Pelo sexto mês seguido, o registro de estelionatos teve queda no Rio Grande do Sul. Em novembro deste ano, foram feitas 6.706 ocorrências policiais, o que representa uma leve redução de 3% em relação ao mesmo período no ano passado, que registrou 6.924 casos. Além disso, novembro também foi o mês com menor número de registros de golpes em 2022. Mesmo assim, o número ainda é alto: foram 216 casos por dia no mês passado.
Na comparação com o acumulado no ano, 2022 também tem diminuição nos números. Foram 83.770 boletins de ocorrência entre janeiro e novembro, contra 83.934 no mesmo período de 2021.
Após um período de aumento nos registros entre 2020 e 2021, durante a pandemia de covid-19, a tendência de redução parece se manter. Nos anos em que as pessoas ficaram mais reclusas, os casos aumentaram como consequência do fato de que a maior parte da comunicação passou a ser realizada pela internet, incluindo o pagamento de contas e aquisição de serviços e produtos.
Após esse aumento no número de vítimas de golpes no meio virtual, a população ficou mais consciente, afirma o delegado André Anicet, titular da Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos e Defraudações do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), que também atribui a redução a ações de prevenção e conscientização da polícia (leia mais abaixo).
A despeito da queda nas estatísticas, têm chamado a atenção da polícia dois tipos de golpes em especial. Em um deles, criminosos tentam lograr vítimas se passando pelo diretor-geral do Detran-RS, Marcelo Soletti. Ele conta que, na sexta-feira (16), descobriu um perfil no WhatsApp que oferecia aprovação em provas para retirada da CNH.
O golpista entra em contrato com as vítimas e pede um depósito, afirmando que depois será marcado um encontro entre os dois, no qual serão repassadas orientações sobre como proceder.
— Recebi uma imagem em que mostra o perfil, tem uma foto minha que alguém pegou da internet, meu nome escrito errado. A pessoa oferece aprovação nas provas teóricas e práticas. Tenho conhecimento de que isso já ocorreu com outros diretores do Detran. Infelizmente, as pessoas acabam acreditando — afirma Soletti.
Em outra ação semelhante, ele conta que, em 2020, uma página no Facebook, também com foto e nome de Soletti, oferecia falsos benefícios. O golpista afirmava atuar em um setor do Detran que sequer existe:
— A pessoa oferecia carros que iriam para o leilão do Detran. Usava meu nome para dizer que poderia pegar um veículo do depósito e vender diretamente. Um dia recebi uma ligação, aqui no Detran, de uma pessoa dizendo que estava falando comigo na internet sobre um carro, que queria pegar mais informações, mas eu não estava falando com ninguém sobre isso. Precisei explicar que era um golpe.
Soletti conta que teve de ingressar com uma ação na Justiça para conseguir derrubar a página no Facebook.
Golpe antigo, vítimas novas
Nos últimos meses, um golpe antigo fez novas vítimas e gerou alerta no Detran-RS. Conforme Soletti, o número de vítimas do chamado golpe do leilão falso tem aumentado.
Nestes casos, os golpistas criam sites falsos que se passam pelo oficial do Detran e oferecem veículos, como em um leilão. Depois que a vítima faz algum lance, recebe a informação de que venceu a disputa e um boleto para efetuar o pagamento. Tanto os sites quanto os documentos falsos dos veículos supostamente leiloados são semelhantes aos originais, o que acaba enganando as vítimas.
Como os boletins de casos do tipo são todos registrados junto à polícia como "estelionato", não é possível verificar quantos episódios ocorreram recentemente. Mas, segundo Soletti, as reclamações de pessoas que caíram no golpe têm aumentado nos últimos meses nos canais de comunicação do departamento. Para chamar atenção, o Detran desenvolveu uma campanha contra o golpe do leilão falso nas redes sociais em novembro.
— Já fazemos campanhas para alertar sobre isso há alguns anos. Na pandemia, os relatos de casos se acentuaram muito e, infelizmente, cada dia vem aumentando. Os sites são bem feitos, têm o logo do Detran em todo lugar, nas fotos dos veículos, usam imagens de depósitos credenciados. É muito parecido. A gente recebe ligação de pessoas dizendo que acabaram de comprar um carro e querem tirar alguma dúvida, e acabamos verificando que é golpe — explica Soletti.
O Detran-RS orienta que interessados em participar dos leilões devem se certificar de que estão utilizando o site oficial da autarquia, em que é possível verificar a autenticidade dos eventos, os editais e qual o leiloeiro responsável. O departamento também destaca que os leilões ocorrem apenas nas quartas-feiras. Além disso, os golpistas costumam anunciar automóveis com preços muito abaixo do valor de mercado.
De acordo com a Polícia Civil, há uma dificuldade em remover as páginas do ar porque a maior parte dos sites de leilões falsos são hospedados fora do país.
Ações de prevenção ajudam a explicar baixa nos números
O delegado André Anicet explica que um conjunto de fatores contribuiu para a redução nos casos de estelionato no último semestre. Além de campanhas de conscientização feitas pelas forças de segurança, o trabalho de combate aos golpistas também teria surtido efeito. Um deles foi a operação contra uma quadrilha do RS investigada por clonar cartões de vítimas para comprar alimentos e produtos pela internet, para depois revendê-los. Mais de 200 CPFs foram utilizados em 2,3 mil compras, segundo a Polícia Civil. O grupo criminoso causou um prejuízo estimado em mais de R$ 2 milhões, levados das vítimas aos poucos, em pequenos valores, para não chamar a atenção.
Outro ponto citado pelo delegado é o de subnotificações, quando a pessoa que sofre o golpe não registra o caso na polícia, seja por vergonha ou por acreditar que o valor perdido não será recuperado. Mas há ainda outro "tipo" de subnotificação, diz Anicet:
— Tem os casos em que a pessoa depara com uma tentativa de golpe, como quando recebe e-mail com um boleto, e, já sabendo de casos assim, não faz o pagamento, não clica em links indicados. A pessoa verifica a tentativa, mas apenas ignora, não registra junto à polícia. O episódio acaba não entrando na estatística, o que seria importante mesmo quando o fato não é consumado, para mapeamento.
Dicas para não cair em golpes
- Golpistas, em geral, oferecem vantagens para atrair a vítima e têm pressa para obter lucro. Fique atento;
- Não envie dados pessoais ou cópias de documentos para desconhecidos;
- Se estiver acertando qualquer tipo de aluguel, seja por temporada ou permanente, visite o imóvel antes de fechar o negócio;
- Na hora de comprar algo pela internet, desconfie se o site só aceitar pagamento por boleto ou transferência, se tiver falhas ou erros na página e se o único contato for por WhatsApp;
- Desconfie de publicações na internet que ofereçam serviços e bens por valor abaixo do preço de mercado;
- Não adquira produtos pela internet sem antes se certificar de quem está vendendo. Mesmo que seja um perfil conhecido, só efetue o pagamento após conversar diretamente com a pessoa;
- No momento do pagamento, seja por Pix ou transferência, confira se o nome do destinatário é o mesmo de quem se está adquirindo o produto;
- Não repasse códigos recebidos no celular. Essa é uma das principais estratégias usadas para hackear contas no WhatsApp e no Instagram;
- Certifique-se de que a pessoa com quem você está conversando por WhatsApp, por exemplo, é ela mesma. É possível conferir isso telefonando para o contato;
- Desconfie de ligações de desconhecidos e nunca repasse informações pessoais;
- Durante a venda de algum item, só entregue o produto após o dinheiro entrar na conta ou receber o valor. Não confie em comprovantes de transferência porque eles podem ser falsificados;
- Se tiver um familiar idoso, oriente a pessoa sobre os golpes mais comuns e como se prevenir deles;
- Caso seja vítima, registre a ocorrência. É possível utilizar a Delegacia Online. Reúna todas as informações que podem servir como provas, como dados bancários, conversas por mensagens e fotografias.
Fonte: Polícia Civil do RS