Uma das forças propulsoras de ataques a escolas em todo o Brasil, a expansão do extremismo vem provocando uma disparada no número de ocorrências policiais em que aparecem termos como "neonazismo" ou "nazismo" no Rio Grande do Sul. De acordo com um levantamento realizado pela Delegacia de Combate a Crimes de Intolerância da Polícia Civil gaúcha, a quantidade de registros vinculados à intolerância nazifascista saltou de sete, em 2019, para 41 no ano passado — um aumento de quase seis vezes.
O avanço no universo de ocorrências policiais de diversos tipos envolvendo alguma forma de referência ao antigo regime alemão tem sido constante ao longo dos últimos anos. Em 2023, mesmo considerando-se apenas pouco mais de três meses e meio, as 27 notificações incluídas até esta semana no sistema da Polícia Civil já representam dois terços de tudo o que foi verificado no ano passado.
— Estamos vendo um aumento muito grande no número de registros. O neonazismo vem crescendo no Rio Grande do Sul, assim como em outros lugares do mundo, em países onde a migração despertou um forte sentimento de xenofobia, a exemplo da Europa — avalia a delegada da Polícia Civil Ana Luiza Caruso, responsável de forma interina pela Delegacia de Combate a Crimes de Intolerância.
O cenário de ascensão do radicalismo em diversos países acaba se retroalimentando, segundo análise do professor de História da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e pesquisador Odilon Caldeira Neto:
— Há um fenômeno de internacionalização, de diálogos transnacionais dos grupos de extrema direita, que vem se intensificando há cerca de duas décadas. A conjuntura política nacional explica, em certa medida, o impacto que esses grupos têm no cotidiano a partir da normalização do discurso da direita radical — observa Caldeira Neto.
O interrogatório de um jovem realizado recentemente no Estado mostra que uma fração dos extremistas gaúchos não se sente inibida em declarar sua intolerância a negros, mulheres ou judeus mesmo diante de autoridades. Na conversa com a delegada, o rapaz confirmou opiniões segundo as quais cargos de chefia deveriam ser reservados a homens brancos e não deveriam ser permitidos casamentos inter-raciais.
O jovem chegou a justificar o eventual uso de violência em defesa de supostos valores católicos tradicionais com base no exemplo dos antigos cruzados (integrantes de expedições militares destinadas a recuperar terras consideradas sagradas para os católicos em combates contra os islâmicos).
— Ele declarou acreditar, ainda, que o Holocausto não havia ocorrido. Mas, quando perguntei se evidência tinha disso, não sabia dizer. São sementes que acabam plantadas na cabeça desses jovens por meio de ferramentas como as redes sociais — afirma a delegada Ana Luiza.
Neste mês, outro caso chamou a atenção: um adolescente de 14 anos foi apreendido em Maquiné, na região litorânea, em posse de diversos materiais com alusão ao nazismo e sob suspeita de planejar um atentado contra um colégio. Em sua casa, foram encontradas bandeiras nazistas, imagens dos ditadores Adolf Hitler e Benito Mussolini, simulacro de arma de fogo, faca, canivetes, fardas camufladas e capacetes. Os pais também foram detidos, sob suspeita de influenciarem o filho de forma negativa.