O auxiliar de enfermagem e acupunturista Daniel Ulmann Rochadel, 43 anos, foi indiciado nesta semana pela Polícia Civil por homicídio qualificado e ocultação de cadáver. Ele é apontado pelo delegado Eric Dutra, de Eldorado do Sul, como autor do assassinato de Alessandra da Silva, 20 anos, que desapareceu no dia 18 de dezembro de 2018.
O suspeito foi preso preventivamente na terça-feira (29), em uma via pública de Gravataí, quando saía do trabalho em um hospital. A prisão foi autorizada pela Justiça porque a polícia conseguiu provas do envolvimento dele no crime, com a quebra de sigilo telefônico, dele e da vítima, e o depoimento de uma testemunha-chave, uma amiga de Alessandra, que entregou mensagens que trocava com ela antes do desaparecimento.
De acordo com o delegado Dutra, havia relatos de agressões, mas uma chantagem pode ter motivado o assassinato: Alessandra dizia não aceitar o fim do relacionamento e ameaçou revelar supostos abusos sexuais que o então namorado cometia contra clientes, durante as sessões de acupuntura que oferecia em consultório próprio. Estas acusações serão tema de dois novos inquéritos policiais.
O corpo de Alessandra nunca foi encontrado. A defesa do indiciado não vai se manifestar no momento.
Testemunha-chave
O caso foi investigado, inicialmente, como desaparecimento, depois que a mãe da vítima registrou ocorrência. Na época, Rochadel depôs como testemunha e negou que tivesse um relacionamento sério com a desaparecida, além de afirmar que estava sem vê-la já vários dias antes do sumiço. Algumas testemunhas ouvidas, por outro lado, disseram que os dois mantinham um relacionamento, que era conturbado, com brigas constantes. Um depoimento da época também indicou que a vítima foi vista pela última vez, antes de desaparecer, justamente com Daniel.
Mais recentemente, o delegado Dutra conseguiu uma testemunha-chave, que mudou o rumo da investigação. Uma amiga e confidente de Alessandra passou para a polícia todas as mensagens que trocou com ela via WhatsApp. O material, segundo o delegado, mostrou que o indiciado ameaçou e agrediu a vítima, tendo havido, inclusive, uma tentativa de enforcamento. Alessandra também relatou para a amiga que Rochadel revelava intimidades do casal para outras pessoas.
A troca de mensagens mostrou ainda, conforme Dutra, que Alessandra sabia de supostos abusos sexuais em sessões de acupuntura e até teria participado de alguns. A amiga disse em depoimento que temia por Alessandra e que chegou a também ser ameaçada pelo suspeito.
Para o delegado, os indícios são de queima de arquivo, porque o casal estaria terminando o relacionamento. Alessandra não aceitava a separação e por isso teria feito ameaças a Rochadel.
— Em uma das mensagens, quando o namorado iria viajar para os Estados Unidos, ela disse a amiga: "Se eu quiser, ele não faz essa viagem porque eu sei de muita coisa da vida dele". Para nós, essa é uma das principais provas do motivo, da queima de arquivo, porque ela ameaçava contar o que sabia dele — revela Dutra.
Quebra de sigilo telefônico
A quebra dos sigilos telefônicos de Daniel Rochadel e de Alessandra também serviu de prova do suposto assassinato e contradisse o primeiro depoimento do suspeito, ainda como testemunha do desaparecimento. Ele afirmou que não tinha contato com a mulher havia dias, mas na data em que ela desapareceu, 18 de dezembro de 2018, os dois conversaram por celular várias vezes.
Inicialmente, Rochadel estava em Gravataí, onde possui residência, e Alessandra em Eldorado do Sul, onde morava. Naquela tarde, no entanto, o suspeito se deslocou para Eldorado e os dois, juntos, retornaram a Gravataí. A movimentação foi comprovada pelas Estações de Rádio Base (ERBs), equipamentos que fazem a conexão entre os telefones celulares e a companhia telefônica.
Depois disso, o telefone dela foi desligado.
— Após o celular dela não ter mais sinal via ERBs, nos causa estranheza o fato de que o dele nunca mais acusou ligação para ela. Ou seja, se um namorado que conversava todos os dias com a namorada, apesar de inicialmente ter dito que não falava com ela há dias antes do desaparecimento, é estranho ele não ligar de volta para saber onde ela estava. Para nós, ele nunca mais ligou porque sabia o que tinha acontecido com ela — explica o delegado.
Novos inquéritos
Quanto aos supostos abusos sexuais, Dutra revela que as mensagens enviadas pela vítima indicam que mulheres eram levadas para o consultório do suspeito, ou até para a casa dele, e depois dopadas. A polícia identificou duas possíveis vítimas, uma mulher e uma adolescente de 13 anos, e confirmou que elas foram dopadas, mas ainda não conseguiu provas dos abusos.
Dois inquéritos foram abertos, para apurar os casos separadamente. A mulher adulta prestou depoimento nesta semana e contou que foi a um jantar na casa do suspeito, acompanhada do marido. Eles teriam sido recebidos por Rochadel e Alessandra. A depoente disse que ela e o companheiro ficaram tontos após tomar uma taça de vinho e acordaram somente no outro dia, sem saber o que ocorreu.
O caso da adolescente é tema de um inquérito, que corre sob sigilo, instaurado em Gravataí. A apuração é de estupro de vulnerável.
Contraponto
Procurados pela reportagem, os advogados Maiara Leal e Alessandro Pessalli, que defendem o indiciado, disseram que não vão se manifestar no momento, porque ainda não tiveram acesso a todo o processo. Eles afirmam que estão com o indiciamento, mas querem verificar toda a investigação, inclusive dos supostos abusos. Eles também aguardam a realização de uma audiência de custódia, marcada para esta sexta-feira (2).