Em uma queda expressiva, Porto Alegre conseguiu reduzir um dos crimes considerados mais comuns em vias urbanas. Nos últimos oito anos, os registros de roubo de veículos caíram em 88% nos meses de novembro. Foram 798 casos naquele mês em 2015, contra 97 no período neste ano. Ou seja, o número de delitos despencou de cerca de 26 ao dia para três.
No acumulado desses anos, também há redução na Capital. Entre janeiro e novembro de 2015, foram 8.632, uma queda de 84% na comparação com o mesmo período em 2023, que teve 1.319.
Ao analisar dados de períodos específicos dos últimos anos, a retração é ainda mais significativa na cidade. No mês de agosto de 2015, foram contabilizados 1.007, que ainda aumentou para 1.044 em setembro daquele ano. No sentido oposto, 2023 registrou, três vezes, o menor número de roubos de veículos para qualquer mês dos últimos 13 anos. Dois dos recordes foram obtidos de forma consecutiva: em outubro, que teve 86 casos na Capital, e depois em novembro, com os 97 episódios. Antes disso, julho de 2023 era o de números mais baixos na série histórica, com 100 casos.
— Foram meses consecutivos com dois recordes históricos em Porto Alegre. Tivemos um outubro com o menor número de roubo de veículos para um mês desde 2010. Depois, em novembro, o segundo menor número. É uma conquista muito importante, que deve ser comemorada — pontua o delegado Eibert Moreira Neto, diretor da Divisão de Investigação do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
O delegado afirma que as equipes vêm trabalhando para intensificar ações contra o crime durante o fim de ano, no intuito de reduzir ainda mais os indicadores de 2023.
A diminuição em Porto Alegre também puxa para baixo os números do Estado. Nos meses de novembro, foram registrados 1.546 casos em 2015, contra 253 no período de 2023, uma retração de 83%. No acumulado do ano, foram 16.618 roubos de veículos de janeiro a novembro de 2015 no RS, contra 3.371 no período em 2023, uma queda de 79%.
De acordo com as forças de segurança do Estado, a redução é fruto de diferentes fatores, e foi obtida em um trabalho conjunto entre Polícia Civil, Brigada Militar e Instituto-Geral de Perícias (IGP).
Diretora do Deic, a delegada Vanessa Pitrez elenca as ações realizadas pela Polícia Civil que levaram à queda. Entre elas, destaca o fortalecimento do inquérito policial por meio do "aumento considerável de coleta de provas técnicas e periciais", que "garantem a manutenção das prisões e a futura condenação". Segundo ela, também houve aumento de 25% na elucidação de roubos de veículos em Porto Alegre, na comparação com o ano passado: de janeiro a novembro deste ano, foram 474 investigações remetidas à Justiça com autoria; no mesmo período em 2022, foram 379.
Além disso, as equipes focam em desmantelar "toda a cadeia criminosa" desse delito, apurando não só roubo e a clonagem do veículo, mas também os receptadores. A diretora cita também um aumento no número de prisões e de operações contra os grupos que atuam no crime.
Titular da Delegacia de Roubo e Furtos de Veículos (DRV), do Deic, a delegada Caroline Jacobs explica que, historicamente, a maioria dos casos ocorre na zona norte da cidade, e o cenário se mantém assim mesmo com a redução nos crimes.
— Essa região propicia a saída da Capital, tem várias rotas de fuga, como para Canoas, Viamão, Alvorada. Se torna um ponto atrativo para o delito.
Segundo Caroline, a maior partes dos roubos de veículos na Capital ocorre quando a vítima está chegando ou deixando algum local.
— Geralmente, o que mais vemos é na chegada e saída, como da residência ou do trabalho, quando a vítima está mais vulnerável. Ou quando alguém está descendo do veículo, carregando o porta-malas.
Cercamento eletrônico
Caroline destaca também o ganho possibilitado pelo cercamento eletrônico em Porto Alegre. O sistema consiste em um conjunto de câmeras de videomonitoramento, instaladas em pontos estratégicos da cidade, como grandes avenidas e vias de acesso e saída da Capital.
Quando um roubo acontece, o sistema de cercamento é programado para buscar o automóvel, por suas características. Se ele passa por alguma das câmeras, o cercamento capta essa imagem e demais informações sobre o trajeto dele, que são repassadas às equipes, para que possam distribuir as unidades pela cidade e efetuar um cerco aos criminosos.
— É uma estrutura que ajuda tanto à Civil quando à Brigada Militar, e que nos possibilita, em muitos casos, uma pronta resposta de localização do veículo, levando a prisão em flagrante de envolvidos. Toda essa tecnologia vem nos auxiliando muito — pontua Caroline.
Perícia identifica vestígios de criminosos
Outra mudança é que, em maio, os automóveis roubados e recuperados passaram a ter novo destino: a sede do Deic, e não mais o depósito do Detran. Assim que o veículo chega ao departamento, equipes do IGP são acionadas, para fazer a coleta de vestígios. O departamento afirma que, na sede, consegue fazer uma preservação melhor do veículo, aumentando a eficácia das perícias.
— Os carros são recolhidos ao pátio do DEIC para realização imediata de perícia, que ocorre duas a três vezes por semana, conforme ajuste entre as equipes. Isso resulta em um alto índice de papiloscopias (que analisa impressões digitais) positivas, que se transformam em provas técnicas para abastecer a investigação. A nossa intenção, com essas novas medidas, foi acelerar e qualificar ainda mais a investigação destes roubos — diz a diretora.
Os registros de ocorrência também passaram a ser feitos no local, e não mais nas delegacias distritais, possibilitando reunir casos e agilizar investigações.
O papiloscopista Eduardo Stumvoll, do IGP, é um dos responsáveis pelo trabalho de perícia nos automóveis. Para ele, além da melhor preservação do veículo pelo Deic, o avanço da tecnologia também trouxe benefícios:
— Com o incremento tecnológico, hoje temos trabalhado com câmeras fotográficas muito melhores, de lentes ultra-potentes, que nos permitem captar imagens muito mais nítidas, de mais qualidade.
À frente da SSP, o secretário Sandro Caron comemora os números em baixa e destaca que o RS vive um momento de queda também em outros tipos de delitos, como homicídios e latrocínios.
— Esta redução significativa dos roubos de veículos é resultado do trabalho integrado dos órgãos de segurança, com destaque para o reforço do policiamento ostensivo e preventivo realizado pela Brigada Militar e para o aumento de prisões e ações realizadas pela Polícia Civil, que vêm asfixiando o crime organizado — resume Caron.
Brigada Militar destaca taxa de recuperação
À frente do Comando de Policiamento da Capital (CPC), da Brigada Militar, o coronel Luciano Moritz também atribui a queda ao "esforço coletivo e plural" das forças de segurança. Como fatores importantes para a redução, ele também pontua o comprometimento das equipes, o trabalho de inteligência policial, o investimento em tecnologia e o cercamento eletrônico, além de ações diárias de combate aos criminosos.
O coronel destaca ainda a taxa de recuperação dos veículos roubados na Capital, de 77%.
— Há dias em que não temos nenhum carro roubado na cidade, isso de um montante de cerca de 900 mil veículos registrados na cidade, sem contar a frota flutuante, dos condutores que apenas visitam ou transitam pela Capital. Costumo dizer que é um trabalho construído a várias mãos. No caso do comando de policiamento, contamos com um grupo especializado, que trabalha 24 horas por dia atacando todos os elos, que envolvem desde o furto e o roubo até a receptação de automóveis. Por meio do serviço de inteligência, as áreas foram mapeadas e os grupos criminosos, identificados, resultando em prisões e apreensões de veículos — afirma Moritz.
Denúncias
O Deic disponibiliza telefones para que a população denuncie atos suspeitos e ajudem no combate ao crime. As informações podem ser repassadas de forma anônima, por meio dos números 0800 510 2828 ou (51) 3288-9800.