De dentro de uma casa, na periferia de Rivera, no Uruguai, foi resgatada na manhã desta quarta-feira (22) uma mulher mantida em cárcere privado. Machucada e amedrontada, segundo a Polícia Civil do RS, a vítima era impedida de sair da moradia. No mesmo local, estavam armazenadas armas e drogas, que pertenceriam a uma facção, com berço em Porto Alegre. O companheiro dela, que já tinha mandado de prisão por homicídio na Capital, foi preso em flagrante. A ação foi desencadeada pelo Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), com apoio da Brigada Militar e da polícia do país vizinho.
O homem, que não teve o nome divulgado, é suspeito de tráfico de drogas, tanto na cidade de Santana do Livramento, na Fronteira, como em Rivera, no lado uruguaio. Em Santana do Livramento, os policiais estavam monitorando os movimentos do foragido, aguardando que ele cruzasse a fronteira, para poder realizar a prisão. Como isso não aconteceu, decidiram entrar em contato com a polícia uruguaia para realizar uma ação conjunta. Assim, na manhã desta quarta-feira, deflagraram a operação, que chegou até a casa do foragido, numa área periférica de Rivera.
O foragido tinha mandado de prisão por um homicídio, ocorrido em 2019, num bar da Capital, onde teria alvejado outro homem com um disparo de arma de fogo. Após a condenação, segundo a polícia, ele fugiu para a Fronteira, onde teria passado a ser responsável por alguns pontos de de vendas de drogas.
Nas redes sociais, o foragido costumava ostentar fotos com drogas e armas, utilizando outro nome. Inclusive, pelas redes sociais, os policiais descobriram que ele chegou a desfilar durante o Carnaval como integrante da bateria de uma escola de samba em Rivera.
Ao mesmo tempo, conforme a investigação, a companheira dele era mantida em cárcere privado, no mesmo local onde eram armazenadas drogas e armas. A vítima foi encontrada machucada e amedrontada, após ser agredida pelo companheiro, segundo a polícia.
— Ela não podia sair de casa, permanecia trancada. Ele bateu bastante nela. Estava com muito medo — explicou a delegada Ana Flávia Leite, da 4ª Delegacia de Investigações do Narcotráfico.
Dentro da casa, os policiais encontraram ainda 1,6 quilo de maconha, 315 gramas de cocaína, 426 gramas de crack, quatro armas de fogo (três revolveres calibre 38 e uma pistola 9 milímetros), além de 205 munições de vários calibres e duas balanças de precisão. Foram encontrados ainda valores em dinheiro de diferentes nacionalidades: R$ 32,7 mil, mais 220 dólares e 5 mil pesos uruguaios. Essas somas teriam sido obtidas, segundo a polícia, com a tele-entrega de drogas. Ainda foi apreendida uma motocicleta, que seria usada nas entregas das drogas.
Outro homem preso
Na mesma Operação Sem Fronteiras, ainda foi preso um segundo homem, do lado brasileiro. Ele é apontado como integrante da mesma facção, com berço no bairro Bom Jesus, na Capital. Com ele, foram encontradas mais duas armas, 64 porções de crack, uma porção de cocaína e nove porções de maconha. A ação, deflagrada pelo Denarc, contou com informações da Brigada Militar, além do apoio da polícia do Uruguai.
Segundo o delegado Carlos Wendt, diretor do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), em junho do ano passado, policiais daqui do RS participaram de um encontro no Uruguai, que permitiu estreitar os laços de cooperação nas investigações.
— Viemos nessa troca de informações entre as polícias e na data de hoje chegamos nesse indivíduo, com extensa ficha criminal, no resgate dessa mulher, e na apreensão dessas armas. Historicamente, o Uruguai é fornecedor de armas para o Brasil. Essas armas poderiam ser encaminhadas aqui para a Capital, para as facções — disse Wendt.
Ainda conforme o delegado, as polícias dos dois lados vêm percebendo uma maior presença de membros de facções gaúchas no país vizinho, o que acendeu alerta.
— Desde que a maconha foi legalizada no Uruguai, houve aumento na demanda. Esses faccionados do Brasil foram para Uruguai para tentar tomar territórios. Inclusive se tornando lideranças dentro dos presídios uruguaios, levando essa experiência que eles têm aqui no Brasil para lá — afirmou.
O foragido, que já tinha antecedentes por cinco homicídios, associação criminosa armada, roubo e tráfico de drogas, foi encaminhado ao sistema prisional do Uruguai. A mulher resgatada foi trazida para o Brasil, onde passou por atendimento.