Uma mulher de 21 anos, que vinha sendo mantida em cárcere privado há cerca de uma semana na zona sul de Porto Alegre, conseguiu fugir da residência e pedir ajuda à polícia. Ela chegou à delegacia com machucados pelo corpo. Após diligências, a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) da Capital conseguiu mandado de prisão contra um homem de 31 anos, que seria marido da jovem, e realizou a prisão na segunda-feira (16). A mulher e o filho pequeno dos dois foram levados para um local seguro, segundo as equipes. O caso segue sob investigação. O nome do agressor não foi divulgado.
O relacionamento entre os dois teria começado há sete anos, quando ela tinha 14 anos. Segundo o relato da vítima, o comportamento do homem sempre foi violento, com agressões, e ela já havia tentado se separar, sem sucesso. A investigação indica que o agressor também praticava violência financeira, já que controlava o salário da mulher.
Conforme relato da vítima à polícia, a violência escalou na última semana, na noite do dia 9, quando ela e o então companheiro foram até a casa da mãe do homem para dormir, depois de levar o filho ao médico. Segundo a mulher, o parceiro se irritou com algo que viu no celular dela, aparelho que também seria controlado por ele.
— Ela afirma que, depois disso, foi acordada a socos e chutes no rosto. O homem teria levado ela de arrasto para a casa deles, coberta com casaco e toalhas para esconder os ferimentos. Ele teria a ameaçado, dizendo que se alguém a visse machucada ou se pedisse socorro, seria morta — explica a delegada Cristiane Ramos, titular da Deam.
Seis dias em cárcere
A mulher teria ficado em cárcere privado do dia 9, uma segunda-feira, até dia 15, sábado, quando se aproveitou de uma distração do homem e conseguiu fugir.
Nos dias que passou trancada em casa, afirma que não recebeu comida por dias e era agredida constantemente.
— Somente na quinta ele alcançou dois pacotes de wafer a ela. Nesse período, além de agressões físicas, ele também cortou o cabelo dela, com alicate e tesoura, e depois o raspou com uma máquina. Nos primeiros dias, ela disse que nem tentou fugir porque não conseguia enxergar, em razão de machucados nos olhos. Ela afirma que também foi abusada sexualmente e ameaçada de morte.
Ainda segundo a polícia, as roupas da mulher foram queimadas, e ela ficou apenas com a que vestia quando conseguiu ir à delegacia.
Fuga
A polícia afirma que a mulher conseguiu fugir de casa no sábado, após uma distração do homem. Na rua, ela pediu ajuda e pedestres acionaram a Brigada Militar, que a acompanhou até a casa da sogra para buscar a criança.
Depois, foi conduzida até a Deam, onde recebeu atendimento e foi encaminhada a um local seguro junto do filho.
A delegada Cristiane afirma que a equipe trabalhou para conseguir a prisão do homem o quanto antes, para resguardar a mulher. A detenção foi pedida ao Judiciário ainda no fim de semana, e ele foi preso na segunda pela manhã.
O indivíduo foi localizado no local de trabalho. Ele deve prestar depoimento nos próximos dias.
— Temos inúmeras situações, aqui na delegacia, que demonstram como funciona a evolução da violência doméstica: agressores que mudam de companheira e vão ficando cada vez mais violentos. Somente neste caso relatado, podemos verificar os cinco tipos de violência previstos na Lei Maria da Penha: moral, psicológica, sexual, física e financeira, porque ela relata que tinha de entregar todo o salário para ele — pontua a delegada.
A investigação segue em andamento e deve ouvir demais testemunhas e pessoa próximas à mulher e ao homem. As equipes também aguardam pelo resultado de laudos periciais solicitados.
Conforme a Polícia Civil, o homem tem antecedentes por descumprimento de medida protetiva contra outra ex-companheira. Por esse fato, havia sido indiciado em agosto de 2023.