Perícias nos aplicativos de comunicação de celulares, exames em imagens de câmeras e análises balísticas são aguardadas pela Polícia Civil para confirmar se o ataque a tiros que resultou na morte de cinco pessoas na noite de 14 de maio, na Vila São Borja, bairro Sarandi, zona norte de Porto Alegre, estaria vinculado à morte de Adalberto Arruda Hoff, o Beto Fanho, ocorrida dias antes em Gravataí. A principal linha de investigações aponta que o atentado decorre da disputa entre facções criminosas por território para traficar.
Beto Fanho era apontado pela polícia como líder de uma organização criminosa e seria um dos comandantes do tráfico na Zona Norte. Ele morreu no dia 10 de maio após confronto com policiais que cumpriam mandados em um sítio no distrito de Morungava, área rural de Gravataí.
Conforme o diretor do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa, delegado Mário Francisco de Souza, entre as linhas de investigação tem se fortalecido a hipótese de que a operação policial que levou à morte de Hoff e à apreensão de armas pode ter precipitado o ataque no Sarandi.
— Este conjunto de perícias poderá determinar com mais força de evidência os caminhos que a investigação está definindo. Tanto para esta chacina, quanto para a eventual relação com outros ataques e crimes nos quais a polícia tem agido nas últimas semanas — indica Souza.
O delegado revela que uma quantidade significativa de testemunhos já está anexada ao inquérito dos homicídios. Segundo ele, existe a possibilidade de que a investigação chegue aos mandantes do crime nos próximos dias e podem ocorrer prisões.
Encarregado da investigação, o titular da 3ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa da Capital, Tiago Zaidan, afirma que parte dos supostos autores do atentado está identificada.
— Não estamos divulgando identidades, nem mesmo dos mortos, em virtude das conexões que estamos consolidando nesta investigação, que exige cautela da polícia e sigilo sobre informações cruciais para elucidação do caso — explica Zaidan.
Conforme o delegado, a Polícia Civil espera que diálogos revelados na inspeção dos celulares apreendidos corroborem as conexões estabelecidas pela investigação e detalhem a natureza das relações entre as pessoas envolvidas na chacina.
Apreensão de arsenal e morte de liderança teriam fragilizado facção
A partir da vinculação dos resultados periciais com as provas materiais e testemunhais obtidas, a Polícia Civil pretende consolidar ou descartar a hipótese de que a morte de Beto Fanho, e consequente desmonte na cadeia de comando que era exercida por ele, possa ter precipitado a ação de rivais para usar de agressão e intimidação com o objetivo de avançar sobre áreas conflagradas ou vulnerabilizadas pela presença do crime organizado na Capital.
A ação policial do dia 10 de maio, em que Beto Fanho foi morto, foi considerada impactante contra a facção que ele integrava. A investida conjunta entre Polícia Civil e Brigada Militar se estendeu por três dias e contou até com uso de uma miniescavadeira e equipamentos detectores de metais.
Foram desenterradas 26 armas — entre as quais havia ao menos um fuzil, duas escopetas e uma carabina —, além de munições e carregadores, coletes balísticos, material explosivo e insumos para fabricação artesanal de cartuchos. Drogas também foram localizadas.
Beto Fanho, que foi morto em confronto com as autoridades, tinha mais de 20 antecedentes criminais, sete delas por homicídios, e mais de 50 anos no somatório de condenações. Na ocasião da morte, ele usava tornozeleira eletrônica.