Condenado a 33 anos e oito meses de prisão em regime fechado pela morte de Bernardo Uglione Boldrini, o médico Leandro Boldrini, pai do menino, deve ir a novo júri. O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) divulgou, nesta sexta-feira (10), a anulação do julgamento de Boldrini. Apesar da decisão, a prisão preventiva não foi revogada. Atualmente, Leandro cumpre pena na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).
O relator da sessão foi o desembargador Honório Gonçalves da Silva Neto, que decidiu acolher o recurso de Leandro para anular o julgamento devido à conduta do promotor de Justiça durante o interrogatório dele em plenário, no júri.
Em seu voto, o magistrado afirmou que “a acusação, contando com a complacência da magistrada, não se limitou a formular perguntas, senão que, em dado momento (mormente depois de orientado o acusado a não as responder), se valeu da oportunidade da realização de questionamentos, contestando declarações anteriores prestadas pelo réu, fazendo alusão a dados informativos que, no seu entender, as contrariavam, afirmando que esse não falava a verdade”. Para o relator, o promotor de Justiça não realizava perguntas, mas sim argumentações na ocasião do interrogatório de Leandro.
Em 3 de dezembro, a 1ª e 2ª Câmaras Criminais do TJ-RS julgaram os embargos solicitados pelas defesas de dois dos quatro réus que responderam pelo caso, inclusive o pedido de anulação do julgamento de Leandro. Em 2019, ele foi condenado por homicídio qualificado, ocultação de cadáver e falsidade ideológica.
Em nota, o advogado do médico, Ezequiel Vetoretti, disse que recebeu "com serenidade a notícia da declaração da nulidade do julgamento proferida pelo Primeiro Grupo Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul". Contudo, ele sublinha que, por ainda não ter "ciência da extensão do julgamento, aguardaremos a publicação do Acórdão para posterior manifestação".
O júri ocorreu no Foro de Três Passos, no Noroeste do Estado. Além do pai, a madrasta, Graciele Ugulini, uma amiga, Edelvânia Wirganovicz, e o irmão dela, Evandro Wirganovicz, também foram condenados pelo homicídio, ocorrido em 2014. Graciele, Leandro e Evandro ingressaram com recurso de embargos infringentes contra a decisão do 1º Grupo Criminal, em agosto de 2020. Os embargos de Graciele e de Evandro não foram acolhidos.
Ministério Público se manifesta
O Ministério Público estadual (MP-RS) se posicionou contrário à decisão do TJ-RS e deve recorrer . Em nota, o MP disse que "manifesta inconformidade com a decisão e buscará na via recursal aos tribunais superiores a devida reparação."
O caso Bernardo
Em 14 de abril de 2014, aos 11 anos, Bernardo Uglione Boldrini foi encontrado morto, após 10 dias desaparecido. O corpo do menino estava em um matagal, dentro de um saco, enterrado na localidade de Linha São Francisco, em Frederico Westphalen.
Bernardo morava com o pai, a madrasta e uma meia-irmã, de um ano, no município de Três Passos. O pai chegou a afirmar que o garoto havia retornado com a madrasta de uma viagem a Frederico Westphalen, no dia 4, quando teria dito que passaria o final de semana na casa de um amigo.
O menino deveria voltar no final da tarde do dia 6, o que não ocorreu. Após os 10 dias de investigações, foram presos o pai, a madrasta e uma amiga dela. Em 10 de maio foi preso o irmão de Edelvânia.