A Polícia Civil registrou 91.308 casos de estelionato no ano passado no Rio Grande do Sul. Isso representa mais de 250 golpes por dia no Estado ou um a cada seis minutos do ano que passou. O indicador praticamente repete a marca de 2021, quando foram registrados 91.568 casos. A variação entre os dois anos é de redução inferior a 0,3%.
As modalidades, conforme a polícia, são diversas. Uma espécie de habilidade utilizada para seduzir com ofertas vantajosas, falsas ameaças e enganar quem estiver despreparado para uma reação à abordagem. Há golpes do falso leilão de automóveis, do aluguel do imóvel que não pertence ao ofertante ou nem mesmo existe, do bilhete de loteria falsificado, da venda de móveis e eletroeletrônicos excessivamente baratos e que jamais serão entregues.
Mais recentemente, entraram em cena golpes dos nudes e do falso encontro romântico, do acesso remoto ao aplicativo de banco, do teleatendimento bancário simulado por falsários e da invasão em conta de rede social para promoção de investimentos que não terão o retorno anunciado.
— Invadiram um perfil que mantenho no Instagram, mudaram senha de acesso e passaram a oferecer por postagens nos stories um tipo de investimento semelhante a uma pirâmide financeira, prometendo ganhos muito altos — conta a juíza do Trabalho, Maria Teresa Vieira da Silva Oliveira.
A abordagem dos criminosos ocorreu em dezembro passado. Eles propunham, utilizando a imagem da magistrada, que as pessoas aplicassem R$ 500 sob a promessa de ganhos superiores em poucos dias.
O perfil mantido por Maria Teresa, intitulado Maletinhas, foi recuperado. Era utilizado para dicas sobre roteiros para viagens possíveis de se fazer acompanhado por crianças, razão do nome. Atualmente, é abastecido com o mesmo tipo de conteúdo e enriquecido com sugestões de leitura e recomendações de oportunidades de acesso a cursos.
Após receber alertas de seguidores que supunham não se tratar de oferta sua, Maria Teresa procurou a polícia e registrou o fato, reavendo o controle da conta na rede social em menos de 24 horas. Não houve registro de prejuízos materiais relacionados ao caso.
— O problema é que a gente se sente impotente ao perder o acesso ao perfil. O receio do uso malicioso da imagem é muito preocupante. Foi uma experiência desgastante. A orientação e a celeridade na atenção da polícia foram muito importantes — descreve a juíza.
Polícia recomenda cautela e observação
Parar por alguns segundos diante da situação e analisar o que está ocorrendo. O que parece ser algo corriqueiro torna-se, muitas vezes, um obstáculo difícil de manejar quando ocorre uma abordagem golpista.
— Sempre digo que um ponto de partida para avaliar uma proposta de negócio ou uma decisão de consumo é agir com cautela e observação. É fundamental desconfiar de propostas demasiadamente vantajosas e jamais ter pressa em uma negociação — explica o delegado Joel Wagner.
Titular Delegacia de Polícia de Proteção ao Consumidor, Wagner atua também na Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos e Defraudações do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
Conforme o delegado, uma das principais características dos estelionatários é a "pressa" nas ações e a "urgência" em obter os valores envolvidos na situação.
— As pessoas devem procurar agir com calma, pedir tempo para checar informações, fazer um telefonema para conferir a fonte da transação. Quando precisar fazer uma transferência, certificar-se de que o beneficiário está correto, buscar fornecedores confiáveis e preferir sites hospedados no Brasil — aconselha.
Wagner indica ainda que as denúncias sobre golpes, inclusive aqueles praticados no meio virtual, podem ser registrados em qualquer Delegacia de Polícia ou pelo sistema Delegacia Online RS.
Pandemia foi divisor de águas
De acordo com o delegado Wagner, com o avanço do comércio e a ampliação das negociações particulares pela via digital, decorrente da modificação na forma das relações ocasionada pela pandemia, houve também uma expansão das formas como o estelionato é praticado.
— A pandemia foi um divisor de águas. Ocorreu uma migração dos golpes, acompanhando o movimento das relações de consumo. Outro fator é a migração de criminosos para este tipo de delito, que incide em penalidades mais brandas que os crimes com ação violenta ou grave ameaça, como é o caso dos assaltos — conta.
Conselhos para evitar ser vítima de golpes
- Golpistas, em geral, oferecem vantagens para atrair a vítima e têm pressa para obter lucro. Fique atento a isso
- Não envie dados pessoais ou cópias de documentos para desconhecidos
- Se estiver acertando qualquer tipo de aluguel, seja por temporada ou permanente, visite o imóvel antes de fechar o negócio
- Na hora de comprar algo pela internet, desconfie se o site só aceitar pagamento por boleto ou transferência, se tiver falhas ou erros na página e se o único contato for por WhatsApp
- Desconfie de publicações na internet que ofereçam serviços e bens por um valor abaixo do preço de mercado
- Não adquira produtos pela internet sem antes se certificar de quem está vendendo. Mesmo que seja um perfil conhecido, só efetue o pagamento após conversar diretamente com a pessoa
- No momento do pagamento, seja por Pix ou transferência, confira se o nome do destinatário é o mesmo do lugar de onde se está adquirindo o produto
- Não repasse códigos recebidos no celular, por exemplo. Essa é uma das principais estratégias usadas para hackear contas no WhatsApp, Instagram e aplicativos de bancos
- Certifique-se de que a pessoa com quem você está conversando, por WhatsApp por exemplo, é ela mesma. Para isso, uma dica é telefonar para a pessoa
- Desconfie de ligações de desconhecidos e nunca repasse informações pessoais
- Durante a venda de item, só entregue o produto após o dinheiro entrar na conta ou receber o valor. Não confie em comprovantes de transferência porque eles podem ser falsificados
- Se tiver um familiar idoso, oriente a pessoa sobre os golpes mais comuns e como se prevenir deles
- Caso seja vítima, registre a ocorrência. É possível utilizar a Delegacia Online. Reúna todas as informações que podem servir como provas, como dados bancários, conversas por mensagens e fotografias