Policiais civis cumprem, nesta quinta-feira (27), cinco mandados de busca e apreensão em Porto Alegre e Viamão contra uma quadrilha investigada por clonar cartões de crédito ou bancários para adquirir alimentos pela internet. Conforme a apuração, o grupo usou mais de 200 CPFs de pessoas em todo país e fez mais de 2,3 mil compras por meio da plataforma iFood (veja, abaixo, o que diz a empresa).
O prejuízo estimado ultrapassa R$ 2 milhões e, segundo a polícia, todos os pedidos foram feitos em pequenos valores para não chamar a atenção das vítimas. Contudo, os mercados parceiros do site ou aplicativo que realiza o serviço de delivery de refeições e produtos alimentícios descobriram a fraude e acionaram as autoridades.
Com a investigação da Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos e Defraudações do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), foi descoberto que os produtos eram revendidos para pequenos comerciantes na Região Metropolitana. Os crimes apurados são receptação, estelionato e falsidade ideológica.
O delegado André Anicet e sua equipe ressaltam que a atuação dos investigados consistia na aquisição de mercadorias via aplicativo na modalidade conhecida como "takeout". Neste caso, o cliente é quem faz a retirada dos produtos junto a um estabelecimento comercial após fazer o pedido pela internet na plataforma do iFood.
— Eles faziam o agendamento de horário e pagamento online por meio de cartões clonados, através de contas criadas na plataforma, e sempre utilizando nomes e CPFs falsos — diz Anicet.
A polícia descobriu que também foram usados CPFs inexistentes em algumas compras. A retirada dos produtos era feita com a apresentação de um código adquirido pelos golpistas como se fossem reais compradores.
Anicet diz que a atuação da quadrilha era sofisticada, conseguindo enganar a plataforma online, as instituições financeiras, os estabelecimentos comerciais e as vítimas que tiveram os números de cartões utilizados. Segundo o delegado, o grupo foi capaz de burlar os sistemas antifraude do iFood e dos bancos responsáveis pelos cartões de crédito.
Investigação
O Deic passou a apurar o caso após alguns supermercados da Capital desconfiarem de vários pedidos de uma determinada pessoa em um curto espaço de tempo — por exemplo, um cliente que nunca havia feito uma compra e, de repente, fez várias em alguns dias e depois desapareceu.
Anicet solicitou imagens de câmeras de segurança de alguns dos estabelecimentos comerciais vítimas do esquema para verificar a retirada de pedidos. Desta forma, a equipe de investigação identificou vários veículos responsáveis pela coleta dos produtos e passou a monitorar as atividades do grupo criminoso, bem como obteve posteriormente os nomes de alguns golpistas.
Um dos locais que é alvo de busca nesta quinta-feira é um depósito no bairro Lomba do Pinheiro, na zona leste da Capital. De acordo com a investigação, o imóvel era o destino inicial dos produtos adquiridos de forma fraudulenta e funcionava como uma espécie de "atacado" para os receptadores.
Anicet ressalta que proprietários de pequenos comércios de várias localidades compravam os alimentos por preços abaixo do valor de mercado. A polícia está fazendo um levantamento de todos os envolvidos: da clonagem de cartões, passando pelo golpe até a receptação.
Por enquanto, os nomes dos quatro investigados não estão sendo divulgados. Um receptador, que também não está tendo nome revelado, já foi identificado. No entanto, Anicet afirma que são dezenas e que eles serão alvos de nova apuração.
Durante as buscas realizadas no depósito e também nas casas dos suspeitos, foram apreendidos computadores, celulares, documentos e produtos provenientes do crime. Foram cumpridos quatro mandados na Capital e um em Viamão.
O Deic disponibiliza telefone e WhatsApp para vítimas que tiveram cartões clonados pelos criminosos e para possíveis estabelecimentos comerciais que tiveram alimentos comprados pelos investigados. Os números são: 0800 510 2828 e (51) 98418 7814.
O que diz o iFood
"A empresa repudia quaisquer desvios de conduta, sejam de consumidores, estabelecimentos ou entregadores. A plataforma segue à disposição das autoridades para colaborar com as investigações, caso necessário."