Após quatro meses de investigação, a Polícia Civil localizou, em uma casa no município de Tuparendi, no noroeste do Estado, dois foragidos que teriam envolvimento com a guerra de facções no sul do RS no ano passado. Os dois homens integram, segundo a investigação, um grupo criminoso com origem no Vale do Sinos que disputava o comércio de drogas em Rio Grande com outra organização de Pelotas. Esse conflito resultou em uma onda de mortes violentas em 2022.
O mesmo grupo ao qual os capturados pertencem teria sido responsável por tramar um falso plano de fuga de presos da Penitenciárias de Alta Segurança de Charqueadas (PASC) para incriminar a facção rival, dando início à guerra. As prisões ocorreram na sexta-feira (6), mas só foram divulgadas nesta segunda (9).
Os capturados são Ezequiel Silveira, 29 anos, de alcunha Kelinho, e Yuri Souza da Rosa, 22, conhecido pelo primeiro nome. O trabalho foi realizado pela Delegacia de Capturas, que pertence ao Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) da Polícia Civil.
A localização e captura de Kelinho era prioridade da Delegacia de Capturas havia alguns meses. Ele é considerado gerente da facção do Vale do Sinos. Em escala, segundo o Deic, estaria logo abaixo do principal líder do grupo e seria responsável por coordenar e financiar os ataques à facção rival na cidade de Rio Grande, em 2022. Ele era um dos três foragidos entre os indiciados por uma tripla tentativa de homicídio ocorrida em um condomínio de Rio Grande em 1º de novembro daquele ano.
A investigação ainda indica que ele seria muito próximo a uma liderança da facção em Rio Grande, Rodrigo das Correntes, preso na semana passada.
Já Yuri é tido como um dos executores da facção de Kelinho e suspeito de participar de homicídios em Rio Grande — um deles no bairro Profilurb, no dia 10 de março deste ano. Segundo a polícia, os dois estavam foragidos após expedição de mandados de prisão preventiva em março e maio deste ano.
Ezequiel Silveira tem antecedentes por homicídio, roubo, latrocínio, tráfico de drogas, associação ao tráfico, lavagem de dinheiro, organização criminosa, receptação, porte ilegal de arma de fogo e adulteração de veículo. Yuri da Rosa tem antecedentes por homicídio, tráfico de drogas, roubos, porte ilegal de arma de fogo e associação criminosa.
Contraponto
GZH solicitou ao Tribunal de Justiça do Estado (TJ-RS) os nomes dos advogados que representam os presos e aguarda retorno.
Na casa de parentes
Conforme a polícia, os homens foram localizados em uma casa de classe média no pequeno município de Tuparendi, próximo de Santa Rosa. Localizado ao noroeste do Estado, o local tem população estimada em 8.363 pessoas, conforme o IBGE. A polícia afirma que eles rumaram para o local para se esconder na residência de parentes.
De acordo com o delegado Gabriel Casanova, as equipes verificaram que Kelinho tinha como principais bases as cidades de Novo Hamburgo e Caxias do Sul. Após diversas diligências nesses locais, investigadores encontraram indícios de que ele poderia estar em Tuparendi.
Campana na cidade
Uma equipe viajou até o município, onde passou a monitorar a rotina de pessoas que, possivelmente, auxiliavam Kelinho a se manter escondido.
— Após horas de monitoramento, o indivíduo foi visualizado em uma residência, acompanhado de Yuri. Os policiais então cercaram a residência e fizeram a abordagem. Os foragidos tentaram fugir pelos fundos do local, mas foram contidos — explica Casanova, titular da Delegacia de Capturas.
A ação ocorreu na tarde de sexta. Na moradia, a polícia encontrou uma pistola Canik calibre 9mm com numeração suprimida, cinco carregadores e 82 munições.
Falso plano de fuga da Pasc originou confronto
De acordo com o Deic, a facção à qual pertencem os dois capturados é a mesma que teria forjado um plano de fuga de presos da PASC, em Charqueadas, descoberto em outubro de 2021. A armação tentou incriminar indivíduos de um grupo rival, que estavam detidos no local, para que fossem levados para fora do Estado.
Na ocasião, um veículo foi localizado perto da penitenciária contendo um esboço, com detalhes, de um suposto plano de fuga de dois detentos. Ao longo da investigação, a Polícia Civil verificou que o fato foi montado. O objetivo era fazer as autoridades pedirem a transferência dos dois presos em questão para prisões federais, acreditando que estariam tentando fugir.
O Deic afirma que foi este falso plano que deu origem à guerra entre as facções em Rio Grande.
Denúncias
Quem tiver informações sobre crimes pode entrar em contato com a Polícia Civil. O sigilo é garantido pelas equipes.
Os canais são o Disque-denúncia do Deic, pelo telefone 0800 510 2828, ou pelo WhatsApp e Telegram, no (51) 98444-0606.