Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, enfrentou no primeiro trimestre de 2023 uma elevação nos indicadores de criminalidade, a qual se traduz em sensação de insegurança para quem vive ou trabalha na terceira maior cidade do RS. Conforme dados do Observatório de Segurança Pública de Canoas (OSPC), mantido pela administração municipal, tiveram elevação os indicadores de assalto a pedestres (14,4%), de furto (15,4%) e roubo de veículos (21,2%), na comparação entre os meses de janeiro, fevereiro e março do ano passado.
O indicador de mortes violentas - que contabiliza homicídios, latrocínios, feminicídios, encontros de cadáveres, lesão corporal seguida de morte e mortes resultantes dos confrontos com as forças policiais - rumou em linha ascendente com maior amplitude. Foram 36 ocorrências (33 qualificadas como homicídio) nos três primeiros meses deste ano, contra 20 fatos no mesmo período de 2022, o que corresponde a uma elevação de 80%.
São histórias como o assassinato de Alexandre dos Santos, de 49 anos, executado a tiros dentro de uma padaria localizada no bairro Nossa Senhora das Graças. Ele foi alvejado em meio ao movimento de clientes, antes das 11h do dia 31 de março, por um homem que teria chegado ao local em uma moto, efetuado disparos e deixado o estabelecimento.
Situações como esta geram temor em uma comunidade onde as atividades urbanas são intensas e demandam a circulação de milhares de pessoas cotidianamente pela cidade.
— A gente escuta fogos de artifício e já se abaixa pensando que pode ser tiros. A gente não quer arriscar, né — comenta, com semblante preocupado, a atendente de minimercado Sabrina de Oliveira, 44 anos. A comerciária conta que embora resida a sete minutos de caminhada, opta por transporte de aplicativo para voltar para casa depois que anoitece.
Período noturno concentra ocorrência de assaltos
O crepúsculo é também o sinal de alerta para o servidor da saúde pública Gabriel Nogueira, 26 anos, ficar atento, enquanto espera o ônibus entre o trabalho, no bairro Guajuviras, e a moradia no Mathias Velho.
— Relógio, telefone e mochila são o que eles querem. A gente procura andar discreto e evita ficar mais tempo que o necessário pela rua à noite — relata o assistente da farmácia municipal.
O roubo a pedestres é outro tipo de crime que teve crescimento na quantidade de ocorrências. Foram 388 fatos no primeiro trimestre deste ano contra 339 no período correspondente em 2022. A alta é de 14,4%.
A sensação de insegurança que se propaga com a elevação dos casos impõe a necessidade de adaptação no cotidiano das pessoas.
Na Avenida 17 de Abril, área vigorosa do comércio popular canoense, os pequenos empresários se organizam para abrir e fechar seus estabelecimentos em horários semelhantes, reduzindo a exposição ao risco.
Grades de ferro são a alternativa para quem trabalha até mais tarde, como o comerciante de bebidas Gleison Fraga, 30 anos, que se mantém em clausura na loja do começo da tarde até o início da madrugada.
— Chega certa hora que nem os moradores andam na rua — lamenta.
A percepção de moradores e trabalhadores de Canoas sobre a prevalência noturna na ação da criminalidade dá sentido aos números do levantamento. De acordo com o OSPC, 49,2% dos assaltos contra pedestres acontecem após o pôr do sol, sendo que 23,2% concentram-se no intervalo das 20h às 22h e 18,8% ocorrem nas segundas-feiras.
Segundo a secretária interina de Segurança Pública de Canoas, Jovenessa Soares, a composição de dados pelo Observatório tem como objetivo gerar informação estratégica em segurança. Os dados, aponta Jovenessa, são permanentemente compartilhados com a Polícia Civil e com a Brigada Militar.
— Há o empenho em gerar estas informações para o apoio à tomada de decisão em segurança, assim como em qualificar a presença da nossa guarda municipal no monitoramento dos espaços públicos, onde a atuação dos agentes contribui para inibir crimes e transmitir uma sensação de mais segurança para a comunidade — argumenta.
Furto e roubo de veículos também têm alta
Outros dois indicadores que tiveram elevação são os de furto e roubo de veículos. Os furtos, considerando meses de janeiro, fevereiro e março, passaram de 104 para 120, de 2022 para este ano. Já os roubos subiram de 66 para 80 na mesma comparação entre os primeiros trimestres.
— De tempo em tempo, fica mais calmo ou mais agitado. A gente precisa trabalhar, tenta não estar com dinheiro no bolso por precaução. A noite é sempre uma preocupação a mais — define o taxista Gedovaldo Pereira, 65 anos, que acumula o histórico de cinco roubos sofridos nos 32 anos de sua trajetória profissional.
A percepção de risco também atinge visitantes que chegam em Canoas. Com passo apressado pela Rua 15 de Janeiro, quatro mulheres da mesma família acabam de deixar a Câmara de Vereadores e cruzam a calçada da Prefeitura Municipal.
— Somos de Nova Santa Rita. Estávamos numa sessão solene. Estamos com pressa para o estacionamento. Foi-se o tempo em que dava para deixar o carro estacionado na rua - lamenta a matriarca do grupo, a dona de casa Janete Ramos, 54 anos.
Polícia investe em ações pontuais contra grupos organizados
Para o titular da Delegacia de Polícia Regional Metropolitana de Canoas, delegado Cristiano Reschke, a projeção das autoridades de segurança pública é de que ocorra uma redução nos números percebidos no primeiro trimestre de 2023. Reschke afirma que a Polícia Civil atuou com investigações e operações conjuntas com a Brigada Militar sob os pontos críticos revelados pelo levantamento do OSPC no período.
— Em abril, por exemplo, tivemos três mortes violentas registradas no município, sendo que uma delas ocorreu pela reação de uma mulher contra o agressor doméstico. Então, estamos considerando a possibilidade de encerrarmos o mês com dois casos de homicídio — aponta.
O delegado ressalta que parte principal das ações teve foco sobre grupos organizados de criminosos que atuam, sobretudo, nos bairros Guajuviras e Mathias Velho. Reschke informa que ocorreram prisões, inclusive de suspeitos considerados líderes de esquemas criminosos e destaca que um laboratório de processamento e embalagem de entorpecentes foi "estourado", atingindo o sistema de distribuição e desarticulando o braço do tráfico de uma organização local.
— Canoas é uma cidade grande, onde o tráfico é um elemento forte na atuação de grupos organizados. Estes meses marcados por um incremento da violência tiveram acertos de contas e disputas por território como principal causa de execuções. Acreditamos que as ações policiais empregadas até agora e que serão intensificadas irão produzir um impacto positivo, trazendo os indicadores para uma linha descendente e trazendo mais segurança para a comunidade — conclui.