O que parecia ser a solução para o transtorno com a infiltração no telhado se transformou num problema maior para uma moradora da zona norte de Porto Alegre. A idosa, de 75 anos, acredita ter sido vítima do golpe do telhado. Nesse tipo de trapaça, estelionatários oferecem um serviço a um valor e, ao final, cobram um preço diferente do combinado. Intimidadas, as vítimas fazem o pagamento pelo conserto, que, como no caso da aposentada, sequer havia sido realizado.
— Pensei que ia resolver o problema, mas não foi o que aconteceu. Nunca imaginei que era golpe — diz a idosa, que ainda tem no pátio de casa as telhas que os criminosos diziam ter trocado.
O telhado, no entanto, segue sem nenhum reparo, segundo a moradora. Ela conta que estava dentro de casa, preparando o café da manhã, quando ouviu alguém batendo na porta. Quando abriu, encontrou um rapaz, uniformizado, que se apresentou e disse que estava realizando um serviço ao lado. "Estamos trabalhando no vizinho e vimos que a senhora tem um buraco no telhado. Posso resolver. Faço por R$ 650", teria oferecido o homem.
Havia algum tempo que a idosa realmente pensava em fazer o conserto do telhado, que estava provocando infiltrações na moradia. Durante a negociação, o falso prestador de serviço abanou para os vizinhos do lado, que retribuíram o gesto. Mais tarde, ela conversou com os outros moradores e eles relataram que não conheciam o homem e que só responderam ao aceno.
— Isso me deu confiança. Acreditei que eles se conheciam mesmo. Deixei entrar — recorda.
Após o acerto, um outro homem, que alegava ser colega do primeiro, também chegou na moradia. Os dois seguiram até os fundos, onde deveriam acessar o telhado. Um deles mostrou um balde com água para a idosa, alegando que era resultado da infiltração. Chegaram a dizer que também havia ratos no telhado e se ofereceram para fazer a dedetização.
— Em uma hora, estava tudo pronto. Lá nos fundos me mostraram as telhas, que teriam sido trocadas. Mas não vi modificação nenhuma no telhado. Então um deles me disse: "A senhora me deve R$ 3,6 mil" — conta.
A idosa disse que afirmou aos supostos prestadores de serviço não ter esse valor. Ela conta que se sentiu intimidada durante a conversa e resolveu fazer o pagamento. Numa máquina de cartão, fez um débito de R$ 2 mil. Mesmo assim, os dois teriam continuado pressionando a moradora, que, por fim, entregou mais R$ 850 que tinha em casa.
— "Não tenho mais nada", disse pra eles. Eles ainda perguntaram quando poderiam voltar para receber o resto. Senti que corria perigo — afirma.
Do serviço oferecido, restou somente um recibo preenchido a caneta, com o valor de R$ 3,6 mil e o aviso de que faltou R$ 750. Uma das filhas dela tentou entrar em contato com um telefone anotado no papel, mas não conseguiu. As duas registraram o caso na Polícia Civil.
— Fiquei meio triste, porque queria resolver um problema e acabei causando um ainda maior — lamenta a aposentada.
Na última semana, a aposentada recebeu novamente a visita de pessoas oferecendo serviço, dessa vez de poda de árvores. Desconfiada de que poderiam ser as mesmas pessoas, ela recusou e procurou a polícia novamente.
— Disseram que iam podar as goiabeiras, que já tinham acertado. A mãe nem goiabeira tem em casa. Saber que eles voltaram aqui me deixa ainda mais insegura — diz uma das filhas da aposentada.
Outros registros
Na 8ª Delegacia de Polícia, onde o caso está sob investigação, a polícia apura outros crimes semelhantes. O que muda, no entanto, é o serviço oferecido pelos estelionatários para fisgar as vítimas.
— É um golpe que acontece com certa frequência, não necessariamente no telhado. O mais comum é em relação ao jardim. Oferecem um serviço de jardinagem. Mas o mesmo golpe pode se apresentar nos mais variados tipos de serviços. Com relação ao conserto do telhado, aqui é o único caso que temos — afirma a delegada Andrea Magno.
Em todos os casos, os criminosos oferecem um serviço, acertam previamente um valor — normalmente abaixo do mercado —, e ao final cobram outro, muito acima do combinado. As vítimas, muitas vezes, são pessoas idosas, que moram sozinhas em residências.
— No caso do telhado, eles sequer prestam o serviço, já que a vítima na maioria das vezes não tem como verificar isso. Na jardinagem, às vezes prestam o serviço. Muitas vítimas se sentem intimidadas e acabam efetuando o pagamento do valor — explica a delegada.
Em relação ao perfil dos estelionatários, em geral, são pessoas com capacidade de envolver as vítimas no golpe. Com bom papo, apresentam-se como se fossem conhecidos na vizinhança e chegam a usar uniformes para dar mais credibilidade. Os valores cobrados variam em cada caso.
A polícia segue investigando os casos registrados como suspeita de estelionato. Não se descarta, no entanto, que outros crimes possam ter sido praticados como extorsão e furto.
Dicas
- Busque referências e verifique a idoneidade dos prestadores de serviço. Uma forma é ouvir outras pessoas que tenham sido clientes anteriormente. Não confie somente na palavra de quem está oferecendo o serviço
- Converse com outras pessoas, como familiares e vizinhos, antes de contratar o serviço. Outras opiniões podem ajudar a perceber que se trata de um golpe
- Consulte se o preço ofertado está dentro do esperado para aquele serviço. Desconfie ainda mais se o valor estiver abaixo do mercado. Ofertas muito vantajosas costumam ser uma forma de fisgar as vítimas
- Desconfie se o prestador tiver pressa para realizar o serviço e receber o pagamento. Golpistas costumam agir assim para não dar tempo de a vítima perceber a trapaça
- Se contratar algum tipo de serviço, supervisione se está mesmo sendo realizado e não aceite pagar valores acima do combinado
- Se perceber que foi vítima de golpe, procure a polícia imediatamente. É possível registrar o fato pela Delegacia Online ou em alguma delegacia próxima da sua casa
Fonte: Polícia Civil-RS