Uma sequência de revides entre dois grupos criminosos de Porto Alegre estaria por trás do ataque a tiros que deixou três mortos na semana passada na Zona Norte. A estratégia de ingressar na área da facção rival e desferir disparos em quem estiver pela frente seria uma forma de confronto e tentativa intimidação.
No meio disso, três homens, que não teriam qualquer relação com o crime, foram assassinados a tiros somente porque estavam naquele local. Uma quarta pessoa ainda ficou baleada no ataque e precisou receber atendimento médico.
No início da noite de quinta-feira (29), três clientes estavam em um bar e minimercado na Rua Doutor Alberto Barbosa, no bairro Vila Jardim, quando teve início o tiroteio. Sérgio Manoel Rosa dos Santos, 63 anos, que morava na região, estava sentado em frente ao estabelecimento quando foi alvejado. Paulo Roberto de Bairros, 62, também cliente, tinha estacionado seu táxi perto do acesso ao local. Ele foi morto próximo à entrada do bar, no momento em que teria ido verificar o que acontecia.
Além dos dois idosos, ainda foi assassinado William César dos Santos Silveira, 35, que estava no meio da rua quando os criminosos se aproximaram e começaram a atirar. Um quarto rapaz chegou a ser ferido de raspão. Quando foi ouvido pelos policiais, ele contou que estava dentro do minimercado quando ouviu os disparos e se escondeu atrás de um balcão, após ser atingido por um disparo. Os tiros atravessaram os vidros de um veículo que estava em frente ao mercadinho.
As testemunhas não conseguiram indicar com exatidão quantos criminosos efetuaram os disparos. O que se sabe é que eles chegaram em uma Duster e começaram a disparar tanto em direção ao meio da rua como contra o estabelecimento. A perícia deverá apontar qual o calibre das armas utilizadas pelos atiradores, a partir dos estojos de pistola que foram recolhidos. Nenhuma das vítimas tinha antecedentes que indicassem envolvimento com a criminalidade.
Esse cenário leva a polícia a acreditar que o crime tenha sido uma forma de revide contra outros ataques ocorridos em Porto Alegre.
— Acreditamos, num primeiro momento, que o atentado se deve à ação de uma facção sobre a área de outra. Infelizmente, as vítimas restaram mortas por estarem na área da facção rival — diz a delegada Roberta Bertoldo, da 2ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Os envolvidos no ataque seriam de uma facção com berço no bairro Bom Jesus e de outra, que nasceu justamente como oposição a este grupo, formada a partir da coalisão de quadrilhas. Foi justamente no bairro Bom Jesus, na Zona Leste, que duas pessoas foram assassinadas a tiros em frente a uma barbearia em 21 de dezembro.
Os atiradores teriam descido de um veículo e passado a disparar na direção das pessoas. Jacqueline Reges Maciel, 50 anos, que retornava do trabalho, e William Moreira de Oliveira, 22, com antecedentes por tráfico de drogas e furto, foram assassinados no local. Outras quatro pessoas ficaram feridas.
Na semana passada, na noite de quarta-feira (28), novo ataque foi registrado, no Jardim Itú-Sabará. O caso aconteceu por volta das 20h na Rua Carlos Salzano Vieira da Cunha. Um grupo chegou ao local num veículo e passou a disparar contra pessoas que estavam em um armazém. Um jovem de 19 anos e um homem de 50 anos foram assassinados.
Um terceiro homem, de 48 anos, foi atingido com um tiro na perna e foi encaminhado para atendimento no hospital. A semelhança e proximidade entre os casos leva a polícia a acreditar que o ataque ocorrido na Vila Jardim seja uma represália em razão deste crime.
Veículo roubado
Os criminosos que promoveram o ataque na Vila Jardim teriam utilizado uma Duster que foi apreendida na mesma noite na zona sul de Porto Alegre. O veículo, segundo a Polícia Civil, tinha sido roubado no fim de outubro e atualmente estava com placas clonadas. O assalto aconteceu em Canoas, na Região Metropolitana, no depósito de uma locadora de automóveis. Os criminosos chegaram ao local e renderam uma vigilante. Ao menos seis carros foram roubados na ação, entre eles a Duster.
— Provavelmente, roubaram os carros e deixaram guardados até serem usados em crimes — diz a delegada Roberta.
A polícia está em busca de relatos de testemunhas e também imagens de câmeras de segurança, que auxiliem a chegar aos nomes dos envolvidos no ataque. O intuito é apontar também quem são os mandantes desses ataques e revides. Assim como em outras investigações, a suspeita é de que as ordens estejam partindo de dentro do sistema prisional.
Em setembro deste ano, como forma de frear outra onda de homicídios na Capital, 13 presos foram transferidos para penitenciárias federais fora do Estado. Não se descarta que essa possa ser uma medida empregada novamente.
Colabore
Quem tiver informações que possam contribuir com a investigação deve entrar em contato com a Polícia Civil pelo telefone 0800-642-0121. É possível fazer isso de forma anônima.