Em 2020, uma quadrilha gaúcha de assaltantes de bancos planejou roubar fuzis e pistolas do depósito do Instituto-Geral de Perícias (IGP) em Porto Alegre. Como o líder do grupo foi detido, o plano não foi adiante, mas a Polícia Civil descobriu que, nos últimos meses, este mesmo grupo criminoso voltou a se articular para esta ação.
Para evitar que o plano fosse executado, a Delegacia de Roubos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) reuniu nesta terça-feira 90 agentes para cumprir 19 mandados de busca e apreensão em São Leopoldo, Canoas e Torres, além de Taquara, onde um helicóptero dará apoio às buscas em um sítio.
Até por volta de 8h, seis suspeitos foram presos em flagrante por porte ilegal de arma de fogo em Taquara. Sete armas foram apreendidas. A polícia não divulgou os nomes dos presos.
O objetivo é buscar mais provas contra os investigados que serão responsabilizados em um inquérito conduzido pelo delegado João Paulo de Abreu. Segundo ele, também há ordens judiciais cumpridas em Santa Catarina, Paraná e São Paulo, onde são investigadas ações de lavagem de dinheiro.
O grupo teria ao menos 12 laranjas cujas contas bancárias seriam utilizadas, além da aquisição de bens e realização de investimentos. O valor movimentado pela quadrilha é estimado em R$ 44 milhões.
De acordo com Abreu, o líder do esquema criminoso é um homem de 33 anos de idade, que foi detido em 2012 por ataques a agências bancárias. O suspeito também esteve envolvido em roubos de veículos e, em 2013, foi preso portando um fuzil em Canoas. Em 2019, foi investigado por lavagem de dinheiro.
O plano
O delegado Abreu, após investigação entre o fim de 2019 e o começo de 2020, apurou que o líder do grupo e pelo menos outros dois ladrões planejaram, na época, usar carros clonados com sinal luminoso no teto, semelhantes aos da polícia, roupas de policiais e entrar no IGP como se fossem agentes. Depois disso, renderiam funcionários do órgão e iriam até o depósito de armas apreendidas para perícia.
Com a prisão do responsável por organizar o roubo, o grupo desistiu da ideia temporariamente. O criminoso foi detido por roubo a banco há cerca de três anos. Ele agora está solto e o Deic descobriu que o plano para atacar o depósito do IGP foi colocado em prática novamente.
— Ocorre que, em data mais recente, através de meios de produção de provas, ratificou-se a suspeita de que, sim, eles estariam articulando nova ação criminosa, dentre eles, o líder do grupo que foi alvo de outras investigações — diz Abreu.
Armas em Taquara
O inquérito da Delegacia de Roubos aponta que armas e drogas poderiam ser guardadas em um sítio na cidade de Taquara, no Vale do Paranhana. Por isso, houve o apoio do helicóptero e de um grupo maior de policiais, caso houvesse algum suspeito armado no local.
O sítio tinha características que chamaram atenção dos agentes. Além de dispor de um lago, com pedalinhos, no local eram criados animais silvestres, como araras e emas, e exóticos, como mini bois.
A polícia também investiga o envolvimento de Centros de Desmanches de Veículos (CDVs) em Taquara com o esquema. O diretor da Divisão de Investigação Criminal do Deic, delegado Eibert Moreira, diz que o líder da quadrilha mantinha contato com responsáveis pelos estabelecimentos.
A suspeita é de que o grupo encaminhava carros roubados aos CDVs, para que fossem clonados. Depois de adulterados, os veículos seriam enviados ao Paraguai e trocados por drogas. O Departamento Estadual de Trânsito (Detran-RS) informou que participa da operação e colabora com as investigações. Todos os CDVs precisam ser credenciados na autarquia.
Lavagem de dinheiro
O acesso a dados sigilosos da quadrilha pelos agentes da Delegacia de Roubos evidenciou, ao longo da investigação, o vínculo dos suspeitos de planejar o roubo ao depósito do IGP com roubos de veículos, a bancos, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.
Os mandados judiciais referentes a bens adquiridos com dinheiro sujo ocorreram em Itaquaquecetuba, Santo André, Praia Grande, Ribeirão Preto e Araçariguama, em São Paulo, além de Canoinhas, em Santa Catarina, e São Mateus do Sul, no Paraná.
O delegado Abreu diz que foram identificados 12 laranjas da organização criminosa que agiam ocultar ou dissimular os ativos financeiros. Segundo ele, desde 2019 houve depósitos fracionados em diversas contas bancárias de pessoas físicas e jurídicas de fora do RS. Em alguns casos, valores foram investidos em empresas criadas pelos suspeitos.
A polícia informa que ainda avalia eventuais pedidos de prisão dos investigados, por isso os nomes dos três suspeitos de planejarem o ataque ao IGP não foram divulgados. Os nomes dos supostos laranjas também não foram revelados porque o inquérito segue em andamento.