Duas professoras e uma estudante foram ameaçadas e verbalmente agredidas por um homem durante uma ação de combate à violência contra as mulheres na última sexta-feira (10). O caso, que aconteceu na cidade de Feliz, no Vale do Caí, é investigado pela Polícia Civil.
Conforme o relato de uma das professoras do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-Rio-Grandense (IFRS) da cidade, que prefere não se identificar, após dois dias de palestras alusivas ao Dia da Mulher na instituição, docentes e estudantes decidiram levar o tema para fora da sala de aula.
Foi então que surgiu a ideia de promover uma exposição com faixas produzidas no ano passado durante uma disciplina de língua espanhola sobre o movimento 8M. O material trazia palavras de ordem e frases pedindo o fim da violência contra as mulheres escritas pelos alunos em espanhol, como “respeto”, “basta de miedo” e “la culpa no es mia”.
A prefeitura autorizou a exposição e duas professoras e uma aluna foram até a Praça Municipal Lidovino Antônio Fanton afixar as faixas. A vítima ouvida pela reportagem relata que por volta de 10h elas perceberam uma voz masculina falando algo relacionado a mortes de mulheres, mas não deram atenção. Foi quando o homem começou a gritar.
— Ele disse: "O que aconteceu? Morreu alguém?" — lembra a docente, recordando que explicou a ele que muitas mulheres morrem em razão da violência doméstica todos os dias.
O homem teria, então, as atacado com discurso de ódio.
— Ele gritou: "Morrem poucas. Tem que morrer muito mais. Principalmente umas comunistas como vocês" — lembra a professora.
A professora conta que ficou assustada no momento. Após a instalação das faixas, ela entrou em contato com o diretor do IFRS da Feliz, com a prefeitura, e foi até a Delegacia de Polícia da cidade. Na DP, ela diz que foi informada que o sistema para registro estava fora do ar na sexta-feira. Por isso, a professora fez um boletim da ocorrência online, com orientação de uma advogada.
— Eu sentei e chorei, porque eu me vi desamparada e sozinha. Mas não era eu quem estava ali, eram todas as mulheres que passam por esse tipo de situação. Fiquei pensando nas mulheres que sofrem violências muito mais graves e precisam procurar a polícia — recorda.
A professora também comenta que a decisão de denunciar o caso ocorreu após uma reflexão a respeito da gravidade do fato e do caráter pedagógico da denúncia.
— A gente normaliza tanto as coisas que nem eu que estou acostumada a lidar com o tema me dei conta de que eu tinha sido agredida. Ficamos dias falando sobre isso na escola, instigando as alunas a denunciarem, falando sobre a importância do tema e por isso decidimos denunciar, mesmo sabendo que há casos mais graves. A gente acha que é só um xingamento, só uma ameaça e vai deixando passar — pontua a professora.
O delegado Marcos Eduardo Pepe é o responsável pela investigação. O suspeito, que segundo relato das vítimas aparentava ter cerca de 50 anos, ainda não foi identificado.
IFRS se manifesta
O IFRS de Feliz publicou uma nota nesta segunda-feira (13), manifestando apoio e solidariedade às professoras e à aluna vítimas de violência (veja abaixo). "Internamente, o campus está prestando apoio psicológico às servidoras e à aluna, bem como orientando a comunidade acadêmica sobre o tema da violência contra a mulher, na expectativa de que, no futuro, situações de agressão como essa não se repitam", diz o comunicado.