No topo da pirâmide de um braço de uma facção criminosa investigado pela Polícia Civil e alvo da Operação Triunvirato desencadeada nesta sexta-feira (6) estão três irmãos. Vinicius Antônio Otto, conhecido como Vini da Ladeira, Eduardo Otto e João Paulo Otto foram alvo de mandados de prisão preventiva. O primeiro está segregado na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), mas teve nova prisão decretada. Os outros dois não tinham sido localizados até o fim da manhã.
O bairro Morada do Vale 2, em Gravataí, foi um dos epicentros das dezenas de mandados cumpridos nessa sexta-feira. Essa é uma das áreas, segundo a polícia, dominada pela facção criminosa, sob o comando do trio. À frente da investigação que resultou na Operação Triunvirato, a titular da Delegacia de Homicídios de Gravataí, delegada Fernanda Amorim diz que a apuração conseguiu, ao longo dos últimos três anos, traçar a atuação de cada um dos envolvidos, entre eles os três irmãos.
— Vinicius Otto, o Vini da Ladeira, está recluso desde abril de 2015 e incessantemente ele vem comandando todos aqueles que são seus subalternos dentro da organização criminosa. Ele é o líder máximo dessa organização atualmente porque ele é o mais atuante. Não é o mais capitalizado, porém é o que detém maior influência. Apesar de recolhido, ele continuou emanando ordens — detalhou a delegada.
Durante a investigação, conforme a delegada, foram obtidas imagens e filmagens nas quais o preso apareceria assistindo ao vivo ordens de execução e torturas de dentro da Pasc. Da mesma forma, ele faria o controle dos lucros obtidos com o tráfico de entorpecentes e outras atividades ilícitas, como a exploração de jogos de azar. Durante a ofensiva, foram apreendidas pelo menos 119 máquinas caça-níqueis.
— Hoje sim se pode dizer que ele é uma das maiores lideranças do sul do Brasil, ainda que esteja no sistema prisional — afirmou a delegada.
Apesar de serem apontados pela investigação como líderes, João Paulo e Eduardo, segundo a polícia, também estariam sob as ordens do irmão mais velho. Eduardo, o mais novo dos três, seria o responsável por controlar as atividades nas ruas, segundo a polícia. Enquanto João Paulo manteria maior distanciamento, gerenciando as atividades criminosas por telefone. A polícia tentou localizar os dois nessa sexta-feira, mas até o fim da manhã eles não tinham sido encontrados. No caso de João Paulo, foram cumpridos mandados em busca dele em pelo menos 11 endereços, parte deles no Morada do Vale 2.
— Nos causou certa surpresa estarem as residências com portas abertas. Isso significa que talvez eles tenham se evadido minutos antes da chegada — disse a delegada.
O fato de nenhum dos dois irmãos ter sido encontrado levantou a suspeita de que os líderes possam ter obtido informações privilegiadas sobre os mandados de prisão. Segundo o chefe da Polícia Civil, delegado Fernando Sodré, não há confirmação de que isso tenha acontecido, mas deve ser averiguado pela corporação.
Combate ao crime organizado e homicídios
O secretário de Segurança Pública do Estado, Sandro Caron, destacou o fato de que a operação segue a linha adotada pelo Estado de combate ao crime organizado como forma de buscar diminuir os homicídios. Em setembro, o RS encerrou o mês com redução de 24,3% nos assassinatos, em comparação com o mesmo período do ano passado.
— A forma mais efetiva de reduzir homicídio é combater o crime organizado, o tráfico de drogas. Não vamos aceitar aqui no Estado práticas como homicídios, extorsões de moradores e extorsões de comerciantes. Vamos seguir com essa pressão operacional permanentemente — disse o secretário Caron.
Diretor da Divisão de Homicídios na Região Metropolitana, o delegado Rafael Pereira também destacou o fato de que essa organização criminosa está envolvida em série de crimes.
— Esses três irmãos coordenam essa organização criminosa e chegaram aonde chegaram graças aos homicídios que praticaram para tentar impor o medo nas comunidades — disse.
"Caveirão da morte"
Vinicius, o Vini da Ladeira, foi condenado a 41 anos e cinco meses de prisão por um homicídio. O crime pelo qual Vinicius foi condenado aconteceu em setembro de 2014, no bairro Rubem Berta, em Porto Alegre. Conforme a denúncia do Ministério Público, Vinicius e três comparsas executaram Tiago Roberto da Silva Barbosa, 28 anos. A companheira e o filho da vítima, na época com seis anos, também se feriram.
Segundo a investigação da Polícia Civil, os três baleados estavam em um carro branco, que foi perseguido por um Civic preto. Na Avenida Bernardino Silveira Amorim, diversos tiros foram realizados. Ferido, Tiago parou o carro e tentou fugir, mas foi novamente baleado e morreu no local. Segundo investigação da Polícia Civil, Vinicius fazia uso do chamado "caveirão da morte" para atacar rivais.
O veículo era um Civic transformado para se tornar um veículo de guerra do crime. No carro, o encosto traseiro foi substituído por uma chapa de aço com visor ao estilo dos carros-fortes. Atrás dos bancos dianteiros, foram instaladas duas chapas. No porta-malas havia furos no fundo da estrutura metálica que davam saída para pequenas canaletas. O intuito, segundo a polícia, seria permitir o escoamento do sangue dos corpos.
Os homicídios que levaram à Operação Triunvirato, segundo a polícia, não possuem relação com esse episódio do "caveirão" e não há indícios de que a organização criminosa tenha voltado a fazer uso desse tipo de prática.
Contraponto
GZH tenta contato com Jader Santos, advogado de Vinicius Antônio Otto, que está preso. Os outros dois investigados não tinham sido localizados até o início da tarde desta sexta-feira.
A operação
A Operação Triunvirato cumpre 190 mandados, sendo 42 de prisão preventiva e 148 de busca e apreensão. A maior parte dos mandados é cumprida em Gravataí, na Região Metropolitana. Mas há ordens judiciais em oito municípios no Rio Grande do Sul e um em Santa Catarina. Participam da ofensiva cerca de 1,2 mil policiais civis, militares e penais. Até o fim da manhã, 33 suspeitos tinham sido presos na operação.