaparecimento. No mesmo dia, o corpo do empresário é encontrado numa área rural de Santo Antônio da Patrulha, no Litoral Norte
- 3 de julho – A Polícia Civil conclui o inquérito sobre o desaparecimento e morte do empresário. Indicia o sócio dele Diego Gabriel da Silva e o genro Wellington Luiz Rodrigues da Silva.
- 28 de julho – O Ministério Público denuncia os dois por homicídio triplamente qualificado, por motivo torpe, para assegurar a impunidade de outros crimes e recurso que dificultou defesa da vítima, além de ocultação de cadáver. O sogro ainda é acusado de posse e porte ilegal de arma de fogo de uso permitido.
- 2 de agosto – A Justiça aceita a denúncia do Ministério Público e os dois se tornam réus no processo.