A Polícia Civil pediu novamente que o Poder Judiciário autorize a prisão preventiva de dois suspeitos, pai e filho, os quais seriam os administradores da clínica geriátrica clandestina que foi interditada, no dia 2 outubro, em Taquara. Segundo o delegado Valeriano Garcia Neto, responsável pelo inquérito do caso, os alvos do pedido são suspeitos de explorar idosos sem familiares e com benefícios previdenciários.
No entendimento da Polícia Civil, a detenção dos investigados é necessária por decorrência da gravidade dos fatos em apuração. Os suspeitos são investigados por cárcere privado, tortura e lesão corporal, maus-tratos com agravante das vítimas serem idosas, retenção de documentos e valores na forma prevista pelo Estatuto do Idoso, associação criminosa e atentado à dignidade sexual.
Conforme Valeriano, a dupla teria ao menos mais duas instalações no mesmo modelo, em Viamão e Porto Alegre. A suspeita é de emprego de método semelhante. Uma inspeção chegou a ser realizada no dia 3 de outubro, em casa apontada como provável endereço de clínica clandestina na Capital, em localidade próxima à Lomba do Pinheiro. A ação foi conduzida pela Delegacia do Idoso de Porto Alegre, mas ao chegarem ao endereço, os agentes encontraram uma casa vazia, embora houvesse indícios de ocupação recente.
— Consideramos importante a prisão destes investigados para encerrar o ciclo de delitos e para que revelem onde estão os idosos que eles mantêm sob sua guarda. É sabido que pai e filho mantêm mais locais e, além da retenção dos documentos, teriam praticado empréstimos irregulares em nome dos idosos. São prisões necessárias para a proteção de pessoas vulneráveis e para a garantia da ordem pública — argumenta Valeriano.
O delegado destaca que um pedido já havia sido feito em 4 de outubro, mas foi negado pelo Tribunal de Justiça do RS. Naquela ocasião, o TJ informou que o pedido inicial de prisão preventiva foi negado porque "não estavam presentes todos os requisitos legais para a decretação das prisões solicitadas".
Em Taquara, o local funcionava na localidade de Santa Cruz da Concórdia, zona rural, e foi fechado após denúncia de cárcere privado e maus-tratos contra dez idosos e pelas condições insalubres das instalações. A abordagem no local revelou que os gestores mantinham retidos os documentos e os cartões de saque da aposentadoria dos dez internos, que foram resgatados e encaminhados para proteção no sistema de assistência social do município.
Em seus depoimentos, os idosos contaram que eram impedidos de sair, mantidos sem cuidados de higiene e saúde, muitas vezes deixados sem refeições e até sem água limpa para beber.
Rede de exploração está na mira
De acordo com o delegado, existe um padrão estabelecido na internação dos idosos. Todos são pessoas solitárias, sem nenhum familiar vivo ou distanciados das famílias que tiveram. Além disso, todos possuem algum benefício previdenciário, o qual seria tomado pelos gestores da casa de forma irregular.
— Precisamos encerrar este tipo de exploração. Não estamos falando de clínica, nem de casa de convivência. São verdadeiros depósitos de pessoas em extrema vulnerabilidade — classifica o delegado.
Nem o Judiciário, nem a Polícia Civil revelam os nomes dos investigados. A reportagem não conseguiu até o momento identificar representante legal para apresentação de contrapontos sobre as informações prestadas pela autoridade policial.