Um jovem, de uma cidade da região metropolitana de Porto Alegre, manteve contato por quatro dias com outro homem por meio de um aplicativo de relacionamentos. Marcaram um encontro em Campo Bom, no Vale do Sinos, e, no carro desta outra pessoa, foram até uma residência.
Segundo o jovem, logo após entrarem na casa: "era um rapaz gentil, deu a entender que morava sozinho e estava uma conversa agradável até surgir um homem armado". Eles estavam conversando na sala quando o homem, encapuzado, saiu de um quarto do imóvel. O jovem era mais uma das oito vítimas identificadas de uma quadrilha.
Segundo a Polícia Civil, que desarticulou o grupo durante uma operação na segunda-feira (19), os suspeitos criam perfis em aplicativos e marcam encontros com as pessoas. Sempre oferecem carona nos seus veículos e marcam para se conhecerem melhor em residências que alegam serem suas, em Campo Bom.
O responsável pelo caso, delegado Rodrigo Câmara, diz que um quinto suspeito segue foragido e seus agentes retomaram nesta terça-feira (20) às buscas, além de outros policiais estarem tentando identificar mais integrantes que eram responsáveis por receber valores extorquidos para lavagem de dinheiro.
Também está sendo investigado se outras pessoas foram lesadas durante sequestros-relâmpagos praticados por esta quadrilha. Por enquanto, Câmara diz que todas as oito já identificadas perderam, juntas, o total de R$ 250 mil. Segundo o delegado, independente da prisão do foragido, todos os criminosos serão responsabilizados nos próximos dias — com a conclusão de um inquérito policial — pelos delitos de extorsão qualificada com restrição de liberdade, associação criminosa e roubo mediante uso de arma de fogo.
"Tive arma apontada para a cabeça no cativeiro"
O jovem, que foi uma das oito vítimas da quadrilha, disse que tudo ocorreu no dia 18 de maio deste ano. Depois de ir a uma agência bancária em Campo Bom, foi até o local marcado com o amigo, conforme conversas em um app de relacionamento.
Ele entrou no carro do homem e foram até uma residência. Segundo o jovem, era um homem gentil, atarefado com a rotina de trabalho e academia, aparentando que morava sozinho.
— Ele sempre avisava para que eu não reparasse na bagunça da casa, se mostrou uma pessoa legal no carro, conversando muito e até com algo em comum entre nós, ou seja, parentes na fronteira. Estava muito agradável a conversa, mas foi entrar na casa que tudo mudou — diz a vítima, que pediu para não ter nome, idade, cidade e valores extorquidos divulgados.
O jovem relata que os dois entraram na casa e o homem trancou rapidamente a porta. Ele diz que sentaram no sofá, que lhe foi oferecido água e, durante a conversa, do nada surge um homem encapuzado e armado de dentro de um dos quartos.
O que seria um encontro, virou um pesadelo. Foi nesse momento que a vítima viu que se tratava de um sequestro-relâmpago.
— Já me abordaram, me renderam, pediram celular e carteira, olharam aplicativos do banco, cartões de crédito e pediram para ficar de pé, meia hora de pé, até amarrarem minhas mãos com cadarço de tênis. Eles mandaram eu ficar quieto e, se eu falasse algo ou gritasse, sempre tendo uma arma apontada para mim, disseram que eu não veria mais nada — relata.
Uma segunda vítima no mesmo dia
O jovem foi levado para um dos quartos e colocado em um cadeira, de frente para um parede, mas sempre vigiado por um terceiro homem que surgiu, também encapuzado e armado. Horas depois, ele ouviu o mesmo homem com quem marcou o encontro entrar com outro jovem na residência.
— Era mais uma vítima atraída pelo site de relacionamento e que seria extorquida. Eu não via, mas ouvia eles mandando a vítima ficar quieta, percebi que ela teve de ser contida porque tentou reagir e depois não ouvi mais nada — diz o jovem.
Três horas depois, após a extorsão, a vítima foi colocada em um carro dirigido pelo mesmo homem que a levou para a residência em Campo Bom. Outro homem, encapuzado e armado, sentou ao seu lado no banco traseiro do veículo. Os criminosos rodaram por várias ruas e largaram o jovem em uma das vias públicas da cidade.
Ele pediu ajuda a moradores, a Brigada Militar foi acionada e ele fez um boletim de ocorrência. O jovem relatou a presença de mais uma vítima na casa, mas não soube informar o que houve com ela, nem mesmo a rua ou bairro, além de não se lembrar a placa do veículo em que esteve com os sequestradores.
O delegado conta que vítimas ficaram até 22 horas sob a mira dos criminosos no cativeiro e ainda foram agredidas.