O suposto plano de resgate de presos da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), a mais inexpugnável do Rio Grande do Sul, descoberto na semana passada, é uma farsa. A conclusão é da Polícia Civil, após minuciosa investigação que contou com colaboração de servidores penitenciários, policiais militares e policiais rodoviários federais.
A notícia do plano de fuga movimentou a área da segurança pública na semana passada. Em 28 de outubro, policiais militares encontraram na estrada que leva a Charqueadas um Kia Cerato abandonado. Dentro, coletes balísticos, munição de fuzil e um croqui com mapa completo da Pasc (incluindo celas). O desenho mostrava homens armados explodindo caminhões e invadindo a penitenciária, para resgatar dois líderes de quadrilha de Rio Grande, sul do Estado.
O plano deixou a cúpula da segurança pública de cabelos em pé e gerou reuniões em cascata. A dúvida: era mesmo uma escapada ou tudo seria forjado para incriminar o suposto beneficiado com a fuga?
O delegado Marco Schalmes, da Delegacia da Polícia Civil em Charqueadas, concluiu que é tudo forjado, algo que ele já desconfiava desde o início, porque o croqui tinha o nome dos dois criminosos a serem resgatados e as iniciais de um dos possíveis resgatados estão pintadas num dos coletes.
O desenho tinha também endereço de uma empresa de helicóptero, que seria usado na fuga. Quem faria um plano secreto com nome dos beneficiados? Só faltavam CPF e RG de cada um dos envolvidos no suposto resgate.
O primeiro passo foi investigar os supostos beneficiados, ligados a uma facção do sul do Estado, associada à maior facção gaúcha, do Vale do Sinos. GZH apurou que se tratam de Fábio do Gás e Foca, apelido de dois traficantes de Rio Grande (os nomes deles estavam no croqui). Mandados de busca foram cumpridos e nada relativo aos planos foram encontrados com eles.
Com ajuda da Polícia Rodoviária Federal, a trajetória do Kia Cerato foi rastreada por câmeras. O carro tinha sido furtado em Novo Hamburgo. Três pessoas que o conduziram até Charqueadas foram localizadas, duas delas presas. Uma delas, familiar de um apenado da Pasc, confessou que o plano tinha sido forjado.
A Polícia Civil não revela o nome, mas fontes na área de segurança apontaram ao colunista quem foi identificado como autor da montagem. É Edmilson Cardoso Pereira, o Catarina, traficante que responde por homicídios na região de Rio Grande e Chuí. Ele é rival de Fábio do Gás e trabalha com uma facção da zona leste de Porto Alegre. Interrogado, Edmilson confessou ter forjado o plano. A ideia era estimular que o inimigo fosse expurgado para uma prisão de segurança máxima longe do RS.
Após as duas confissões, todos os envolvidos estão sendo indiciados por associação criminosa, receptação, adulteração de sinais de veículo e porte de munição de uso restrito. Podem pegar até 10 anos de prisão cada. Legítimo tiro que saiu pela culatra (Culatra, aliás, é o nome dado pela Polícia Civil à investigação).