A disputa entre facções criminosas pelo domínio do tráfico de drogas é apontada como pano de fundo dos confrontos que resultaram em cinco mortes na tarde de quarta-feira (19) na zona sul de Porto Alegre. Os mortos são quatro adolescentes, com idades entre 15 e 16 anos, e um homem de 19 anos. Outros cinco suspeitos foram presos em flagrante pela Brigada Militar, após os tiroteios.
Segundo a BM, os confrontos teriam envolvido uma facção, nascida na Vila Cruzeiro, que estaria tentando atacar os rivais, grupo criminoso com berço na Zona Norte. Já a Polícia Civil afirma que precisa compreender a dinâmica dos fatos, e que ainda apura qual a vinculação dos mortos com esses dois grupos criminosos.
— Nós temos uma informação de que uma facção rival poderia estar tentando tomar aquela área ali. Vamos apurar isso no inquérito policial instaurado a partir do confronto de ontem (quarta) — afirma o delegado Thiago Carrijo, da 6ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Durante a ação da BM, foram apreendidas 12 armas de fogo: duas submetralhadoras de calibre 40 milímetros, dois revólveres, oito pistolas, 208 munições de calibre 9 milímetros, 45 de calibre 40 milímetros e nove de calibre 38. Também foram encontradas porções de cocaína e crack, além de cinco conjuntos de fardas policiais.
Ainda conforme a Polícia Civil, quatro dos mortos tinham passagens anteriores pela polícia. Três deles tinham histórico envolvendo o tráfico de drogas, e três por porte ilegal de arma de fogo. Um deles, de 15 anos, não teria registro de envolvimento em delitos. Os nomes dos mortos não foram divulgados pela Polícia Civil.
Um dos cinco era investigado por envolvimento no ataque que matou duas pessoas e deixou seis feridos na pista de skate da orla do Guaíba, no início de junho. Ainda é apurado se um dos adolescentes tinha envolvimento no arremesso de uma granada contra o condomínio Princesa Isabel, na esquina das avenidas João Pessoa e Princesa Isabel, em setembro do ano passado.
— Não é um fator que nos surpreende, a gente sabe que essas organizações aliciam jovens — analisa o subcomandante do 1º Batalhão de Polícia Militar, capitão Ademir Henz, sobre a idade dos mortos.
Cerco policial
Após o confronto, a Brigada Militar passou a realizar cerco na região dos bairros Nonoai, Teresópolis e Cristal, com auxílio de helicóptero, do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Batalhão de Choque.
— Temos dois objetivos ao manter esse cerco: buscar esse indivíduo, porque temos a informação de que ele ainda está naquela região e intensificar para demonstrar que o Estado está presente, que toda vez que uma organização ousar afrontar as forças públicas, vamos saturar a área — afirma o subcomandante do 1º BPM.
Nesta quinta-feira, foi mantido o reforço no policiamento na Zona Sul.
O tiroteio
Os policiais militares relataram que receberam informações de que havia criminosos armados na Alameda do Sorriso, na Vila Formiga, no bairro Nonoai. Segundo a BM, ao chegar ao local a equipe tentou abordar um grupo, que teria revidado, atirando contra os policiais. Três foram baleados e socorridos ao Hospital de Pronto Socorro, mas não resistiram. Outros dois foram presos em flagrante.
Ainda conforme a BM, as buscas seguiram e os policiais receberam novas informações de que havia outros criminosos armados em frente a uma casa, na Vila Pedreira, no bairro Cristal, a cerca de um quilômetro do primeiro local. Ali, houve novo tiroteio, no qual dois suspeitos foram baleados, e também morreram durante atendimento, e quatro foram presos.
Logo após a ação da BM, houve protesto por parte dos moradores da região contra as mortes. Pneus e entulhos foram incendiados, criando uma barreira no meio da rua. O Corpo de Bombeiros foi acionado para controlar as chamas. Segundo o delegado Carrijo, a Polícia Civil ainda precisa compreender como se deu a dinâmica dos tiroteios. No entanto, o que foi apurado até o momento indica que houve legítima defesa por parte dos policiais.
— A investigação da 6ª DHPP vai apurar exatamente o que aconteceu. Nós comparecemos até o local e tudo indica que os policiais teriam agido em legítima defesa — afirma.