O ex-policial militar Ronnie Lessa, preso desde março de 2019, disse que aceitou matar a vereadora Marielle Franco (PSol) e o motorista Anderson Gomes, no dia 14 de março de 2018, com a promessa de muito dinheiro e da chefia da milícia do Rio de Janeiro. O depoimento do matador de aluguel foi revelado pelo Fantástico neste domingo (26), que teve acesso exclusivo à delação.
Às autoridades, Ronnie contou como foi feito o convite para participar do crime, garantindo que estava sendo "chamado para uma sociedade", sobre as reuniões com os mandantes do crime e onde elas aconteciam.
Mandantes e promessa de 20 milhões de dólares
O assassinato teve como mandantes os irmãos Domingos Brazão, ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro e seu irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão (União Brasil - RJ). Ronnie Lessa confessou que, como pagamento, ele e um dos seus comparsas receberiam dos irmãos Brazão o Macalé (apelido do ex-PM Edimilson de Oliveira), que é um loteamento clandestino que fica na Zona Oeste do Rio. A área é avaliada em em milhões de reais.
– Era muito dinheiro envolvido. Na época, daria mais de 20 milhões de dólares. A gente não está falando de pouco dinheiro [...] ninguém recebe uma proposta de receber dez milhões de dólares simplesmente para matar uma pessoa –, contou.
Ainda de acordo com o depoimento do ex-PM, o loteamento ainda serviria para angariar votos para a milícia local.
– A questão valiosa ali é a manutenção da milícia, porque a manutenção da milícia vai trazer votos. Ali, eu não fui contratado como um matador de aluguel, eu fui chamado para uma sociedade.
No relatório das investigações, a Polícia Federal afirmou que não foi possível encontrar evidências concretas de planejamento para ocupar a área. Ronnie não disse quando o empreendimento fora da lei aconteceria, mas que ele seria um dos donos com poder que poderia se refletir, inclusive, até em eleições.
– Teria a exploração de muita coisa que a milícia explora. E a questão valiosa é o depois, a manutenção da milícia que teria que ser forte, explica Ronnie.
Segundo a delação, eles se reuniram três vezes. Na conversa, Marielle era citada pelos Brazão como um entrave para o esquema.
–Ela (Marielle) havia convocado reuniões justamente para falar sobre esse assunto, para que não houvesse adesão a novos loteamentos da milícia. E nos encontros que tínhamos, o Domingos falava mais e o Chiquinho concordava. E os encontros sempre aconteciam à noite em uma avenida escura, propício para um 'encontro secreto', que a situação pedia – disse Ronnie.
Também tiveram participação
Além de Ronnie Lessa e dos irmãos Brazão, o ex-chefe da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, Rivaldo Barbosa, também está preso por suspeita de envolvimento com o crime.
O ex-policial militar Élcio Queiroz; o ex-sargento do Corpo de Bombeiros Maxwell Simões Corrêa, o Suel; e Edilson Barbosa dos Santos, dono de um ferro-velho no Morro da Pedreira, também estão presos.
Ainda de acorod com Lessa, Rivaldo recebia pagamentos desde 2017 para “auxiliar” no crime.