A Polícia Civil está perto de concluir a investigação sobre cinco mortos em confrontos com a Brigada Militar, na zona sul de Porto Alegre, no mês de julho. Até o momento, os elementos coletados indicam que o caso deve ser concluído como legítima defesa por parte dos policiais militares.
Os dois tiroteios em sequência aconteceram na Alameda Sorriso, próximo à Rua Octávio de Souza, e na Vila Pedreira, no bairro Cristal, a cerca de um quilômetro do primeiro. Morreram na ação quatro adolescentes, entre 15 e 16 anos, e um homem de 19 anos.
O caso é apurado pela 6ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Segundo o delegado Thiago Carrijo, responsável pela investigação, o inquérito deverá ser concluído e remetido até o fim desta semana. O caso completa um mês no sábado (19).
— A princípio, tudo indica que os policiais agiram em legítima defesa. Nada que demonstre o contrário — afirma o delegado.
Conforme o policial, ainda existem algumas diligências que devem ser cumpridas nesta semana, antes de o relatório com a conclusão da investigação ser remetido ao Judiciário. Carrijo afirma que entre os elementos que apontam para a legítima defesa estão os depoimentos dos policiais, que relataram ter sido confrontados a tiros pelo grupo, e os materiais que foram apreendidos durante a ação.
Foram localizadas 12 armas de fogo, sendo duas submetralhadoras de calibre 40 milímetros, dois revólveres, oito pistolas, 208 munições de calibre 9 milímetros, 45 de calibre 40 milímetros e nove de calibre 38. Também foram encontradas porções de cocaína e crack, além de cinco conjuntos de fardas policiais.
No dia das mortes, houve protesto por parte dos moradores da região contra a ação. Pneus e entulhos foram incendiados, criando uma barreira no meio da rua. O Corpo de Bombeiros foi acionado para controlar as chamas.
— Tenho os depoimentos dos policiais militares, tenho diversas armas apreendidas e não tenho ninguém que diga o contrário (sobre a legítima defesa). Essas situações onde não se têm filmagens, não têm testemunhas, trabalhamos principalmente com os depoimentos. O que os policiais relatam é que estiveram diante de um confronto — diz o delegado.
Facções
Logo após as mortes, a Brigada Militar informou que os confrontos aconteceram após os policiais receberam a informação de que um grupo rival estaria se preparando para invadir a área e que havia criminosos armados na região. Aquela área vem passando por disputas entre essa facção da Vila Cruzeiro com outra com berço no bairro Bom Jesus pelo domínio do tráfico de drogas.
Segundo o delegado, o que foi apurado até o momento indica que os cinco mortos residiam naquela região, e teriam vinculação com a mesma facção criminosa, que tem berço na Vila Cruzeiro.
— Não necessariamente estariam indo praticar ataques. Mas não houve aceitação da abordagem, o que resultou nos confrontos. Eles seriam do mesmo grupo, não há nada que aponte que os três e os outros dois iriam se confrontar entre eles — afirma o delegado.
Conforme a Polícia Civil, quatro dos mortos tinham passagens anteriores pela polícia. Três deles tinham histórico envolvendo o tráfico de drogas, e três por porte ilegal de arma de fogo. Um deles, de 15 anos, não teria registro de envolvimento em delitos. Os nomes dos mortos não foram divulgados pela Polícia Civil.
Após a polícia encaminhar o inquérito, caberá ao Ministério Público fazer a análise e decidir se pede novas diligências ou se sugere à Justiça que o caso seja arquivado. A decisão final sobre o arquivamento do caso é do Poder Judiciário.
As mortes
Os policiais militares relataram que receberam informações de que havia criminosos armados na Alameda do Sorriso, na Vila Formiga, no bairro Nonoai. Segundo a BM, ao chegar ao local a equipe tentou abordar um grupo, que teria revidado, atirando contra os policiais. Três foram baleados e socorridos ao Hospital de Pronto Socorro, mas não resistiram.
Ainda conforme a BM, as buscas seguiram e os policiais receberam novas informações de que havia outros criminosos armados em frente a uma casa, na Vila Pedreira, no bairro Cristal, a cerca de um quilômetro do primeiro local. Ali, houve novo tiroteio, no qual dois suspeitos foram baleados, e também morreram durante atendimento.
Além dos cinco mortos, houve ainda três presos na ação da Brigada Militar. Segundo o delegado, os três devem ser indiciados pelo crime de porte ilegal de arma de fogo.