Correção: o dono de uma das empresas investigadas foi preso em Balneário Camboriú (SC), e não em Rio Grande, como publicado entre 8h21min e 14h12min desta quinta-feira (30). O texto está corrigido.
A Polícia Federal e a Receita Federal, com apoio da Europol (agência da União Europeia para cooperação policial), fazem a Operação Hinterland nesta quinta-feira (30) para reprimir o tráfico internacional de drogas da América do Sul para a Europa a partir de empresas de logística marítima sediadas nos portos de Rio Grande (RS) e Itajaí (SC).
GZH apurou que César Oliveira de Oliveira Júnior, dono da CTIL Logística, uma das empresas investigadas, foi preso em Balneário Camboriú (SC). Conforme a investigação, a alta cúpula da empresa atuaria diretamente no tráfico de drogas. O advogado Affonso Celso Pupe Neto, que representa a CTIL Logística e os irmãos César e Leandro Gonçalves de Oliveira, afirmou à RBS TV que ainda não teve acesso aos documentos da investigação, mas que vai provar “a inocência tanto da empresa quanto do Leandro e do César”. Ele disse, ainda, ter certeza que a acusação é “improcedente”.
São cumpridas 534 medidas judiciais entre mandados de prisão, busca e apreensão no Brasil e no Paraguai, além do bloqueio de contas e sequestro de patrimônio. O valor apreendido pode chegar a R$ 3,85 bilhões — montante estimado das transações ilícitas identificadas durante o período da investigação.
Policiais federais e servidores da Receita Federal cumprem 19 mandados de prisão preventiva e 37 mandados de busca e apreensão no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Amazonas e Rondônia, em Assunção, no Paraguai.
Também são feitos sequestros de 87 bens imóveis, 173 veículos e uma aeronave, bloqueios de contas bancárias vinculadas a 147 CPFs e CNPJs, bloqueios de movimentação imobiliária de 66 pessoas físicas e jurídicas e a proibição de expedição de GTAs (Guia de Trânsito Animal) por quatro investigados, totalizando as 534 ordens judiciais.
A investigação que levou à Operação Hinterland teve início em março de 2021, a partir de informações recebidas pela Polícia Federal de que 316 quilos de cocaína haviam sido apreendidos na cidade de Hamburgo, na Alemanha. O material teria partido em dezembro de 2020, do Porto de Rio Grande.
A investigação indicou que a droga produzida na Bolívia era remetida para o Brasil por um fornecedor paraguaio e ingressava no país por Ponta Porã (MS). Posteriormente, a cocaína era transportada em caminhões até o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e armazenada nas próprias empresas da organização criminosa ou em depósitos próximos aos portos de Rio Grande e Itajaí.
A droga era inserida em cargas regulares com a intervenção e coordenação da alta administração das empresas de logística, sem o conhecimento dos contratantes, proprietários das cargas lícitas (normalmente de insumos que poderiam mascarar a droga quando submetida aos controles alfandegários). Já no continente europeu, o grupo comprador do entorpecente, furtava a parte da carga regular que continha a cocaína, para distribuição em diversos países da Europa.
Em dois anos de investigação, foi comprovado que a organização criminosa movimentou 17 toneladas de drogas que tinham como destino a Europa, sendo que 12 toneladas foram apreendidas.
Para a realização da Operação Hinterland, a Polícia Federal celebrou acordos de Cooperação Policial Internacional com a Alemanha e Paraguai, e acordos de Cooperação Jurídica Internacional com a França e a Alemanha, para execução das medidas.
Em entrevista ao programa Atualidade, da Rádio Gaúcha, o diretor-geral da Polícia Federal, delegado Andrei Augusto Passos Rodrigues, comentou a ação:
— É o tipo de operação que sinaliza o perfil que nós desejamos, que são grandes operações enfrentando o tráfico de drogas, o crime organizado, focado na descapitalização, nos grandes traficantes. Hoje, essa operação conta com atuação muito forte da nossa área internacional, isso faz parte da reestruturação da Polícia Federal.