Sete apreensões de cocaína — totalizando 12 toneladas da droga — antecederam a ofensiva deflagrada pela Polícia Federal (PF) e pela Receita Federal contra o tráfico internacional de drogas organizado a partir dos portos de Rio Grande, no Estado, e de Itajaí, em Santa Catarina. O esquema, conforme a investigação da PF do Rio Grande do Sul, era promovido por duas empresas de logística marítima sediadas nos portos: a CTIL Logística e a Intersul Terminais, que seriam do mesmo grupo econômico.
As apreensões ocorreram no Brasil, na Alemanha e na costa da África. A investigação apontou que a organização criminosa utilizava contêineres para esconder a droga disfarçada no meio de cargas lícitas. Além disso, a cocaína também era acondicionada em big bags para ser transportada em porões de navios e de embarcações pesqueiras.
A organização criminosa teria enviado 17 toneladas da droga para a Europa, sendo que 12 foram interceptadas.
Com os flagrantes, as autoridades, com apoio da Agência da União Europeia para Cooperação Policial (Europol), começaram a montar o quebra-cabeças em torno das ações do grupo criminoso. O esquema se organizava a partir de três núcleos: o do fornecedor, que é Paraguaio, o de transporte e logística, que seria o feito pela CTIL Logística e a Intersul Terminais, e o do comprador, ainda em investigação na Europa.
A ação que fez soar o alerta sobre a organização atuando a partir de Rio Grande e de Itajaí ocorreu em Hamburgo, na Alemanha, onde 316 quilos de cocaína foram encontrados. A droga teria partido de Rio Grande no final de 2020.
Na sequência, outros dois casos foram registrados em 2021. No primeiro, a Receita Federal fez a maior apreensão de cocaína já registrada no Porto de Rio Grande: 1,1 tonelada avaliada em R$ 202 milhões. A droga já estava dentro de um contêiner que tinha como destino a Bélgica. A desconfiança surgiu a partir de imagens captadas pelo scanner usado para verificar cargas exportadas.
Essa verificação de rotina leva em conta variáveis como o exportador, o transportador e o destino — a Europa é dos destinos que mais acendem o alerta por ser um dos principais mercados do tráfico internacional de drogas.
Depois, a Polícia Federal localizou 2,7 toneladas da droga no centro de Pelotas, sul do Estado. A cocaína estava armazenada em uma casa. Também foram pegos no local 125 quilos de lidocaína e 250 quilos de cafeína, produtos usados para aumentar o volume final do produto para a venda. Cinco pessoas foram presas no local.
Outro golpe nos negócios da organização ocorreu em novembro do ano passado, quando uma pequena embarcação que havia partido de Itajaí foi interceptada pela marinha francesa no Golfo da Guiné, próximo à costa de Serra Leoa, a caminho da Europa. O flagrante, ocorrido em 30 de novembro do ano passado, foi o resultado de um trabalho de inteligência que envolveu a França, o Reino Unido, os Estados Unidos e o Brasil. Foram apreendidas 4,6 toneladas de cocaína, avaliadas em 150 milhões de euros (cerca de R$ 824 milhões).
Os nomes dos investigados não foram revelados pela PF, mas GZH apurou que, na quinta-feira (30), dia em que a Operação Hinterland foi feita, foi preso, em Balneário Camboriú, César Oliveira de Oliveira Júnior, dono da CTIL. Um irmão dele, Leandro Gonçalves de Oliveira, também foi capturado. No total, 15 investigados foram detidos.
Contraponto
O que diz a CTIL Logística
Em nota publicada no site da empresa, a CTIL Logística diz que "não tem envolvimento nas ações relacionadas ao crime de tráfico internacional de drogas investigado pela Polícia Federal e pela Receita Federal na Operação Hinterland". A empresa afirma, também, que "está colaborando com todos os esclarecimentos e documentos requeridos a fim de comprovar com solidez que não está ligada a nenhum esquema ilegal".
Leia a nota da CTIL na íntegra:
"NOTA DE ESCLARECIMENTO
Ctil Logística Ltda, sediada em Rio Grande/RS, DECLARA, em face do episódio ocorrido no dia 30/03/2023, que não tem envolvimento nas ações relacionadas ao crime de tráfico internacional de drogas investigado pela Polícia Federal e pela Receita Federal na Operação Hinterland. A empresa está colaborando com todos os esclarecimentos e documentos requeridos a fim de comprovar com solidez que não está ligada a nenhum esquema ilegal.
Importante esclarecer que os atos relacionados à investigação serão devidamente analisados pelo judiciário.
Declara ainda que atividades empresariais e todos os contratos serão integralmente mantidos com a mesma e sólida excelência empregada e que medidas de aperfeiçoamento nos sistemas operacionais estão sendo tomadas a fim de trazer mais transparência a seus clientes e fornecedores."
Sete apreensões de cocaína antecederam a fase ostensiva da Operação Hinterland
- 2/12/2020
Duque de Caxias/Rio de Janeiro
2,5 toneladas - 6/12/2020
Hamburgo/Alemanha
316 quilos - 10/6/2021
Porto de Rio Grande
1,1 tonelada - 16/11/2021
Pelotas
3 toneladas (2,7 toneladas de droga pura e 300 quilos de lidocaína/cafeína) - 7/1/2022
Ponta Porã/MS
349 quilos - 2/6/2022
Porto Nacional/TO
221,4 quilos - 30/11/2022
Golfo da Guiné
4,6 toneladas