A exibição de um vídeo com cerca de 30 minutos de duração marcou o início da sessão que julga novamente o médico Leandro Boldrini, réu pela morte do filho Bernardo, ocorrida em 2014. O julgamento foi aberto por volta das 10h30min desta segunda-feira (20), após a formação do Conselho de Sentença, composto por seis homens e uma mulher.
As imagens estão entre as provas apresentadas pelo Ministério Público (MP) e foram gravadas pelo próprio réu — e recuperadas pela investigação após a morte do garoto. Os vídeos mostram Bernardo discutindo com o pai e a madrasta, Graciele Ugulini, e por várias vezes gritando por socorro.
Ao assistir as imagens, Leandro Boldrini baixou a cabeça e se dirigiu aos advogados:
— Eu preciso assistir isso?
Com a resposta negativa, Boldrini deixou o plenário por alguns minutos, mas retornou antes do fim da exibição.
Também foi reproduzida imagem que mostra Bernardo e Leandro discutindo. O vídeo mostra o menino indo até a cozinha da casa para pegar uma faca e apontá-la contra o pai.
O vídeo é uma das principais provas a serem apresentadas pela acusação. O MP sustenta que Boldrini torturava o menino e foi o autor intelectual da morte. Mais cedo, o promotor Miguel Podanosche declarou que não há dúvidas do envolvimento do pai no crime.
— Leandro Boldrini é culpado e vai ser responsabilizado de novo.
O médico está tendo novo julgamento após decisão, de 2021, que anulou a condenação dele a 33 anos e oito meses de prisão. Na ocasião, o Tribunal de Justiça entendeu que o MP violou o direito do réu de permanecer em silêncio.
Relembre o caso
Em 14 de abril de 2014, Bernardo Uglione Boldrini, então com 11 anos, foi encontrado morto, após 10 dias desaparecido. O menino morava com o pai, a madrasta, Graciele Ugulini, e uma meia-irmã, de um ano, no município de Três Passos. O pai chegou a afirmar que o filho havia retornado com a madrasta de uma viagem a Frederico Westphalen, no dia 4 de abril, quando teria dito que passaria o final de semana na casa de um amigo. Bernardo deveria voltar no final da tarde do dia 6, o que não ocorreu.
Após os 10 dias de investigações, foram presos por envolvimento no crime o pai, a madrasta e uma amiga dela, Edelvânia Wirganovicz. Em 10 de maio, foi preso o irmão de Edelvânia, Evandro.
Amigos e pessoas próximas serão testemunhas no segundo julgamento e, assim como no primeiro, devem relatar as lembranças que têm do menino e o que sabem sobre a relação dele com o pai e as condições em que vivia. Elas descrevem Bernardo como um menino meigo, que se envolvia em ações solidárias e com um "coração enorme". Uma criança carente, que buscava afeto nas famílias dos coleguinhas e que costumava "se pendurar" em abraços nas professoras e em quem quer que oferecesse aconchego.
Foi esse menino pacífico e afetuoso que foi dopado, colocado de cócoras dentro de uma cova vertical, com cerca de um metro de profundidade, com o corpo levemente inclinado para o lado direito e envolto por um saco plástico. O matagal onde ele foi enterrado fica na localidade de Linha São Francisco, em Frederico Westphalen.
Bernardo teria sido morto por Graciele, com a ajuda da amiga e do irmão dela. Os três também foram condenados em 2019. O pai seria o mentor intelectual do crime. Além do assassinato, Leandro e Graciele também foram acusados de cometer violência psicológica e humilhação contra o menino, em razão de vídeos e áudios mostrados ao longo do processo.
A situação dos demais réus
- Graciele Ugulini (madrasta) — condenada a 34 anos e sete meses de reclusão em regime inicial fechado, está presa no Presídio Feminino Madre Pelletier com previsão de progressão para o semiaberto em 2026.
- Edelvania Wirganovicz (amiga de Graciele) — condenada a 22 anos e 10 meses de reclusão em regime inicial fechado, cumpre pena no regime semiaberto no Instituto Penal Feminino de Porto Alegre.
- Evandro Wirganovicz (irmão de Edelvania) — condenado a nove anos e seis meses em regime semiaberto e atualmente em liberdade condicional.