O grupo que frustrou o veraneio de ao menos 13 pessoas no Rio Grande do Sul é alvo de uma operação nesta quinta-feira (4). Os investigados, alguns deles presos, aplicavam o chamado golpe do falso aluguel, em que ofereciam imóveis para locação por temporada no Litoral Norte, mediante transferência de parte do pagamento pela estadia, mas os anúncios não passavam de trapaça.
A operação cumpre oito mandados de busca e apreensão conta indivíduos investigados por integrar o grupo criminoso. As medidas são cumpridas em Bagé, principalmente dentro de uma galeria do Presídio Regional, e em Caçapava do Sul, em residências de outros membros da quadrilha. Os mandados buscam apreender documentos, objetos eletrônicos e celulares que possam ajudar no avanço da investigação.
A ação é coordenada pela Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos e Defraudações (DRCID), que pertence ao Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), da Polícia Civil. A ofensiva começou por volta das 6h30min.
Conforme a polícia, o grupo aplicou golpes em dois verões seguidos, de 2022/2023 e 2023/2024. As vítimas passaram a procurar a polícia em dezembro de 2022, afirmando que, após terem pago parte do valor do aluguel de casas, foram bloqueadas nas redes sociais e não conseguiam mais contato com os supostos proprietários das residências.
Um investigação foi aberta em dezembro de 2022, e a polícia verificou que o grupo voltou a agir no verão de 2023/2024.
Foram identificadas ao menos 13 vítimas de diferentes cidades gaúchas. A polícia acredita que mais pessoas tenham sido enganadas pela quadrilha, mas que não tenham procurado as autoridades. Das vítimas identificadas, há relatos de prejuízos de R$ 350 e R$ 500, mas também de valores mais altos, como R$ 1,5 mil.
Golpe aplicado por presos
Foram identificadas oito pessoas que participavam dos delitos, sendo que cinco delas estão presas — todas têm passagem por tráfico de drogas. Ao menos três integrantes dividem a mesma cela no presídio de Bagé. No local, são feitas buscas nesta quinta. Os demais envolvidos seriam familiares dos presos.
A polícia afirma que um dos presos é o principal beneficiado do grupo, o que mais receberia valores em conta. Ele seria a liderança da quadrilha.
Golpistas entravam em contato com vítimas
Os delitos eram cometidos por meio de redes sociais, segundo a polícia. As vítimas postavam, em grupos, que procuravam por imóveis para aluguel por temporada no Litoral Norte, e os criminosos entravam em contato individualmente, oferecendo residências.
O grupo oferecia imóveis no Litoral Norte e na Costa Doce, em cidades como Torres, Capão da Canoa, Arambaré e São Lourenço. Um dos anúncios chegou a ofertar uma residência em Bombinhas (SC).
Com perfis falsos, eles participavam de grupos de aluguéis por temporada, segundo o delegado João Vitor Herédia, que comanda a DRCID:
— Eles buscavam por postagens de pessoas que procuravam imóveis e aí chamavam as vítimas individualmente. Esperavam a vítima postar e depois a chamavam no privado, oferecendo o que ela estava procurando, mandando fotos da casa. Aí falsificavam contrato de locação, conta de luz, para dar uma aparência de licitude. Mas era tudo mentira, as casas, em regra, existem, mas nunca foram deles.
Ainda de acordo com o delegado João Vitor, eram os presos que faziam o contato com as vítimas, criando perfis falsos.
— A maioria está presa por outros crimes, violentos. Em regra, se utilizam do estelionato, do golpe, para, de dentro da cadeia, conseguirem fazer um dinheiro extra, por meio do uso de celulares. Os três integrantes que estão soltos, em princípio, atuavam recebendo valores nas contas e repassando para os demais integrantes.
Para a conclusão da suposta locação, exigiam um sinal de 50% do valor total. Após o pagamento, as vítimas eram bloqueadas e não conseguiam mais contato com os estelionatários, segundo a polícia:
— Eram bem ardilosos, mandavam áudios forçando um sotaque colono, de um senhor de idade, tentando ganhar confiança. Em um dos casos, afirmavam que a casa era de um bombeiro, usavam esses detalhes.
Investigações
Diretora à frente do Deic, a delegada Vanessa Pitrez pontua que o departamento "tem priorizado cada vez mais o combate às fraudes eletrônicas" cometidas por meios virtuais e uso da internet.
Ela ressalta que o estelionato virtual recebeu "tratamento legal diferenciado a partir de 2021", tendo a pena aumentada para de quatro a oito de reclusão, enquanto o estelionato simples possui pena menor, de um a cinco anos.
— O golpe dos aluguéis, objeto da operação desta quinta, é um tipo de fraude virtual que cresce no período do veraneio e faz muitas vítimas, gerando grande prejuízo a elas e proporcionando rápida e alta lucratividade aos autores. Temos a expectativa de que, a partir desta operação, iremos descobrir muito mais vítimas desse grupo, além das 13 que já temos comprovação. Hoje, demos uma resposta a este tipo de criminoso, mostrando que ele não se esconderá atrás de uma tela de celular ou computador. Será encontrado e devidamente responsabilizado por seus crimes — avalia Pitrez.
Denuncie
Denúncias e informações sobre crimes podem ser encaminhadas, de forma anônima, ao Deic por meio do Disque-Denúncia, no telefone 0800-510-2828.